No início da noite de 12 de maio, uma sorridente e discreta senhora de cabelos claros, vestida de azul marinho, circulava pelo Salão Leste, uma das salas de cerimônia do Palácio do Planalto, em Brasília. Estava lá como uma das convidadas para a posse dos 24 ministros do presidente Michel Temer, após o afastamento da presidente Dilma Rousseff, na tarde daquele dia. Seu nome? Lúcia Borges Maggi, 84 anos, mãe de Blairo Maggi, um dos maiores produtores rurais do Brasil, senador mato-grossense pelo Partido Progressista (PP-MT) e agora ministro na pasta da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Quando telefonei à minha mãe para falar sobre a possibilidade de ser ministro, já havia aceitado o cargo”, disse Maggi, em entrevista exclusiva concedida à DINHEIRO RURAL. É que na família do novo ministro, ele e as quatro irmãs – Fátima, Rosângela, Marli e Vera – nunca tomam decisões importantes sem que a matriarca lhes dê a sua benção.

decisões importantes sem que a matriarca lhes dê a sua benção. Maggi, que completou 60 anos no dia 29 de maio, disse sim antes de consultá-la porque já sabia qual seria a sentença da mãe: ela diria não, por acreditar que a política ocupa muito tempo da vida do filho, que começou na carreira pública, em 1994, como suplente de senador, foi duas vezes governador de Mato Grosso, eleito em 2002 e 2006, e desde então está no senado. Assim, a opinião de dona Lúcia não é recente. “Por mim, ele parava mesmo”, dizia ela em uma reportagem realizada pela DINHEIRO RURAL em 2012, ano em que o grupo Amaggi completou 35 anos, um colosso que planta, processa, vende e transporta commodities agrícolas, principalmente soja, e que em 2015 faturou R$ 12,7 bilhões (confira na pág. 32 e no site dinheirorural.com.br “O império da família Maggi”). No ano passado, a Amaggi ficou entre os 12 primeiros destaques no ranking AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL, composto por 500 empresas do setor. “Foi a primeira vez que tomei uma decisão sem a aprovação prévia de minha mãe, mas, no fim está tudo certo: ela concordou e torce por mim”, afirma Maggi.


Missão assumida: ao lado do presidente Michel Temer, Maggi assina o termo de sua posse no Ministério da Agricultura e Pecuária

Não é apenas dona Lúcia que torce para que o novo ministro da pasta realize uma administração eficiente à frente do Mapa. Poucas vezes se viu tamanha unanimidade na escolha de um comandante para esse ministério, como nas manifestações logo após o anúncio do nome de Maggi. De imediato, ele ganhou o apoio das federações de Agricultura dos Estados como, por exemplo, a Farsul, do Rio Grande do Sul; a Faeg, de Goiás; a Famasul, de Mato Grosso do Sul, e a Famato, de Mato Grosso. Essas entidades confirmaram a posição da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), entidade que reúne as 27 federações estaduais, nas quais cerca de dois mil sindicatos representam cinco milhões de produtores rurais. “Ele é um ministro identificado com o segmento, profundo conhecedor da área e solidário com as nossas reivindicações e preocupações”, disse João Martins da Silva Júnior, presidente da CNA. Luiz Cláudio Paranhos, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), outra grande entidade do setor, a maior do mundo para as raças zebuínas, disse que o Brasil precisa de um governo que o coloque novamente na rota do desenvolvimento. “Quanto ao Mapa, tenho certeza de que o ministro Maggi fará um bom trabalho. Tem o nosso total apoio.” Também faz coro para elogiar o novo ministro, Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (GVAgro) e presidente do Conselho do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Maggi é o homem certo, no lugar certo e na hora certa”, diz ele. Rodrigues, que foi ministro da pasta entre os anos de 2003 e 2006 – convidado a retornar ao posto em várias ocasiões –, afirma que Maggi possui cinco características essenciais nesse momento de mudança do quadro político pelo qual passa o País. “Ele conhece o agronegócio e os seus problemas, sabe fazer gestão pública, tem bom trânsito no Congresso Nacional, possui uma relação de respeito com Michel Temer e quer ser ministro”, afirma Rodrigues. “Mas Maggi precisa agir rapidamente porque ele tem muitas tarefas, tanto emergenciais como de longo prazo.”


