Todos a bordo: o empresário Guilherme Blanke planeja modernizar sua empresa, de olho na bolsa

Não são nem oito horas da manhã e o sol já parece estar a pino na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Sentado em uma mesa, à beira da piscina de um hotel, o empresário Guilherme Blanke tenta terminar seu café da manhã, enquanto uma avalanche de ligações em seu celular o impede de degustar os pães e biscoitos colocados em seu prato. Do outro lado da linha estão pequenos e grandes pescadores, redes varejistas e donos de restaurantes, todos querendo, literalmente, vender ou comprar seu peixe.

Um ritmo acelerado, que contrasta com a paisagem praieira do lugar, mas que ajudou o empresário a transformar a Noronha Pescados, que nasceu há 30 anos como uma pequena empresa de uma família de pescadores, em uma das maiores processadoras e distribuidoras de pescados e frutos do mar do Brasil.

Atuando como o elo entre produtores e pontos de venda, a companhia vem crescendo a uma taxa de 25% ao ano e deve alcançar um faturamento de R$ 50 milhões em 2010. Entre tilápias, salmões, atuns, camarões e uma infinidade de espécies, sua empresa processa e vende cerca de seis mil toneladas por ano. Valores significativos em um setor marcado pela informalidade. E, para provar que não quer ser peixe pequeno nesse mercado, Blanke nem pensa em reduzir o ritmo.

Os planos são de aproveitar a maré boa para ampliar os negócios, apostar em novos nichos e avançar em outras regiões do País. Tudo para navegar de vento em popa olhando no horizonte seu objetivo mais audacioso: a bolsa de valores, para onde ele pretende zarpar num futuro próximo. “Em três anos nosso faturamento irá chegar a R$ 100 milhões e a partir daí queremos crescer ainda mais, profissionalizar a gestão e ser a primeira empresa do setor de pescados a abrir capital”, planeja

R$ 50 milhões é quanto a Noronha deve faturar em 2010

Desde o início do ano, o empresário vem costurando uma série de acordos com grandes redes varejistas, como Carrefour, Pão de Açúcar e Walmart, para as quais ele já é fornecedor no Nordeste, para colocar sua marca também nas gôndolas do restante do País. Além disso, uma das grandes apostas está em uma nova linha de pratos prontos, um modelo que ele está importando dos EUA e que pretende lançar ainda este ano. “A ideia é investir cerca de R$ 10 milhões nos próximos três anos para dobrar nossa produção e entrar em novas linhas de produtos”, conta o empresário.

Para conquistar essas grandes redes e levar seu produto para outras fronteiras, o empresário confia no modelo de negócio de sua empresa, que mantém uma grande e variada rede de fornecedores. O peixe que eles processam vem tanto de grandes empresas de pesca profissional como de projetos de aquicultura e pescadores pequenos, espalhados por todo o País.

Com isso, ele garante a quantidade e a variedade de espécies durante boa parte do ano. Entre os parceiros estão os pescadores Wilson Fernandes Vieira e Cícero Cordeiro da Silva, que há quase dez anos criaram a CW, uma empresa de pesca artesanal que desbrava os mares da baía de Brasília Teimosa, na cidade do Recife (PE).

“Hoje contamos com 30 barcos pequenos, que pescam cerca de quatro toneladas por dia”, explica Wilson. Todo o volume é comercializado com a Noronha, o que, segundo Silva, ajudou a dar segurança ao negócio. “A comercialização é um ponto delicado na pesca. Não adianta chegar com o barco cheio de peixe e não ter para quem vender”, ressalta o pescador que garante também estar aproveitado os bons ventos da pesca nordestina.

“Estamos otimistas com o mercado. Estamos ampliando nosso negócio e as vendas têm crescido”, conta.

Já para o empresário Ramiro Comesanã Silveira as águas ainda estão turbulentas. Há 13 anos no Brasil, esse espanhol fundou a Pesqueira Nacional, empresa de pesca oceânica responsável por tirar do mar quase quatro mil toneladas de peixe por ano. Para ele, a burocracia ainda emperra o mercado. “O setor de pesca ainda sofre com a informalidade, com as distorções tributárias e com os altos custos. Não há uma política para esse segmento”, critica. Sob o seu comando estão cerca de dez barcos de médio e grande porte, entre eles o Novo Airiños, um dos maiores barcos pesqueiros da costa brasileira, com capacidade para pescar até 300 toneladas de peixe em pescarias que duram em média 120 dias em mar aberto. “Foi um investimento de 12 milhões de euros. Essa embarcação consegue fazer o processamento do peixe ainda em altomar”, explica Ignácio Piñeiro, capitão do navio.

R$ 10 milhões É o valor que a empresa pretende investir nos próximos três anos

É justamente essa característica que chamou a atenção de Guilherme Blanke, que acredita que beneficiando o peixe ainda fresco se ganha em qualidade e se obtém um outro apelo comercial para seu produto. “Além disso, eles fornecem espécies diversas, como o piraúna, um peixe caribenho com amplo mercado para exportação”, explica o empresário, que não perde tempo na hora de vender seu peixe.

Da água direto para as vitrines

Durante o processamento dos peixes que desembarcavam na Noronha Pescados, um aspecto sempre incomodou Guilherme Blanke: a quantidade de sobras como couros e escamas que iam para o lixo. Para resolver o problema ele recrutou a esposa, Camila Haeckel Blanke, formada em moda, e assim nasceu a Mar e Arte, uma empresa que transforma o couro e as escamas de peixe em artigos de artesanato e moda.

No portfólio estão bolsas, abajures, colares, brincos e enfeites. “Tudo é desenvolvido por nós e feito com couro e escamas de peixe”, revela Camila. Além de resolver o problema, a iniciativa ainda tem um viés social, já que todos os produtos são fabricados pelas esposas dos pescadores, que conseguem uma renda extra com a venda dos objetos.

O curioso é que a Mar e Arte vem se mostrando uma interessante unidade de negócio. “Hoje exportamos grande parte da produção e quase não conseguimos atender à demanda. Já fornecemos até para grifes como Puma, Oskley e Daslu, entre outras”, comemora.