“Só sobrevivo porque tenho uma produção diferenciada, com alto valor agregado”

ANTONIO FORTES, citricultor em Casa Branca (SP)

Cercado por caixas de laranjas, com os pomares a todo vapor e vendendo suas frutas tanto para mercados quanto para as indústrias, o citricultor Antonio Fortes Filho é um caso raro de bons resultados nesse setor. Dono de 250 mil pés, espalhados por três fazendas no interior de São Paulo, Estado que responde por 200 milhões de pés e 90% da produção brasileira, ele, sozinho, é responsável por 5% do volume total: cerca de 10 milhões de caixas por ano. Tais números o colocam entre os principais produtores do País, com produção em grande escala e frutos de mais qualidade. O resultado aparece em vendas diversificadas e contratos melhores. “Direciono meu produto de acordo com o melhor preço”, conta. Diante desse cenário, Fortes até poderia ilustrar um momento positivo para a citricultura. Contudo, sua produção é uma exceção e está longe de refletir a realidade do setor, que vive momentos conturbados, com problemas no preço pago pelas indústrias (ver matéria na página seguinte). Nesse contexto o que se pode afirmar é que Forte é um verdadeiro sobrevivente…

Com a experiência de quem cresceu em meio aos laranjais e há 45 anos toca as propriedades que herdou do pai, seus bons resultados vêm de uma produção com maior valor agregado e tecnologia de ponta. Por meio de sua empresa, a Lima Fortes, ele faz o beneficiamento de cerca de 14 mil caixas por dia. Todas são lavadas e recebem tratamento à base de óleo de palmeira. Isso garante maior tempo de prateleira. Cerca de 60% desse volume é destinado para mercados e o restante é comercializado com as indústrias.

Nos seus pomares a situação também é diferenciada. Numa área de pouco mais de mil hectares, ele implantou um sistema de ferti-irrigação que o ajuda a conseguir uma produtividade de cerca de 60 toneladas por hectare, ante uma média nacional de 25 toneladas. “Tenho também um manejo cuidadoso e controle de gastos para manter um custo de R$ 6 por caixa”. Como reflexo Fortes consegue vender a caixa de seus frutos a R$ 15 em média aos mercados e possui contrato de R$ 10 por caixa com a Citrovita. Tais valores são, respectivamente 200% e 100% acima da média paga aos citricultores.

Mas, segundo o produtor, nem tudo são flores em seu negócio. “Calculo uma quebra de safra de 30% e os preços pagos estão caindo a cada ano”, revela. De acordo com o citricultor em 2007, a média de preço pago pelo mercado era de R$ 25 a caixa e no caso da industria era de R$ 15 a caixa. “As industrias derrubam os preços e os mercados acabam acompanhando essa tendência”, reclama o Fortes, que sempre buscou na diversificação de vendas uma forma de conseguir bons preços. Tanto que há 12 anos ele foi um dos sócios criadores da Suco Rico, uma empresa processadora de suco de laranja, criada por citricultores como alternativa para comercializar seu produto sem passar pelas grandes industrias. O empresário conta que a companhia chegou a processar cerca de 12 milhões de caixa por ano, mas acabou não conseguindo resistir a concorrência do setor. “As grandes empresas se uniam e colocavam o preço muito a baixo do mercado e não havia como concorrer. Há cinco anos acabamos vendendo a empresa para a Citrovita”, lembra. Mesmo com os percalços desse setor, Fortes tem planos de investir na propriedade. Nos planos está a construção de um herbário, para produção de suas próprias mudas. “Sem investimento não se sobrevive”. Palavra de quem conhece.