Em cena: “Maggi é o homem certo, no lugar certo e na hora certa”, diz Roberto Rodrigues, da GVAgro

Nas tarefas de curto prazo, a mais urgente delas é realizar os ajustes ainda possíveis para o Plano Agrícola e Pecuário 2016/2017, que começa oficialmente no dia 1o de julho. “No curto prazo, é preciso colocar a equipe do Mapa para trabalhar e não ficar esperando pelo que possa acontecer”, diz Maggi, referindo-se ao prazo do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, previsto em 180 dias. “O produtor precisa saber que pode contar com recursos para planejar e plantar a próxima safra.” O recurso destinado ao ciclo 2016/2017, de R$ 202,8 bilhões de crédito aos produtores rurais, é um recorde para as três áreas a que se destina: custeio, investimento e comércio de produtos agrícolas. Representa 8% acima do valor orçado para a safra 2015/2016, que foi de R$ 187,7 bilhões. Mas os produtores não conseguiram acessar todo esse crédito. Entre julho do ano passado e abril deste ano, apenas R$ 130 bilhões, equivalente a 69% do valor inicialmente previsto chegaram ao campo. “Precisamos destravar o acesso dos produtores ao crédito”, diz o ministro. “Além disso, apenas 40% deles conseguem crédito no País, o restante não sabe o que isso significa.” O Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possui 5,2 milhões de propriedades rurais, ou seja, apenas dois milhões são beneficiados.


“Ele é um ministro identificado com o segmento, um profundo conhecedor da área e solidário” João Martins Silva Júnior, presidente
da CNA

Mas o barulho no setor tem sido outro, apesar das ponderações de Maggi. Desde que colocou os pés no oitavo andar do Bloco D da Esplanada dos Ministérios, onde está o seu gabinete, ele tem recebido insistentes pedidos para que os juros, estabelecidos entre 8,5% e 10% ao ano, na safra 2016/2017, sejam revistos. Na safra anterior, as taxas variaram de 7% a 10,5%. “Tenho dito que, mais do que trabalhar a questão das taxas de juros, precisamos garantir que os recursos orçados sejam cumpridos”, diz Maggi. “Não dá para esperar. O produtor tem o seu tempo. Se não plantar, ele não tem o que fazer.”  Blairo já se reuniu com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e com a equipe da pasta do Planejamento. Meirelles, que foi o presidente do Banco Central entre 2003 e 2011, e nos últimos desenhou a operação do Banco Original, da holding J&F, foi convocado para colocar ordem nas contas públicas do País e espera uma contribuição do setor, com cortes no orçamento do Mapa. Com um rombo previsto de R$ 170 bilhões em 2016, ele tem dito reiteradamente que o governo federal deve trabalhar sobre três tripés: corte de gastos, crescimento econômico e controle da inflação. “Sei que o governo precisa economizar e que a máquina sustentada por ele é muito grande, mas nós vamos conversar sempre”, afirma Maggi. “É difícil pensar na redução do orçamento, apesar de necessária.”

SOCORRO  Maggi tem argumentos, porque o setor do agronegócio enfrenta problemas pontuais que não podem ser deixados de lado. Um deles foi a falta de milho, principal insumo para os produtores de aves e suínos no Sul do País. A cotação do cereal ultrapassou R$ 50 a saca de 60 quilos, ante a média de R$ 28 no ano passado. A outra é o inevitável endividamento de agricultores em vários pontos das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, em função da seca que afetou parte dos produtores de soja e que deve quebrar a safra de milho em cerca de 5,5% no ciclo 2015/2016.

