No dia 22 de junho, o indicador de preço do boi gordo, índice criado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), órgão da Esalq/USP, de Piracicaba, no interior de São Paulo, chegou à edição de número cinco mil, equivalente a cinco mil dias de cálculo das cotações da arroba para os animais destinados ao abate e também para o preço do bezerro. O índice Cepea, que nasceu em 1982, é coordenado pelo agrônomo Sérgio De Zen, mestre em economia aplicada. De olho no comportamento das cotações de preços em todo o País, De Zen tem sido categórico em sua previsão de que o mercado do boi gordo para 2015 não será favorável ao pecuarista. “É bom ir pensando em 2016, porque o ano que vem será de aperto geral”, afirma. “Como a atividade é de ciclo longo, todas as decisões atuais vão impactar muito lá na frente.” 

Entre os motivos destacados por De Zen para seu prognóstico sombrio está a seca que assolou várias regiões produtoras de gado neste ano, entre elas os Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Ao mesmo tempo, os termômetros registraram temperaturas improváveis para o período, superiores, em média, a 38 graus centígrados, que mexeram com a economia e os ânimos no campo.“Não sabemos quanto os pecuaristas deixaram de produzir neste ano, mas acho que foi pelo menos uma arroba por cabeça”, diz De Zen. “Isso vai fazer falta no ano que vem.” A escassez de bois para o  abate no primeiro trimestre do ano fez a arroba chegar ao pico de R$ 133, um recorde para o mercado paulista. Mas o maior problema de uma seca é que bagunça o período de concepção das fêmeas, que passam o ano sem reproduzir. Isso significa menos bezerros nascendo no ano que vem e menos bois no merca do dentro de dois anos. “Por isso, mesmo que as contas da fazenda fiquem ainda mais apertadas em 2014, o pecuarista não pode se desfazer de suas matrizes”, diz De Zen. “Elas precisam voltar para a produção.” 

Ao mesmo tempo, o preço da arroba do boi gordo não tem acompanhado a inflação, segundo os estudos do Cepea. Esse descompasso vem descapitalizando o produtor. “O quadro é ruim para o setor, porque pode vir por aí uma safra de quebradeira de produtores”, afirma De Zen. O período entre 2007 e 2012 mostrou preços firmes para o bezerro, com as fases de recria e engorda absorvendo todos os aumentos. Isso aconteceu sistematicamente, mas agora as contas já não fecham. A fase de engorda já não suporta um bezerro muito caro. “Quem comprou bezerro caro no ano passado, achando que a arroba do boi ia a  R$ 140, perdeu dinheiro”, diz. “O mesmo acontece em 2014. Não dá para comprar bezerro a R$ 1 mil porque ele não vai se pagar mais adiante.” O preço do boi não tem acompanhadoa evolução dos índices de inflação no País, medidos pelo IPCA. “Qualquer que seja o novo presidente do País, após as eleições de outubro, ele terá de tomar medidas severas para conter a inflação”, observa De Zen. “A tendência é de que esse descompasso do boi e da inflação se acentue ainda mais.”