Gestão de cadeia

É o agronegócio que abriga umas das mais longas cadeias de produção já vista. Une áreas de pesquisa para o melhoramento de plantas e genética animal, com empresas de insumos como sementes, fertilizantes e agroquímicos, passando pelas fazendas, que vão gerar a produção a ser processada nas agroindústrias. Delas, saem os produtos que vão atender às necessidades do consumidor. Um bom exemplo é a cana-de-açúcar, que bem cultivada e tratada, passa pela usina até chegar às gôndolas dos supermercados, em forma de açúcar refinado, ou aos postos de combustíveis, em forma de etanol, ou às residências no País, em forma de eletricidade. O exemplo reflete o trabalho da Tereos Açúcar & Energia, subsidiária da cooperativa francesa Tereos, no setor sucroenergético. A empresa promove uma grande integração do campo à cidade, originando três produtos de apenas uma cultura. “Hoje o Brasil é um grande mercado estratégico para a empresa”, diz o engenheiro civil e administrador de empresa Jacyr da Silva Costa Filho, diretor da Região Brasil do grupo Tereos Brasil. “Primamos sempre por um trabalho de qualidade e de longo prazo”. Foi assim que a Tereos se consagrou a campeã em GESTÃO DE CADEIA PRODUTIVA no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2017. Além dela, a cooperativa paranaense Coopavel e a americana Phibro Saúde Animal também foram destaque, ficando em segundo e terceiro lugares, respectivamente.

Com sede na capital paulista e sete usinas na região de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a Tereos processou 19,8 milhões de toneladas de cana na safra 2016/2017. A partir dessa produção a empresa obteve 1,6 milhão de toneladas de açúcar, a terceira maior safra do produto no País. A quantidade sustentaria o consumo anual de açúcar de 13,8% da população brasileira. Também foram obtidos 640 milhões de litros de etanol e uma cogeração de energia elétrica de cerca de um milhão de megawatt por hora. “Investimos muito para chegar aonde chegamos”, diz Costa Filho. Nos últimos dois anos, a empresa investiu R$ 1,2 bilhão na melhoria de plantio de seus 300 hectares de cultivo próprio e no aumento da eficiência de produção de açúcar e etanol nas usinas.

No ano passado, a empresa faturou R$ 3,5 bilhões, 23% a mais do que em 2015. Isso começou no campo. Para obter a melhor cana, a empresa envolve ainda mais os seus 1,2 mil produtores, responsáveis por 10,9 milhões de toneladas, 55% da cana processada pela Tereos. “Constituímos um relacionamento de longo prazo com os produtores”, diz Costa Filho. Em geral, o tempo de permanência de um produtor pode durar até seis anos, o tempo mínimo da cana numa área plantada. A Tereos tem exemplos de produtores que se mantêm firmes na produção desde que o grupo passou a operar no Brasil, há 16 anos. E estão ganhando dinheiro com isso. Nos últimos dez anos, o valor bruto da produção da cana-de-açúcar em São Paulo cresceu a uma taxa anual média de 5,2%, chegando a R$ 31,4 bilhões este ano, segundo o Ministério da Agricultura.

Para estimular ganhos maiores ao produtor, a empresa criou uma diretoria de cadeia de suprimentos. “Isso trouxe uma aproximação maior com esse produtores”, afirma Costa Filho. Aliado a isso, a Tereos faz eventos trimestrais, apresentando ao grupo de agricultores o que há de lançamentos de tecnologia de cultivo e palestras sobre o mercado. Já na ponta do consumidor, a empresa focou no ano passado no plano de qualidade permanente. A empresa implantou o Programa Comportamento do Risco Zero, para monitorar a qualidade de seus produtos tanto na área de açúcares como na de combustíveis. Na safra 2016/2017, houve uma redução no número de reclamações em comparação a 2015/2016. Sem revelar os números absolutos, a empresa afirma que a queda foi de 26%. Além do Brasil, a Tereos, com sede em Lille, na França, está presente em 15 países. É formada por 12 mil produtores cooperados no processamento de beterraba, cana-de-açúcar e cereais, e conta com 49 unidades industriais, empregando e 23 mil pessoas. O faturamento global foi de € 4,8 bilhões.