O que é a Amaggi
Grupo da família de Blairo Maggi é uma potência no agronegócio


Por água: o grupo Amaggi investe no setor portuário, principalmente nas rotas de saída pelo Norte do País

No gabinete que passou a ocupar no oitavo andar do Ministério da Agricultura e Pecuária, uma ampla sala com pouco móveis, Blairo Maggi fez uma única modificação, desde que assumiu o cargo de ministro. Na parede oposta à sua mesa, ele pendurou uma foto do pai André Maggi, que faleceu em 2001. O fundador do Grupo Amaggi, que nasceu em Torres (RS) em 1927, construiu um império que no ano passado faturou R$ 12,7 bilhões, 41% acima de 2014 (leia o quadro ao lado). “Nunca tive um chefe que não fosse o meu pai”, diz Maggi. “Mas, pela primeira vez, agora tenho e preciso prestar contas.” Maggi se refere ao presidente Michel Temer, com o qual se reuniu por duas vezes e que lhe deu carta branca para tocar a pasta. E Maggi sabe muito bem o que fazer. Não por acaso, uma das marcas do grupo Amaggi é o protagonismo e a liderança nos negócios. Além do Brasil, a empresa opera em outros cinco países, entre eles Argentina, Paraguai, China, Holanda e Noruega. Assim como o patriarca André Maggi, que fundou uma cidade pensando no desenvolvimento de uma região, no caso Sapezal (MT), a Amaggi não espera pelo governo federal para tomar a frente de projetos que podem ser de interesses que vão além da própria empresa. O mais recente deles é a Ferrogrão, uma ferrovia para o escoamento de grãos, ligando o município de Sinop (MT) a Miritituba, no Pará. O custo está orçado em R$ 11,5 bilhões. Além da Amaggi, estão de olho na obra gigantes do setor, como Cargill, Bunge e Louis Dreyfus Commodities. “Caso o governo abra a concessão e não apareça interessados, com certeza essas empresas assumem a obra”, diz Maggi. “A Ferrogão vai sair do papel.”


Fazendas: sede da Tanguro, em Querência  (MT), uma das seis unidades de produção de soja, milho e algodão da Amaggi

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento, a colheita de milho deve ser de 79,9 milhões de toneladas e a soja, onde se previa um crescimento de 6%, deve se manter no mesmo patamar da safra passada, de 96 milhões de toneladas. Maurício Palma Nogueira, diretor da consultoria Agroconsult, que promove dois eventos anuais de checagem de lavouras e pastos – o Rally da Safra, que percorreu 55 mil quilômetros, e o Rally da Pecuária, com 60 mil quilômetros –, diz que é visível o estrago provocado pela seca. “A previsão da segunda safra de milho, onde a seca pegou em cheio, caiu de 59 milhões de toneladas para 51,7 milhões, ou seja 12,3%”, diz ele. “No caso da pecuária, em algumas áreas faltou até água para o gado.” Maggi passou os primeiros dias de sua gestão mergulhado nessa questão, em vez de gastar o tempo tomando pé da situação da pasta. “Precisamos socorrer esses produtores, para que eles tenham condições de plantar na safra 2016/2017”, afirma o ministro. “A saída é facilitar a renegociação de dívidas e garantir o crédito.”


“O agronegócio possui uma lista imensa de tarefas, das leis trabalhistas ao incentivo financeiro” Gustavo Diniz Junqueira,
presidente da Sociedade Rural Brasileira

Para o agricultor Marcos da Rosa, que no dia 19 de maio assumiu a presidência da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), se Maggi não conseguir quebrar as travas da burocracia para dar mais agilidade às decisões, não haverá outro que consiga. “Maggi tem tomado atitudes que o colocam do lado da produção”, diz Rosa. “Começou, mostrando que há saídas. Logo nos primeiros dias resolveu a falta de milho, levando o governo a desovar seus estoques, esteve no Sul, discutindo com os arrozeiros, e na Bahia, com os produtores de soja e milho.”

FUTURO  No mais, os números do agronegócio mostram a sua força. Ele é o único setor do País que deve ver o seu Produto Interno Bruto (PIB) evoluir. A previsão é da ordem de 2% sobre o valor de R$ 1,2 trilhão, apurados no ano passado, segundo os analistas do Banco Bradesco. Gustavo Diniz Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira, diz que o agronegócio pode ajudar o País a retomar o crescimento rapidamente. “O agronegócio possui uma lista imensa de tarefas, que vai das leis trabalhistas ao incentivo financeiro, mas o mais imediato é produzir.”

