Estrela insubstituível da tradicional ceia de Natal, com uma carne magra, nutritiva e de sabor marcante, o peru será o centro das atenções na Noite Feliz. Mas o que o setor anseia mesmo é que a ave de carne nobre permaneça nas gôndolas dos supermercados durante todo o ano e não apenas no Natal. “Por que não temos o hábito de consumir sobrecoxa e outros cortes de peru?”, indaga José Antonio Ribas, vice-presidente de sustentabilidade da Associação Catarinense de Avicultura (Acav). “Ainda não valorizamos essa carne como os americanos.”

Na posição de terceiro maior produtor de carne de peru do mundo, o Brasil processou 442 mil toneladas no ano passado, ficando atrás dos Estados Unidos, com 2,6 milhões de toneladas, e da União Europeia, com dois milhões de toneladas. Nas exportações, porém, o País ocupou o segundo lugar, com 179 mil toneladas embarcadas no período. Os números voltaram a crescer após uma fase ruim, entre 2009 e 2011, devido à crise econômica internacional, que fez recuar a demanda e as exportações, principalmente para a Europa. A alta no preço dos grãos diminuiu as margens dessa cadeia, já que a ração animal compromete cerca de 70% dos custos e a ave tem um extenso ciclo de produção – enquanto um frango pode ser abatido com 45 dias, o peru pode chegar a 140 dias de vida. Entretanto, no ano passado, o segmento reagiu e é chegada a hora da virada. “Precisamos de uma campanha para difundir o consumo permanente dessa ave nobre e conquistar novos mercados”, diz o presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra. Segundo ele, enquanto o consumo da ave mais popular – o frango – está na casa dos 45 quilos per capita por ano, os brasileiros não chegam a comer um quilo de carne de peru nesse período. “O mercado de perus tem potencial para crescer no Brasil”, diz. Para dar uma guinada no setor, um dos caminhos é diversificar a utilização da matéria-prima. “Temos de produzir mais alimentos processados, usar mais essa carne no recheio de pratos prontos, como a lasanha congelada”, diz Turra. Para Ribas, da Acav, a qualidade da produção brasileira é boa, mas os aviários precisam passar por uma modernização. “Para ganharmos eficiência, a cadeia precisa ser reinventada e definir padrões tecnológicos de produção.”

Além disso, o peru vinha sofrendo com a concorrência de produtos alternativos, como o chester – um tipo de frango com mais carne no peito e coxas – e o pernil natalino. Para enfrentar essa realidade, o perfil do produto também está mudando. Segundo Ribas, o consumidor está buscando aves menores, perus abatidos com cerca de 70 dias e peso de até quatro quilos. “As famílias estão menores, por isso, as aves grandes são cada vez menos procuradas”, afirma. O varejo já vem experimentando essa tendência, segundo o gerente-comercial do Grupo Pão de Açúcar, Luiz Roberto Baruzzi. “A diminuição do tamanho do peru tem como objetivo ter um menor custo por unidade”, diz ele. “É uma estratégia para garantir presença nas ceias, dividindo espaço com as outras proteínas.”

No Brasil, a produção de perus é controlada pela gigante Brasil Foods e pela Seara Brasil, empresa vendida pela Marfrig à JBS, numa operação concluída em outubro. Essas empresas mantêm parcerias com produtores integrados, mas não divulgam quantos atuam especificamente na cadeia de perus e detalhes sobre a produção. Procurada, a JBS informou que a aquisição da Seara ainda é muito recente e que não pode comentar sobre a sua nova empresa, cujos negócios estão sendo analisados. A BRF, que produz peru em Chapecó (SC), Francisco Beltrão (PR), Uberlândia (MG) e Mineiros (GO), não divulga nem mesmo a capacidade das fábricas. “Este é um número estratégico”, afirma o diretor de marketing da BRF, Rodolfo Torello. “No entanto, podemos afirmar que a produção está alinhada à demanda e esperamos aumentar nossas vendas na ordem de 10%.”