DANTAS: negócios rurais ganharam notoriedade após operação da Polícia Federal

Pouco mais de um mês após cerca de 1.200 integrantes do MST invadirem a Fazenda Santa Mônica, do banqueiro Daniel Dantas, na região de Eldorado do Carajás, no sul do Pará, pelo menos 100 pessoas continuavam acampadas no local. A invasão, segundo alguns líderes do movimento, estava programada bem antes da eclosão da operação Satiagraha, da Polícia Federal, em que Dantas se tornou pivô de mais uma disputa com o Planalto Central. Seis anos antes, o dono do Opportunity já travava uma das mais espetaculares batalhas empresariais cujo alvo era o controle da Brasil Telecom.

A invasão do MST nas terras de Dantas veio acompanhada de uma série de denúncias, boatos e informações desencontradas. O procurador-geral do Estado, Ibrahim José Rocha, quer transformar o banqueiro no maior réu do Pará. “É o nosso caso mais emblemático”, diz. Ele argumenta que a Vale está, há anos, tentando concluir a compra de cerca de 100 mil hectares, sem sucesso. “Como pode, em dois anos, o Dantas comprar 500 mil hectares totalmente legalizados?”, questiona.

Os argumentos de Rocha serviram como munição para os Sem-Terra, que pegaram carona no discurso. Segundo a liderança do movimento, boa parte das terras foi comprada de grileiros, portanto, sem a documentação necessária. A Agropecuária Santa Bárbara se defende e diz possuir toda a documentação registrada em cartório. Em nota ela divulgou uma série de informações sobre o caso. Entre elas a explicação da suposta compra de terras “aforadas” do pecuarista Benedito Mutran. Terras aforadas não podem ser vendidas. É uma espécie de direito de uso. Porém, numa explicação mais simples, o ponto pode ser passado adiante. Das seis fazendas envolvidas na celeuma, em duas o processo está concluído e nas outras quatro está em andamento, segundo divulgou a Santa Bárbara.

A própria atuação do MST no Pará toma contornos políticos no atual momento. Uma série de boatos ligados aos negócios agropecuários de Dantas começou a circular quase imediatamente após a detonação da operação da Polícia Federal. Entre eles, o de que haveria desmatamento de áreas na Amazônia Legal para a produção de etanol. Os administradores das fazendas, porém, rechaçam as acusações. “Possuímos, apenas e tão-somente, 24,8 hectares de cana-de-açúcar em suas propriedades no Pará. Essa cana é usada para suplementação alimentar do gado. Além disso, não há, no sul do Pará, nenhuma usina ou destilaria de álcool, o que por si só joga por terra o argumento infundado de fornecimento da cana para produção de etanol”, diz a empresa em nota encaminhada à DINHEIRO RURAL.

Outro ponto polêmico, que suscita dúvidas sobre a motivação do MST, diz respeito à produtividade da terra e ao direito à propriedade. Os invasores argumentam que as fazendas foram compradas com dinheiro sujo e não cumprem a função social. Do outro lado, a empresa afirma serem incabíveis tais acusações, visto que elas não têm fundamentação legal. Além disso, a fazenda possui altos índices de produtividade.

O MST ainda alega que o grupo de Dantas, com seu agressivo avanço na pecuária, contribui para o desmatamento da Amazônia. A Santa Bárbara alega possuir certidão negativa de autos de infração do Ibama. Onde está a verdade? O que se sabe é que o agronegócio entrou, definitivamente, na guerra da contra-informação do difícil jogo do poder.