O administrador Lourenço Campo, 51 anos, tem no currículo uma experiência de mais de 30 anos à frente de concorridos leilões da pecuária. Ele calcula que bateu o martelo mais de 100 mil vezes, em eventos por todo o Brasil. “Comecei por acaso, aos 15 anos, e me apaixonei pela profissão”, diz o leiloeiro, que começou a carreira em 1977, trabalhando na organização como funcionário dos primeiros leilões da pecuária no estado de São Paulo, realizados pela paranaense Programa Leilões – ele só começou a bater o martelo a partir de 1987. “No início foi tudo muito difícil”, diz. “A gente tinha de explicar ao pecuarista cada detalhe de como o leilão funcionava e suas vantagens.” Mas, de lá para cá, muita coisa mudou. Desde 1996, Lourenço comanda a Central Leilões, baseada em Araçatuba, um dos principais polos de genética bovina do País. No ano passado, a empresa, que conta com 50 mil compradores cadastrados, promoveu 120 leilões, que arrecadaram R$ 80 milhões para seus clientes.

O empresário foi um dos pioneiros na transformação do formato dos leilões com o objetivo de otimizar o investimento dos pecuaristas e apostou na parceria com a televisão para vender mais. Segundo Lourenço, antigamente os leilões pecavam por misturar raças diferentes para serem arrematadas e por durar vários dias. “Criamos leilões mais especializados, para vender um número maior de animais e com benefícios para incentivar a compra”, diz. “Hoje, 50% das vendas são feitas pela tevê e usamos muito a internet para divulgar os leilões.”

Com a profissionalização, a Central Leilões só fez crescer. A expectativa é realizar 160 leilões neste ano e ultrapassar a casa dos R$ 100 milhões em receitas. Trata-se de um resultado e tanto, mas há algum tempo Lourenço colocou na cabeça que só bater o martelo não basta. Ele quer se firmar como produtor de genética, fazer a diferença na pecuária e unir os seus clientes com o propósito de beneficiar toda a cadeia. Pensando nisso, idealizou a Road in Farm Mapa da Genética, um evento que teve sua segunda edição realizada entre 9 e 13 de julho, em Araçatuba, para fortalecer a imagem da região como difusora do melhoramento genético, onde são produzidos dez mil touros por ano. “O mercado de genética é movido pela confiança. Por isso, o relacionamento é fundamental”, afirma Lourenço. “Todo comprador tem interesse em conhecer o criatório e saber como os animais são produzidos.”

Neste ano, o evento mais que dobrou de tamanho. Participaram 21 criadores, entre eles a agropecuária CFM, Agro Andorinha, Nelore Golias e Fazenda Bonsucesso, que protagonizaram o Road in Farm, com visitações às fazendas e apresentação de rebanhos e tecnologias. Na estreia, em 2012, foram nove participantes. “Esse compartilhamento de informações é bom para os criadores e para os clientes e fortalece o mercado”, diz. “Acredito que o Road in Farm pode crescer ainda mais.” Para o economista da consultoria MB agro, Alexandre Mendonça de Barros, o momento é favorável para falar de genética. “A pecuária brasileira está entrando numa fase de maturidade, com produção e pastagens estáveis”, afirma. No entanto, para ele, as taxas de desfrute ainda são baixas e há muito por fazer para aumentar a produtividade. “O Brasil ainda é carente em genética e nutrição mais científica.” Daniel Biluca, executivo da associação de pecuaristas Conexão Delta G, também vê com bons olhos a união dos pecuaristas da região. “A genética está avançando e Araçatuba tem um papel importante nesse processo, por concentrar grandes criadores focados em animais produtivos.”

Outra faceta que está sendo trabalhada pelo leiloeiro é a atuação por trás da porteira. Desde 2004, ele investe na raça braford, na Fazenda Nova, também em Araçatuba. “Conheci a raça no Rio Grande do Sul e gostei logo de cara”, diz. “Achei um gadão.” Mas, por trás dessa escolha, ele quer evitar um conflito de interesses entre o Lourenço leiloeiro e o Lourenço produtor. “Eu não posso concorrer com os meus clientes. Esse foi também um motivo para escolher o braford”, diz. “Sou o único criador da raça na região.”

Segundo a associação Brasileira de Hereford e Braford, o Brasil possui um rebanho de cerca de 350 mil cabeças de uma raça bimestiça, resultado do cruzamento entre brahma e hereford. Na propriedade de 200 hectares da Fazenda nova, que se somam a outros 180 hectares arrendados, Lourenço mantém um plantel de 250 matrizes e 60 touros de dois anos que estão sendo preparados para venda, avaliados pelo programa de melhoramento da Conexão Delta G. Em 2012, ele realizou o primeiro leilão Fazenda nova e vendeu 100 touros. Neste ano, ele espera ampliar a oferta para 130 animais. “O cruzamento industrial está muito maduro e os pecuaristas estão valorizando cada vez mais a genética”, diz. “Há uma grande demanda por braford e a raça se dá muito bem na região.”

Os negócios envolvem toda a família. Lourenço conta com a ajuda do filho, o zootecnista João Campo, para intensificar a produção e melhorar a seleção dos animais. “Agora, quero multiplicar a genética das minhas vacas de alta avaliação e produzir mais touros”, diz Lourenço. Para João, que trabalha com o pai na Central leilões, o diferencial do plantel é a avaliação genética positiva. “São animais com um biotipo desejado, rústicos, muito adaptados ao calor da nossa região”, diz. “O nosso braford tem boa qualidade de pigmentação, frame moderado e pelo zero.”