É o que os produtores têm feito. As exportações, entre os meses de janeiro e abril, divulgadas pelo Mapa em maio, apontam um crescimento firme do setor. No período, mesmo com a desvalorização da moeda americana de quase 15%, as vendas continuaram em alta. Nos quatro meses, as exportações renderam US$ 28,1 bilhões, 10,2% acima 2015. Com o desempenho, o saldo da balança comercial do setor foi de um superávit de US$ 24 bilhões. Foi o complexo soja, com grãos, óleo e farelo, que liderou as vendas: US$ 9,2 bilhões, ante US$ 7,1 bilhões em 2015. Além da soja, os maiores destaques foram as carnes, com US$ 4,4 bilhões; os  produtos florestais, com US$ 3,3 bilhões; e o açúcar, com US$ 2,7 bilhões.

Os chineses, como têm ocorrido nos últimos anos, foram os que mais compraram desde janeiro: US$ 7,5 bilhões, principalmente em soja. Não por acaso, a primeira viagem internacional de Maggi, marcada para o início deste mês, foi ao país asiático. O projeto era discutir acordos bilaterais e se reunir com autoridades sanitárias para habilitar cerca de 100 frigoríficos de bovinos, suínos e aves. “Queremos mais mercados e por isso vamos intensificar os acordos possíveis”, diz o ministro. “É nisso que vamos apostar.”

As políticas de longo prazo, das quais Maggi faz questão de listar, passam pelo início efetivo desses acordos. O País possui pouquíssimos deles, não mais que 12 casos isolados na América Latina, além de Israel, África e Egito. Esse bloco de países representa apenas 5% do comércio mundial, de acordo as Perspectivas Econômicas Globais, publicadas em janeiro deste ano no relatório do Banco Mundial. Para Rodrigues, da GVAgro, Maggi precisa urgentemente juntar forças com o ministro José Serra, que assumiu a pasta das Relações Exteriores. “O Brasil precisa ir para o ataque”, diz Rodrigues. “O Chile tem mais de 20 acordos bilaterais e o Brasil não tem nenhum.” Ele dá como exemplo o Acordo Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), de livre comércio dos Estados Unidos com outros 11 países dessa região, do qual o Brasil ficou de fora. A estimativa é de que ele elimine cerca de 18 mil tarifas de comércio. “Novos acordos comerciais podem ajudar o produtor, porque eles significam mais renda no seu bolso”, diz o ministro. “Estou indo vender carne do Brasil e vou andar ainda mais.”


Pecuária: “Tenho certeza de que o ministro Maggi fará um excelente trabalho. Tem o nosso total apoio”, diz Luiz Cláudio Paranhos, presidente da ABCZ

Maggi diz que a dependência do Mapa, em relação a outros ministérios para que as demandas dos produtores sejam satisfeitas, não o assusta. “Vou onde for preciso, falo com quem for necessário”, diz. Hoje, várias questões que afetam os produtores estão penduradas em outras instâncias. E ele vai listando: além do comércio internacional, meio ambiente, logística, leis trabalhistas, questões indígenas. De acordo com o ministro, o governo Michel Temer está criando uma estrutura para cuidar de grandes projetos e acelerar o crescimento do País. “Onde precisar, o agronegócio estará presente”, diz Maggi. Feliz na nova missão, e bem humorado, o ministro usou prontamente, a pedido da DINHEIRO RURAL, um chapéu de peão para as fotos que ilustram essa reportagem. Na tradição rural, ele é o símbolo da proteção e da raiz do homem do campo. Ao terminar a sessão de fotos, sentenciou: “o chapéu é meu e vai ficar aqui no ministério.” Arrumou um lugar para ele na única estante de seu gabinete e partiu para o terceiro compromisso daquele dia.

“Eu não teria preocupação em ver estrangeiros como donos de vastas áreas de terra para produzir”
O que pensa o ministro Blairo Maggi sobre temas polêmicos,o peso político do Mapa e a privatização da Embrapa

O ministro da Agricultura e Pecuária, Blairo Maggi, não foge de temas polêmicos. Acostumado com desafios, ele costuma ser claro e direto sobre suas crenças e como implantar, na vida pública, seu jeito de governar. Lições que aprendeu enquanto esteve à frente dos negócios da família e nos embates políticos durante os dois mandatos como governador e senador pelo Estado de Mato Grosso. Confira alguns trechos da entrevista concedida à DINHEIRO RURAL, na qual ele também falou sobre suas escolhas políticas, a privatização da Embrapa e a venda de terras para estrangeiros:

