A colheita do girassol, que começou em junho e deve se estender até o fim deste mês, sinaliza um novo recorde de produção da cultura no País. Pela primeira vez, a área plantada ficou próxima de 145 mil hectares e a produção deverá chegar a 248 mil toneladas, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A quantidade colhida está mais que dobrando, em relação à safra 2012/2013. A produtividade também cresceu, chegando a 1,7 mil quilos, por hectare, incremento de 9,2%. Por ter como produto final um óleo nobre e com demanda garantida pelos fabricantes do setor de alimentos, como as gigantes Pepsico, Nestlé, Bunge e Cargill, quem vem comemorando o avanço da cultura do girassol no campo é a indústria processadora.

Segundo César Borges de Sousa, vice-presidente da Caramuru Alimentos, com sede em Itumbiara (GO) e unidades de processamento de óleos em São Paulo, Mato Grosso e Paraná, o mercado do girassol é crescente no Brasil. “No primeiro semestre de 2014, a demanda foi 12% superior à do ano passado”, diz Borges de Sousa. A Caramuru, que no ano passado ficou em primeiro lugar na categoria Óleos Vegetais no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL, fatura cerca de R$ 3 bilhões.

Diariamente, a empresa processa um total de 8,6 mil toneladas de grãos, incluindo milho, canola, soja e girassol, que representa 6% de sua produção, o equivalente a 500 toneladas. “O incremento no consumo de óleos especiais tem ficado acima de 15% nos últimos anos”, afirma Borges de Sousa. Para ele, a indústria vem apostando nesse nicho porque há um claro sinal de que o consumidor está mudando seus hábitos alimentares em busca de alternativas mais saudáveis. No caso do girassol, seu óleo é preferido por conter mais ácidos graxos, que reduzem o chamado colesterol ruim no organismo humano.

O Centro-Oeste tem sido peça fundamental para o salto da produção de girassol no País. Em Mato Grosso, o principal produtor do grão, a colheita está rendendo 219 mil toneladas, 150% a mais que na colheita anterior, o equivalente a 80% da safra nacional. A área plantada mais que dobrou, passando para os atuais 126 mil hectares. No Sudeste, que é o segundo polo produtor, Minas Gerais registrou o aumento mais significativo da região, passando de 13 mil toneladas para as atuais 17 mil toneladas. De acordo com o agricultor Marcelo Silvani, de Uberlândia, proprietário da fazenda Boa Vista, um dos motivos para o crescimento da cultura do girassol em sua região é a proximidade com a indústria processadora. No entanto, para Silvani, que é também produtor de soja, um fator importante é que a cultura do girassol se encaixa bem, assim como o milho, na chamada safrinha, plantada entre o final de fevereiro e o começo de março, após a colheita da soja. “Com o girassol, temos mais suporte tecnológico nas lavouras”, diz.

O produtor está animado com a cultura do girassol porque atualmente há no mercado sementes melhores, protocolos mais eficientes de controle de pragas e, principalmente, máquinas mais adequadas ao plantio e colheita do grão. “A região tem boas condições para o girassol”, diz Silvani. “E o uso de tecnologia tem sido fundamental para que a lavoura produza mais.” Na Boa Vista, o investimento vem se refletindo positivamente na produtividade. Nesta safra, em 1,2 mil hectares, a previsão é colher uma média de 30 sacas de 60 quilos de grãos por hectare, ante 26 sacas na safra passada, um crescimento de 15%. Na ponta do lápis, os produtores estão obtendo, em média, R$ 65 pela saca de girassol neste ano. Segundo dados do Centro de Pesquisas Econômicas (Cepea/USP), essa cotação é praticamente a mesma apurada na venda da soja. Para o agricultor Thomas David Taylor Peixoto, da Agropecuária Sutal, em Costa Rica (MS), de 2,4 mil hectares, o preço competitivo do girassol é levado em conta, mas o que interessa ao produtor são os benefícios adicionais que a cultura traz para o seu negócio principal, a soja. “O girassol, além de ter demanda de mercado, melhora a estrutura do solo da fazenda para o plantio da soja na safra seguinte”, diz Peixoto. Há 12 anos, em todas as safras, o agricultor separa 800 hectares para o girassol. “Por melhorar as minhas terras, o girassol gera um lucro indireto muito importante. E já não é mais possível abrir mão dele.”