Tom Vilsack é o primeiro secretário do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) a ocupar duas vezes o cargo. Comandou a pasta de 2009 a 2017 no governo de Barack Obama e agora como secretário de Joe Biden, recém-eleito presidente americano. Além disso, foi Governador do estado de Iowa, berço do agronegócio americano, por 2 mandatos. Sem dúvidas, toda esta experiência deve contribuir na implementação das mudanças necessárias no setor e nas relações com os principais países clientes, parceiros e concorrentes.

Defensor da genética como principal motor da garantia de alimentos em volume, qualidade a preços adequados, Vilsack fez algo que poucos políticos conseguiram, num país com uma divisão clara de conceitos entre democratas e republicanos. Como Governador, criou uma plataforma de debate contínua (Governors Biotechnology Partnership), reunindo 20 governadores, de ambos os partidos, para, juntamente, tomarem decisões sobre matérias polêmicas, como o avanço da técnica genética no mundo da produção rural e dos alimentos – o que lhe rendeu o reconhecimento de Governador do Ano, em 2001.

Esse perfil “agregador” é relevante para restabelecer um diálogo construtivo com a China e recuperar a confiança dos países europeus, principalmente no que diz respeito aos debates climáticos, produção concluída com a preservação do meio ambiente e o uso intensivo de tecnologia, como GMO – produtos geneticamente modificado. Joe Biden já deixou claro que meio ambiente será uma pauta importante em seu governo. Inclusive, em seu primeiro dia de governo trouxe de volta os Estados Unidos ao Acordo de Paris.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, ainda que sua participação nas exportações esteja reduzindo gradualmente. O grande ponto dessa questão é que Brasil e Estados Unidos, como grandes exportadores agrícolas globais, e diferentemente da percepção comum, são muito mais parceiros na segurança alimentar global do que meros concorrentes diretos. Uma eventual reaproximação americana com a China, tornará o mercado mais competitivo, mas não altera o futuro promissor do agro brasileiro.

O secretário Vilsack provavelmente focará primeiro seus esforços na diminuição dos impactos da pandemia sobre os produtores rurais americanos para, em seguida, negociar com a China e definir o novo código de comportamento nas negociações bi e multilaterais. Devemos, portanto, estar juntos e próximos dos americanos para que a modernização do comércio agrícola mundial tenha o Brasil como protagonista, evitando as práticas de cotas e preferências tarifárias que podem nos tornar menos competitivos, como também exigências ambientais que tenham o objetivo de funcionar como barreiras não tarifárias ao invés de uma preocupação genuína com o planeta. Questões técnicas não podem ser tratadas politicamente como, infelizmente, tem sido a regra nos últimos tempos.

Nessa nova dinâmica internacional, portanto, se quisermos fortalecer a nossa relação com os Estados Unidos e nos mantermos no jogo global, será necessário menos bate boca de botequim e concorrência política e mais disponibilidade do governo e dos líderes do setor em procurar proativamente um diálogo esclarecedor sobre a gestão da produção de alimentos e biocombustíveis. Esta deve se tornar uma prioridade setorial do agro brasileiro.

Em termos concretos, o equilíbrio, a intensificação de conversas e negociações contínuas em diversos escalões e instâncias internacionais e, principalmente, políticas públicas ou privadas modernas, que alinhem eficiência e segurança na produção com a sustentabilidade ambiental, serão fatores decisivos para a direção e implementação, na prática, de acordos e relações comerciais do Brasil, seja com os Estados Unidos, a China, a Ásia ou a Europa.

Poderia ser oportuno, desde já, combinar uma janela de tempo para o novo líder americano conhecer a realidade da nossa agricultura tropical e suas características específicas nos principais biomas do País. Tom Vilsack, bem-vindo ao jogo. Temos muitos desafios e muito trabalho pela frente!

Gustavo Junqueira é secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento de São Paulo