Com a escassez de boi no mercado, preços elevados e trabalhando com 50% da capacidade ociosa, os frigoríficos resolveram declarar guerra às exportações de gado vivo. Embora represente apenas 1% do volume de abate brasileiro, esse tipo de negócio vem crescendo a cada ano e o temor da indústria é de que, em médio prazo, a venda para os navios agrave ainda mais a falta de matéria-prima. Em 2003 o Brasil respondia por 0,8% do mercado mundial, e hoje a participação já é de 10%. De acordo com números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em 2007 o volume vendido para os navios foi de 430 mil cabeças, crescimento de 75% em relação a 2006, e somou uma receita de US$ 260 milhões. “É lamentável que, em vez de gerar empregos e exportar produtos com alto valor agregado, estamos exportando o boi vivo. Isso pode impactar em toda a cadeia”, avalia o presidente da Associação Brasileira dos Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar. Uma das soluções defendidas pela indústria seria taxar esses embarques. “Estamos impossibilitados de competir com esse tipo de venda, já que os compradores não pagam os mesmos tributos que nós pagamos”, pondera.

Do outro lado, pecuaristas defendem a exportações para os navios como uma opção de negócio e afirmam que as vendas crescem por serem mais lucrativas. Uma conta que o produtor Carlos Gil conhece bem. Proprietário de uma fazenda de 1.300 hectares, na cidade de Marabá, no sul do Pará, ele possui um rebanho de duas mil cabeças, todas de gado PO, e há pouco mais de um ano descobriu que podia ganhar dinheiro vendendo para os navios, que, segundo o pecuarista, chegam a pagar até R$ 2 a mais na arroba do boi em relação aos frigoríficos. Além de trabalhar com rendimento de carcaça fixo de 52%, algo que os produtores não conseguem com os frigoríficos. “Na hora da pesagem do animal, o frigorífico faz uma limpeza grande e não leva em conta a qualidade do animal.” Hoje, ele comercializa praticamente 100% da sua produção para compradores da Venezuela. “Os frigoríficos reclamam porque agora enfrentam concorrência”, comenta o exportador.

O Pará, aliás, vive um caso emblemático. O Estado responde por 93% das exportações brasileiras de gado em pé e lá essas vendas já respondem por 12% dos abates. Segundo o presidente da Federação de Agricultura do Pará, Carlos Xavier, a venda para o navio se mostra vantajosa na região devido à grande oferta de boi no Estado. São cerca de quetro milhões de cabeças disponíveis para abate por ano. Dessas, os frigoríficos só possuem capacidade para absorver 1,8 milhão. “Como a oferta era grande, a indústria depreciou o preço. Por isso temos uma desvalorização média de 25% no preço da arroba, em relação a São Paulo”, diz