Henrique Oliveira: Swiss Re acredita que a securitização tem espaço para crescer no Brasil

Muito mais do que uma garantia para os produtores rurais, o seguro rural tem sido visto como uma necessária política de Estado. É o que afirma, pelo menos, o diretor-executivo da multinacional suíça Swiss Re, Henrique Oliveira.

A empresa é uma seguradora global, fundada em 1863, operando com escritórios em 20 países. No mês passado, ela apresentou um estudo voltado para o mercado brasileiro.

O trabalho, chamado de “Apostando a fazenda? Riscos agrícolas no Brasil”, tem a intenção de responder a duas questões: qual o modelo ideal para o seguro rural e por que essa modalidade não decola no País.

A securitização rural em terras brasileiras tem um desempenho pífio, segundo dados da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Apenas 7% das lavouras estão cobertas, motivo pelo qual, no entendimento da Swiss Re, as dívidas do setor vêm se avolumando nos últimos anos. “Se o empresário não tem seguro, fica complicado honrar os compromissos no caso de sinistro”, diz Oliveira.

Ao todo, a dívida do setor ultrapassa R$ 30 bilhões. Para Victor Osaki, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/ USP), especialista no assunto, o produtor paga caro por um serviço ruim, que não garante a sua renda.

“O modelo atual não atende às necessidades do campo”, afirma. E esse é o problema que a Swiss Re pretende resolver e crescer no mercado brasileiro. “O PIB agrícola é de R$ 163 bilhões, não se despreza um mercado desses”, afirma Oliveira. A empresa tem a intenção de trazer para o Brasil um modelo de seguro semelhante ao dos Estados Unidos.

Lá, as apólices são realizadas levando-se em conta aspectos como a produtividade média das lavouras ao longo dos anos, o preço praticado na Bolsa de Chicago e algumas variações em relação ao tamanho do sinistro. Ao fim do processo, o agricultor recebe em média 75% da expectativa de renda no momento do plantio – caso venha a sofrer algum tipo de sinistro.

No modelo atual, o produtor recebe em cima dos valores custeados – havendo ainda um teto de R$ 90 mil por contrato. A fórmula pode variar de acordo com o tamanho do prejuízo, mas o conceito é o mesmo em todos os casos.

“O agricultor paga os seus custos e não fica fora do mercado de crédito, porque pagará as contas”, explica Oliveira. Para entender o que pensam os empresários e quais as suas expectativas em relação ao seguro rural foram separados três grupos: grandes produtores, cooperativas e fazendas corporativas, que nada mais são do que as empresas S/A que existem no mercado agrícola.

Entre os grandes fazendeiros 50% responderam que não sabem por que não tomaram nenhuma precaução para prevenir perdas, enquanto 17% comentaram que não existiam modelos de seguro disponíveis. “Isso é realmente um problema no Brasil”, destaca o professor Osaki, da Esalq/Usp.

Segundo ele, um dos principais entraves do mercado de seguro agrícola é a falta de metodologias que quantifiquem adequadamente o risco associado à atividade. O modelo proposto pela Swiss Re ainda não existe no Brasil, mas, segundo Oliveira, as possibilidades são reais.

“Estamos estudando algumas regiões em que seja possível implementar essa modalidade”, explica. Segundo ele, em razão da cultura brasileira, não é possível iniciar operações de seguro de renda em todo o País. “É preciso começar pequeno, para que todos sejam atendidos e a modalidade ganhe credibilidade, caso contrário, será mais um modelo que não dará certo”, define.

Segundo ele, por causa da alta inadimplência, ter uma proteção robusta será necessário para quem desejar tomar crédito. “As instituições financeiras pedirão cada vez mais garantias e essa é a hora de o seguro rural vingar no Brasil”, diz.