Nem bem se passou um ano do início dos ataques europeus à carne bovina brasileira, eis que surge no mercado um novo ataque contra os produtos verde-amarelo. Desta vez, no entanto, a bola da vez é o frango, alvo de uma campanha de difamação construída nos mesmos moldes da que culminou com o fechamento daquele bloco para o bife tupiniquim. Artigos publicados em jornais, mostrando os “problemas” da ave nacional, estão ganhando espaço na mídia daquele bloco. A última investida foi veiculada no prestigioso jornal britânico The Guardian. Nele, a jornalista Sue Branford, que morou no Brasil de 1970 a 1990, faz uma série de críticas à avicultura nacional. Ela ataca as grandes empresas, citando a Sadia como exemplo, por seu modo de produção, no qual um frango é abatido com 45 dias de vida. Outro argumento é que a indústria avícola brasileira tem se expandido em direção à região amazônica e, nessa parte, ela levanta ao leitor a possibilidade de o frango consumido na Inglaterra ter sido criado em regiões que uma geração atrás eram áreas de floresta tropical. Para finalizar, Sue critica a agroindústria brasileira por fornecer genética a seus integrados, dizimando as raças de aves dos criadores locais que são animais mais resistentes a doenças e com capacidade de sobreviver com menos água e comida, características consideradas pela autora fundamentais em razão das mudanças climáticas que o mundo vem sofrendo.

LOHBAUER: as acusações contra o frango brasileiro são mentirosas e de má-fé

No entanto, o setor avícola nacional se defende. “As acusações são desleais e de má-fé e vêm acontecendo desde 2001”, afirma Christian Lohbauer, diretor-executivo da entidade que representa as indústrias exportadoras de frango (Abef). “O modo de produção usado no Brasil é o mesmo no mundo todo”, diz Ariel Mendes, vice-presidente da União Brasileira de Avicultura (UBA). “A condição dos aviários no Brasil é muito mais natural que na Inglaterra, onde eles são fechados e não permitem o contato do animal com o ambiente externo”, explica José Augusto de Sá, diretor de relações internacionais da Sadia. Para Lohbauer, os ataques são medidas protecionistas, já que o frango brasileiro é muito mais barato do que o produzido em terras européias. “Trata-se de um protecionismo comercial promovido pelos produtores europeus que querem avacalhar o frango brasileiro e alimentado por ONGs que culpam o agronegócio, indiretamente o frango, pela devastação amazônica”, diz.

As acusações à avicultura nacional vêm se repetindo e têm como origem fontes diversas. Um jornal holandês acusou o Brasil de vender frango fresco no mercado holandês. Segundo a publicação, o produto vem congelado do Brasil, é descongelado e vendido como fresco. Um canal de tevê alemão alegou que o frango brasileiro é produzido com substâncias cancerígenas que colocam em risco à saúde pública. Na Suíça, um restaurante traz um asterisco em um dos pratos com a seguinte observação: frango brasileiro que pode conter hormônio em sua produção. Para rebater essas críticas, a Abef, junto com a Agência Brasileira de Promoção à Exportação (Apex), vem promovendo o Projeto Imagem, em que cada uma das acusações é devidamente rebatida.

O fato é que a liderança brasileira na exportação de frangos tem incomodado a UE. Os criadores de lá não conseguem competir com o Brasil, que é auto-suficiente em milho e soja, tem mão-de-obra competente e mais barata, clima ideal, água e escala no mercado interno. “Deixamos de ter uma postura reativa, vamos defender a qualidade da produção brasileira. Se vão proteger o mercado com tarifas e cotas, isso é problema deles, mas eles não podem fazer acusações levianas”, diz Lohbauer. O mercado espera, no entanto, que o caso da carne, que resultou em embargo às exportações brasileiras, sirva de exemplo. “Estamos preparados, conosco a história será diferente”, finaliza o diretor da Abef.