Banqueiros não são profissionais afeitos a contos de fada, mas a comparação com a história do patinho feio, aqui, é cabível. Durante anos, os bancos consideraram o crédito agrícola uma obrigação a ser evitada. A lacuna deveria ser suprida pelo bom e velho Banco do Brasil (BB). Não mais. Desde o início da década, esses financiamentos imobiliários passaram a ser encarados como um trunfo que subiu para o topo da agenda dos bancos privados. “Emprestar dinheiro para o empresário do agronegócio abre um leque de novas oportunidades”, diz Walmir Segatto, executivo do Santander Brasil responsável pelo setor. “Além de conquistar um cliente de longo prazo, o banco fortalece sua carteira comercial.”

Uma das explicações é a pujança do setor. Ao longo dos últimos 20 anos, o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio só ficou abaixo da média da economia em dois anos, e ainda assim
por conta de quebras de safra, em razão do clima adverso. Na média, o fluxo de dinheiro originário do campo vem crescendo de maneira segura. Os números mostram o interesse inédito da banca. Entre
março de 2013 e março de 2014, o total emprestado pelo Bradesco cresceu 10,7%, avançando de R$ 413,2 bilhões para R$ 457,7 bilhões. Nesse período, o avanço dos financiamentos rurais e agroindustriais foi mais que o dobro e chegou a 24,6%. De algo pouco relevante na carteira de negócios do bancão da Cidade de Deus, os empréstimos para o agronegócio representavam, em março, mais de 5% do total em financiamentos concedidos. “Esses empréstimos vêm crescendo a taxas superiores a 20% ao longo dos últimos anos e deverão manter esse ritmo por algum tempo”, disse Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, ao anunciar os resultados do primeiro trimestre. 

As metas do Santander não ficam atrás. Ao comprar o controle do estatal Banespa, em novembro do ano 2000, o banco espanhol assumiu também um forte participante no agronegócio. Com grande conhecimento do interior paulista, o Banespa, até então controlado pelo governo do Estado de São Paulo, conseguia fazer frente ao BB nos empréstimos aos produtores rurais paulistas. Nos anos que se seguiram, esse movimento perdeu relevância, mas o Santander voltou a colocar essa carteira entre suas prioridades. 

Ao anunciar os resultados de 2013, Jesús Zabalza, principal executivo do Santander, afirmou que a meta para os próximos anos era que essa carteira tivesse 10% de participação nos empréstimos totais, ante os cerca de 4% atuais. No ano passado, a carteira rural avançou 14,7%, subindo de R$ 4,38 bilhões para R$ 5,03 bilhões. A fatia das pessoas físicas avançou 26,7%. “Somando- se R$ 1 bilhão em repasses do BNDES, a carteira total é de R$ 6,2 bilhões”, diz Segatto. 

Mesmo o BB vem exibindo mais apetite. Em março de 2013, seu balanço exibia R$ 110 bilhões em financiamentos para o agronegócio, ou 18,6% de sua carteira total. Doze meses depois, o total desses
empréstimos havia avançado para 21,4% ou R$ 150 bilhões. Segundo Ivan Monteiro, vice-presidente de finanças do BB, o objetivo para a safra 2013/2014 é conceder R$ 70 bilhões em novos empréstimos.
“Estamos bem avançados”, disse Monteiro, em abril, ao anunciar os resultados do primeiro trimestre.

Outro atrativo é servir de chamariz para ampliar e diversificar os negócios com os clientes do campo. “A expansão do crédito rural nos últimos 20 anos moldou a estratégia do BB”, diz Monteiro. “O banco concede um empréstimo para um produtor plantar sua safra, e isso é a porta de entrada para oferecer seguros, previdência, repasses do BNDES e mais uma dezena de produtos que não tínhamos como vender antes.”