DIHEIRO RURAL – O sr. apoiou os governos de Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Que análise faz sobre essas escolhas?
Blairo Maggi –
Na política, não faço planos no longo prazo. O tempo é curto, é um tempo em que os fatos vão acontecendo e é preciso tomar decisões. Apoiei o presidente Lula nos seus dois mandatos. Enquanto governador de Mato Grosso, era o que eu tinha de fazer. Conseguimos coisas importantes para o Estado, como mais infraestrutura. E apoiei a presidente Dilma até o meio do primeiro mandato. Depois, cortei relações. Agora, ideologicamente, nunca tive simpatia por nenhum dos dois.

RURAL – Por que não foi possível juntar, nesse momento, a agricultura empresarial com a familiar, que na reforma ministerial permaneceu no guarda-chuvas do Desenvolvimento Social e Agrário?
Maggi –
Pelo momento político e eu entendo o motivo de não ter acontecido a fusão. Mas a casa do produtor é o Mapa. É nele que o pequeno, o médio, o grande devem se reunir e buscar as soluções para os seus problemas. Quando vamos fazer uma refeição, não escolhemos um café da manhã que veio da agricultura familiar, de um assentamento de sem-terra ou de um grande produtor. Agora, é claro que o pequeno tem de ser amparado, porque as empresas têm formas de se proteger e produtor que está no campo, trabalhando todos os dias, não tem. Então, se quisermos que ele fique lá, botando alimento na mesa do brasileiro e exportando, nós temos que olhar para ele.

RURAL – Como o sr. se coloca em relação à proposta de privatização da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)?
Maggi –
Eu sempre defendi, enquanto parlamentar, que a Embrapa deveria ter um novo rumo na sua condução. A instituição possui uma imagem muito boa, mas é uma imagem do passado. Não é de agora porque a presença dela no mercado é muito pequena. Eu pretendo, quando começar a mexer com esse segmento, fazer com que haja uma mudança no foco da Embrapa. Por exemplo, as empresas multinacionais buscam soluções para os problemas que a agricultura tem, visando o lucro, obviamente. Eles investem pesado para resolver o problema da mosca branca, por exemplo. Cada uma delas tende a resolver um problema, ganhar mercado com uma dessas pragas. O que observamos é que, com a entrada pesada das biotecnologias, estamos criando um desarranjo na natureza. A Embrapa precisa focar nos desequilíbrios.

RURAL – Como fazer isso?
Maggi –
A segurança alimentar é tarefa da instituição. Não penso que a Embrapa deva competir com as multinacionais, mas ela deve buscar saídas através da pesquisa. Por exemplo de genes e manejo, que tragam custos mais baratos para o produtor. Com safras sucessivas, chegamos a ter durante dez meses do ano alimento para as pragas, lagartas, vírus. Isso porque construímos uma ponte verde para elas.

RURAL – O sr. defende a venda de terras a estrangeiros?
Maggi –
É um assunto delicado e eu tenho algumas preocupações. Meu medo não é pela terra, porque jamais ela irá embora. Está aqui e acabou, sob as nossas regras. Eu não teria nenhuma preocupação em ver estrangeiros como donos de vastas áreas de terra para produzir culturas perenes, como laranja, eucalipto, café e a própria cana-de-açúcar. Porque são atividades que não se pode deixar da noite para o dia. Minha preocupação é com a agricultura rápida, de ciclo de três ou quatro meses, onde grandes fundos de investimento poderiam ser donos.

RURAL – Por que essa distinção?
Maggi –
Porque eles não pensam como um produtor rural, pensam como um investidor. E investidor coloca o seu dinheiro onde há lucro. Imagina nesse momento, se metade da soja e do milho do Brasil estivesse nas mãos de grandes fundos. Com a soja a US$ 7 o bushel na Bolsa de Chicago, eles fazem as contas, chegam à conclusão de que não terão lucro e dizem tchau. Enquanto o produtor rural faz as contas e diz: ‘vou perder dinheiro, mas o que fazer?’. Aí, no ano seguinte, ele planta novamente.