Genuinamente de carne: Eloy Tuffi afirma que vai conquistar o paladar do brasileiro com o verdadeiro hambúrguer

Ele é um empresário cheio de manias e a principal delas é fazer negócios sem medo de errar. Há 33 anos, Eloy Tuffi resolveu abrir uma escolinha de computação e a transformou na maior rede de franquias de escolas de tecnologia de informação do Brasil, a Microcamp, que fatura anualmente R$ 240 milhões. Há dez anos, apostou no agronegócio. Comprou e transformou uma fazenda abandonada, no interior de São Paulo, em referência da raça red angus, a Fazenda MC. Juntou um rebanho premiado, investiu em genética de vacas de elite, registrou as marcas angus e red angus para exploração comercial e, em 2007, partiu para a gastronomia, com o primeiro restaurante especializado em carnes nobres deste boi, o Red Angus Beef, em São Paulo. Agora, Tuffi quer encarar outro desafio: duelar com as redes de fast-food McDonald’s e Burguer King e abrir espaço neste mercado com um hambúrguer que ele chama de genuinamente original. “É carne pura, só isso.” Com o investimento inicial de R$ 3 milhões, quantia que ele considera baixa para um objetivo tão ousado, seu plano é estruturar uma rede de franquias para hambúrgueres, o Red Angus Burguer, e, posteriormente, ser fornecedor de carne para a marca, alavancando o mercado da raça.

“Pode apostar que em 2011 o consumidor brasileiro vai conhecer o verdadeiro hambúrguer: de carne, sem água e sem soja”, avisa Tuffi. “Eu já experimentei todo tipo de hambúrguer que tem por aí e garanto que não existe nenhum feito só de carne. Tem uma rede aí que usa até um pozinho químico para o hambúrguer ficar mais saboroso.” Especialista em “testar” a qualidade dos produtos, Tuffi recomenda: “Coloque um hambúrguer comprado no Brasil e outro dos Estados Unidos em duas churrasqueiras diferentes. O brasileiro vai soltar tanta água que vai apagar o fogo. O americano vai ficar assadinho, gordinho.”

Tuffi acredita que enfrentar o McDonald’s e o Burguer King, que chegou ao Brasil pelas mãos do também criador de red angus Luiz Eduardo Batalha, não será tão difícil quanto parece. “Eu quero conquistar o consumidor pelo paladar. Ninguém é bobo de querer continuar comendo hambúrguer misto se pode comer um original.” Seu principal objetivo é buscar parceiros, exatamente como fez com a Microcamp. Embora enxergue o negócio de forma simplificada, ele não revela quais são suas expectativas – nem de faturamento nem do número de franquias que pode vender em um ano.

O sucesso que o hambúrguer de carne de red angus fez fora do Brasil sustenta o otimismo de Tuffi. Em 2002, o Burguer King lançou nos Estados Unidos um hambúrguer de 300 gramas feito desta carne. Hoje, a rede estendeu o lanche para a Inglaterra, Canadá, Espanha e Itália e ele é um dos campeões de vendas. Em 2009, o McDonald’s também entrou neste mercado e lançou, em todas as lanchonetes americanas da rede, o McAngus, que compõe o cardápio no Canadá, na Nova Zelândia, Austrália e Europa. “É uma carne diferenciada, mais macia por causa da gordura entremeada em suas fibras musculares, o que lhe confere um sabor peculiar e único”, explica Batalha. O próprio, com um capital de R$ 20 milhões, enfrentou uma verdadeira luta quando entrou neste segmento, em 2004. “Eu queria acabar com a ditadura do hambúrguer no Brasil e declarei guerra.” O McDonald’s tem interesse em trazer ao Brasil o McAngus, em 2011.

“Eles nos procuraram e já adiantaram que vão incluir o hambúrguer de angus no cardápio”, afirma Juliana Brunelli, gerente da Associação Brasileira dos Criadores de Angus. “Eles também acreditam que o consumidor brasileiro está pronto para um produto de maior valor agregado.”

O Brasil abate, em média, 12 mil animais da raça, com peso médio de 550 quilos. “Hoje, o mercado absorve todas as carnes nobres de angus. É uma carne de valor agregado e o consumidor provou que está disposto a pagar mais pelo produto”, analisa Juliana. “Infelizmente, as partes dianteiras do red angus estão indo para o mercado como carnes comuns e perdem valor. Com a possibilidade de criarmos uma indústria de hambúrgueres, essas partes poderão ser mais bem aproveitadas”, diz Juliana. Para Tuffi, a hambúrgueria só irá incentivar o setor. “Com o mercado de hambúrguer em crescimento, a raça red angus também crescerá e não vai faltar fornecedor.” Atualmente, Tuffi abate por mês cerca de 1,5 mil cabeças para abastecer dois restaurantes. “Pego metade e o resto acabo deixando no frigorífico. É uma judiação, mas eu já vou avisando: Eloy Tuffi e o Angus Burguer chegarão rapidinho.”