Com a safra brasileira recorde de milho, estimada em 78,4 milhões de toneladas, e as cotações do cereal no mercado interno em queda, a pecuária nacional esperava, no mínimo, ter cacife para aumentar a produção. Afinal de contas, o cereal é o principal item da ração de frangos e bovinos.

Mas a queda nos preços nem sequer ajudou a elevar a margem de lucro. “O setor de carnes vivia um momento de indefinição,  por conta da safra americana de milho”, diz Paulo Molinari, analista de mercado da consultoria Safras & Mercado, do Rio Grande do Sul. “Se a produção aumentasse nos Estados Unidos, as cotações da commodity cairiam; se diminuísse, ficariam estáveis.” No mercado gaúcho, os preços médios da saca de 60 quilos do cereal, que giravam em torno de R$ 33 no ano passado, estão atualmente em R$ 25. No Paraná, houve um recuo de 26%, enquanto em Mato Grosso a queda foi ainda mais expressiva, passando de R$ 19 a saca, em 2012, para R$ 11, neste ano, uma redução de 42%.

Segundo Molinari, com a colheita americana de milho prevista para meados de setembro, o mercado vivia de especulações para identificar se a safra mundial ficaria maior ou não. Com isso, os preços foram caindo aos poucos, e o setor de carnes, que normalmente define a estratégia de ampliar ou não a produção até o final do primeiro semestre do ano, ficou sem ação. “Os avicultores precisaram corrigir os preços em 2012, dado o aumento dos custos”, diz Molinari. “Com a queda das cotações do milho, o valor das aves foi junto.”

Por conta dessa indefinição, a avicultura brasileira deve alojar 14% menos matrizes neste ano. Segundo a União Brasileira de Avicultura (Ubabef), em 2012 foram alojadas 54 milhões de aves e neste ano serão alojadas apenas 46 milhões. Para Francisco Turra, presidente da entidade, a decisão do setor de produzir menos matrizes, que dão origem aos frangos a serem abatidos, também é um reflexo da crise que o setor enfrenta desde o ano passado. “Os produtores brasileiros perderam a margem de lucro e estão ofertando menos animais para tentar equilibrar essa conta”, diz Turra.

O frango vivo é vendido a R$ 2,4, na média em São Paulo – alta de 12% ante os R$ 2,1 do ano anterior. Já o custo de produção está em torno de R$ 2 por animal vivo. Turra acredita que o volume de abates permanecerá igual ao do ano passado, em torno de 12 milhões de toneladas. “Mesmo com a redução das matrizes ainda teremos uma grande produção de aves neste ano”, afirma.

No caso da bovinocultura, a queda nas cotações do milho interferiu na área de confinamento, reduzindo a margem de crescimento do setor. Segundo a Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), a expectativa é de que em 2013 o contingente de gado confinado cresça apenas 4%, passando de 3,4 milhões de animais terminados no cocho, do ano passado, para 3,5 milhões. “Se essa definição sobre o preço do milho tivesse vindo antes, esses números seriam bem maiores”, diz Otávio Celidonio, superintendente do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea).

Um bom exemplo do receio dos confinadores neste ano pode ser visto em Mato Grosso, que deve colher uma safra recorde de 18 milhões de toneladas de milho e esperava ao menos confinar um milhão de animais, em 2013, o que seria um recorde histórico no Estado. No entanto, o primeiro levantamento do Imea, mostrou que apenas 810 mil bois passarão pelo processo intensivo de engorda. No ano passado, o Estado confinou 790 mil animais, num período em que a arroba chegou a R$ 86. “A definição sobre o preço do milho demorou muito a sair”, diz Celidônio. “Com a da arroba nos mesmos níveis do ano passado, os confinadores não quiseram arriscar.”