Moinhos, massas e pães

No ano passado, o consumo de farinha de trigo no Brasil foi 42,5 quilos por habitante, volume 6,2% acima de 2015. Os 192 moinhos que operam no País processaram 8,3 milhões de toneladas, entre grãos cultivados aqui e importados. Mas esse consumo poderia ser ainda maior. Nos últimos dez anos, a média tem permanecida na casa dos 40 quilos, enquanto nos maiores consumidores mundias, como a Turquia e o Egito, a média está acima de 200 quilos, segundo a Orga­ni­zação das Nações Unidas para Ali­mentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês). Até a Argentina e o Chile consomem mais que o Brasil, países com índices de 160 quilos per capita ao ano.

No País, além do poder aquisitivo ainda baixo da população, que não consegue consumir produtos mais sofisticados, como aqueles feitos a partir do grão duro, nos últimos anos a matéria-prima para as massas em geral, como pães, bolos e macarrão, tem sofrido um ataque constante. O vilão? O glúten, uma associação de duas proteínas presentes no grão e que pode provocar alergias. Mas isso, estatisticamente, em apenas 1% da população, segundo um estudo publicado em 2016 na revista Science Translation. Mesmo assim, para muitos consumidores, o cereal não está mais com a bola toda. “Há uma campanha contra o consumo de glúten, por questões de intolerância, e isso tem gerado muita desinformação”, diz Valnei Vargas Origuela, membro do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) e presidente do Moinho Anaconda. “Temos trabalhado para desmistificar isso e mostrar que o trigo é um alimento importante e nutritivo. Além disso, estamos incentivando o aumento do consumo no País, através de campanhas direcionadas ao varejo.” O trabalho de executivos como Origuela tem como meta manter o setor em crescimento, incluindo, é claro, a empresa que dirige. No Moinho Anaconda, um dos maiores do País, com sede e fábrica na capital paulista, além outra unidade em Curitiba, o processamento anual é de cerca de 420 mil toneladas farinha. Um dos feitos de 2016 foi ampliar em 15% o número de clientes da empresa. Hojes são 8,5 mil, entre eles, indústrias de massas, panificadoras, redes de alimentação e o mercado varejista. A receita da Anaconda foi de R$ 656 milhões no ano passado, 10% a mais do que a de 2015. “Foi um grande salto”, diz Origuela. Pelo desempenho, a empresa se consagrou, mais uma vez, a grande campeã no setor MOINHOS, MASSAS E PÃES no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2017.

O plano da empresa, para continuar crescendo, é afinar cada vez mais a sua logística, garantindo maior velocidade no transporte de mercadorias e de matérias-primas. No ano passado, a maior parte de R$ 15 milhões destinados a investimentos foram para comprar equipamentos de envasamento e estruturas de armazenagem de farinha. “Era uma das coisas que precisávamos melhorar, porque, dentro das fábricas já temos o que existe de melhor no mundo”, diz Origuela. Essa preocupação não acontece por acaso. O moinho precisa fazer um bom aproveitamento das remessas de trigo recebidas, das quais 40% são importadas, sendo a maior parte da Argentina. Os 60% restantes vêm de produtores do Paraná. Para Origuela, é fundamental controlar o estoque de matéria-prima, pois é onde mora o maior custo das despesas da empresa. Em 2016, dos R$ 496,1 milhões gastos, 76,5% foram com a compra de trigo.


Aliás, gerenciar as safras têm sido uma tarefa para todo o setor, e não apenas para a Anaconda. A safra brasileira de trigo foi de 6,7 milhões de toneladas em 2016/2017, com uma alta de 21,5% em comparação com ciclo anterior. No entanto, deve cair para 4,6 milhões de toneladas na safra de 2017/2018, segundo o mais recente levantamento da Companhia Nacional de Abas­teci­mento (Conab). Isso deve representar uma quebra de 32,1% na produção do cereal. Mas nem tudo são dores, porque o setor representa uma das cadeias de grande valor do agronegócio. No Congresso da Abitrigo deste ano, o economista e pesquisador do Centro de Estudos do Agro­negócio da FGV, Felippe Serigatti, apresentou um panorama animador da cadeia agroindustrial do trigo no País. Em 2016, ela gerou R$ 25,3 bilhões no PIB nacional, correspondentes a 350 mil postos de trabalho. “A indústria do trigo é a que gera os melhores salários”, afirma Serigatti. A média é de R$ 2,8 mil mensais, 77,5% acima do que nas demais agroindústrias.