O que querem as mulheres? E o que querem as mulheres do agro? De modo geral, a diversidade tem sido a tônica do rastro deixado pelos movimentos feministas. Nos anos que antecederam 1932, época em que as brasileiras não podiam votar, o movimento pelo sufrágio universal era a principal bandeira . Passados 87 anos, as demandas pela ampliação dos direitos das mulheres continuam ocorrendo e não apenas aqui. Pautas globais de temas diversos compõem um movimento por igualdade e equidade entre os gêneros, como trabalho, cultura, autonomia e segurança. A onda atual, que não é nova, mas tem se intensificado nos últimos anos, é por poder. No caso, o poder político.

Nos dicionários, a palavra poder tem várias significâncias. No entanto, para o movimento feminista no campo, ela pode ser traduzida como decisão. É esse o tom. As mulheres querem decidir o rumo de seus negócios. Não por acaso, a palavra dá a medida do que ocorre no 4º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, que acontece em São Paulo entre hoje 8/10 e amanhã. São quase 2 mil mulheres em busca de conhecimento sobre governança, planejamento, administração. Elas buscam por instrumentos de educação para influenciar as tomadas de decisão nas propriedades rurais.

Boa parte das mulheres que fazem essa revolução são herdeiras. Porque mesmo com faculdades ou cursos técnicos elas enfrentavam o ostracismo nos cargos ou papeis de decisão dos negócios. E foram à luta com as armas de que dispunham. Não importa o seu tamanho – de grandes fazendas a pequenas propriedades cooperativadas –, as mulheres passaram a tomar conta de pagamentos, de recursos humanos e das burocracias dos papeis. Muitas delas, claro, acumulando as tarefas que já exerciam. É assim que elas vêm, cada vez mais, tomando ciência de como medir desempenho. Confirmando a máxima em gestão, de que somente consegue tomar boas decisões quem mede, as mulheres estão mostrando que têm o poder nas mãos.

Sim, tomando o conjunto das mulheres do campo, elas ainda são exceção. Mas o movimento por poder mostra potencial para ser irreversível. Como ocorreu pelo direito à educação, uma bandeira feminista que passou a ter força somente no século 19. Os Estados Unidos criou em 1837 a primeira universidade para mulheres. Na Europa, elas ganharam esse direito após a 1ª Guerra Mundial. No Brasil, a primeira mulher a receber um diploma universitário foi Rita Lobato Velho Lopes, em 1887. Ela cursou a Faculdade de Medicina da Bahia e puxou uma legião de seguidoras. Desde 2009, até os dias atuais, o número de mulheres que ingressam nos cursos de medicina tem sido maior que o de homens.