A Coopavel é outra que desenvolve bastante sua cadeia de produção. Com sede em Cascavel (PR) e integrando 4,8 mil produtores, além de 5,4 mil funcionários, a cooperativa beneficia sementes para o plantio e processa fertilizantes, grãos, rações e carnes de frango e suína, e está antenada com a demanda do mercado. Ela produz cerca de 160 mil toneladas de alimentos anuais. A receita foi de R$ 2,1 bilhões no ano passado, 8% a mais em comparação com 2015. Para Dilvo Grolli, presidente da Coopavel, esse é o resultado de uma cadeia de valor crescente. “Criamos uma integração interessante”, diz. “Ajudamos o produtor a traçar planos para aumentar a renda, agregando mais atividades às propriedades.” Um trabalho que pode dar ganhos adicionais de até R$ 10 mil por mês.

Já na ponta final da cadeia, a cooperativa se prepara para antender os consumidores. Segundo Grolli, a tendência deverá ser aquecida, especialmente, por proteína animal. Hoje a empresa mantém uma linha de centenas de produtos entre peças e cortes de aves e suínos, além de embutidos e alimentos processados, e se prepara para produzir mais. “Queremos aumentar tanto o abate de suínos como o de aves”, diz Grolli. A ideia é sair de 289,6 mil suínos abatidos para chegar a 390 mil no próximo ano. Em aves, a meta de sair de 54 milhões de frangos abatidos para cerca de 60 milhões.

Agregação de valor: o plano de Divo Grolli, presidente da Coopavel, de Cascavel (PR), é auxiliar cada vez mais o produtor na diversificação das atividades nas propriedades. Hoje são 4,8 mil cooperados que têm a oportunidade de adicionar ganhos de cerca de R$ 10 mil por mês (Crédito:Marco Ankosqui / ag. istoe )

GENTE DE VALOR Para a subsidiária da americana Phibro Saúde Animal no País, empresa da área de nutrição animal, é fácil promover uma revolução em sua cadeia. Com sede e fábrica em Guarulhos (SP), além de outra fábrica em Bragança Paulista, também em São Paulo, a empresa não fornece seus produtos diretamente ao pecuarista. Mas chega até ele a partir de outras empresas de rações e suplementação animal, que enriquecem as formulações com a tecnologia da Phibro. São os aditivos alimentares que melhoram o desempenho e a absorção de nutrientes nas dietas de rebanhos de aves, suínos, bovinos, peixes e crustáceos.

Por isso a americana foca em dois pilares: um time funcionários técnicos de cerca de 350 profissionais, entre veterinários e zootecnistas, e programas de gestão para as empresas que consomem a tecnologia da companhia, segundo Maurício Graziani, presidente da Phibro Saúde Animal. “Os objetivos, as estratégias e os valores são por eles transmitidos aos pecuaristas”, diz Graziani. “Tem feito a diferença nos negócios.” No ano passado, a empresa fechou uma receita de R$ 338 milhões, 8,1% a mais perante 2015. Isso se deveu a ações como o Phibro Business Meeting, iniciado desde 2015. O evento reúne os líderes de empresas do setor de nutrição animal, para compartilhar ideias e conceitos para desenvolver o setor de proteína animal. “Reunimos os CEOs para discutimos temas como confiança e reputação no setor”, diz Graziani. No ano passado, a empresa criou o Programa Phibro Educação Executiva. Também voltado, aos líderes de empresas do setor, a iniciativa reuniu cerca de 30 pessoas para uma programação de dois dias, discutindo temas como administração, finanças, gestão de pessoas e marketing.