O empresário Ricardo Moura

levantou US$ 5 milhões com

a venda de crédito de

carbono. Agora ele aposta no

eucalipto para salvar o mundo

“O Brasil pode fornecer madeira para o mundo e, ainda assim, ser ambientalmente correto”

RICARDO MOURA, sócio do Grupo Plantar RICARDO MOURA, sócio do Grupo Plantar

Assim como manda a tradição mineira, os sócios do Grupo Plantar, sediado em Belo Horizonte, trabalham em silêncio. Sem fazer alarde, eles, que faturam R$ 400 milhões anuais, se transformaram nos maiores produtores mundiais de mudas de eucalipto, com 140 milhões de unidades/ano. Em florestas plantadas, são responsáveis por 25% da silvicultura nacional, com uma área cultivada de 100 mil hectares, além de administrar viveiros para outras empresas, como a gigante Aracruz Celulose. Sem que ninguém soubesse, eles emplacaram um dos cinco primeiros projetos de crédito de carbono do mundo, levantando US$ 5 milhões junto ao Banco Mundial. A operação aconteceu por meio do Fundo Protótipo de Carbono, em 2001, e terminará em 2029. Até agora já foi neutralizado mais de 1,5 milhão de toneladas de carbono. Pela frente ainda há outros 12,8 milhões de toneladas de carbono a serem “zeradas” em 23 mil hectares de florestas plantadas e mais 9,6 mil hectares em matas nativas preservadas. Mas as pretensões do Grupo Plantar vão além. A empresa quer transformar a produção de carvão vegetal em bandeira ecológica para salvar o meio ambiente. A proposta, inclusive, correu nos bastidores da Conferência de Bali, ano passado. A empresa enviou especialistas para mostrar o seu projeto de crédito de carbono e captar mais investidores para projetos futuros. Isso porque a Plantar acredita que a produção de madeira é o negócio do futuro e não há como fugir dessa realidade. “A agropecuária brasileira está em expansão e será necessária uma quantidade incalculável de madeira para cercas, galpões e construções nos próximos anos”, comenta Ricardo Moura, sócio da empresa e gerente da área florestal.

BOM NEGÓCIO: nova variedade de madeira, o amaru, criado pela Plantar, é aposta para abastecer a agropecuária

A SILVICULTURA PODE SER UMA DAS ARMAS CONTRA O DESMATAMENTO INDISCRIMINADO

A perspectiva da silvicultura, na visão da empresa, está entre as melhores opções do agronegócio brasileiro. Isso porque ainda existe uma demanda reprimida muito grande pelo produto. No Brasil, Moura destaca obras de infra-estrutura como o programa Luz para Todos, do governo federal. A Plantar fornecerá um total de 80 mil postes de madeira que serão administrados pelas empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, vencedoras da licitação. “E, saindo do Brasil, ainda temos a China, que necessita de madeira, e a África, que ainda não levou energia elétrica a muitos locais. E o País nem pensa em exportar madeira”, lamenta. Pensando nisso, o grupo desenvolveu uma nova variedade de madeira, chamada amaru, para ganhar novos mercados. Mais resistente que o eucalipto comum, o tronco tem se tornado a coqueluche do mercado por ter praticamente o dobro da vida útil. A “descoberta” é fruto de uma pesquisa de 40 anos, que iniciou com a fundação da empresa. “Temos de procurar saídas tecnológicas para melhorar nosso resultado financeiro”, diz o sócio da Plantar.

Mas, independentemente de quanta tecnologia seja aplicada nas plantações, a empresa acredita que o maior obstáculo a ser vencido é o preconceito. Pechas como a desertificação de áreas e esgotamento de recursos hídricos pesam sobre as florestas de eucalipto. Especialistas, no entanto, rechaçam esse pensamento e afirmam que tudo não passa de lenda, não havendo evidências científicas de que a cultura realmente danifique o meio ambiente. “Isso é uma grande bobagem”, completa Moura. Ele diz que há áreas em que eucaliptos são cultivados há mais de 30 anos e os números só melhoram. “Conseguimos árvores melhores e em menos tempo. Se houvesse prejuízo para o solo, estaríamos com problemas”, afirma.

O empresário Ricardo Moura

levantou US$ 5 milhões com

a venda de crédito de

carbono. Agora ele aposta no

eucalipto para salvar o mundo

Outro argumento do empresário em favor da silvicultura está no refreamento do desmatamento de áreas nativas. Em Minas Gerais, Estado desmatamento ainda faz parte da realidade de muitos grupos que desafiam as leis ambientais. “O carvão vegetal, assim como o etanol e o biodiesel, é um biocombustível, só que sólido, e tem de receber o mesmo status”, avalia Moura. Segundo cálculos do empresário, é possível conter o desmatamento do cerrado com programas de incentivo à silvicultura. Como exemplo, ele cita a própria siderúrgica, que responde por 50% do faturamento do grupo. Com a união do carvão vegetal mais o minério de ferro e outros elementos eles produzem o chamado “green pig iron”, ou “ferro verde” numa tradução livre. Ambientalmente correto, o produto está propiciando outros projetos, igualmente ousados. O principal deles é convencer uma grande montadora a fabricar o primeiro carro neutro em carbono. “Mas, precisaríamos de uma produção muito maior de ferro verde para abastecer essas indústrias”, avalia. Por serem certificadas por organismos internacionais, as florestas plantadas não podem entrar em áreas de mata nativa. “Isso por si só já prova que somos contra o desmatamento”, analisa.

ECOLOGIA: produção de carvão vegetal possibilita a fabricação de “ferro verde”

A venda de Projetos de Crédito de Carbono tendo como base a silvicultura também se tornou uma realidade para a Plantar. Nos próximos anos, essa expertise pode engordar os cofres da empresa. “É a silvicultura, tão criticada no passado, que pode ajudar a salvar o mundo”, define.