Cotações das commodities agrícolas, em patamares historicamente altos no mercado internacional, redução no preço dos fertilizantes e, sobretudo, um volume recorde de crédito barato, indicam que a safra de 2014/2015 tem tudo para ser um sucesso de rentabilidade e produtividade para o agronegócio brasileiro, especialmente para os produtores de soja. No mínimo, espera-se que seja superada a meta de 200 milhões de toneladas de grãos, que só não foi alcançada neste ano devido às complicações metereológicas em alguns dos celeiros do País, como nos Estados de Mato Grosso e Paraná. Mesmo assim, os 191,2 milhões de toneladas colhidas, em 2014, representam uma alta de 1,4% sobre 2013, o maior volume já extraído do campo. 

Para que um novo recorde seja batido em termos de volume de produção, não há melhor fertilizante do que o crédito abundante e barato. E foi esse aditivo o principal componente do Plano Agrícola e Pecuário 2014/2015 anunciado com pompa e circunstância no Carolina OMS Palácio do Planalto no dia 20 de maio pela presidenta Dilma Rousseff e pelo ministro da Agricultura, Neri Geller. O plano, que contou com a aprovação da presidente da Confederação Nacional da Agricultura, senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), e das principais lideranças do setor, prevê a oferta de R$ 156,1 bilhões para financiamentos e programas de investimentos, incluindo a construção de armazéns privados. O volume de recursos é 14,7% superior ao do ano passado e, embora a taxa de juros tenha subido um pouco – média de 6,5% –, é inferior à Selic. “Praticamente 100% de nossas demandas foram atendidas”, afirmou a senadora, cuja opinião foi reforçada por Ricardo Tomczyk, vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Brasil (Aprosoja). “É um bom plano. Atende às demandas do setor com o aumento de recursos e limites e com taxas de juros compatíveis”, diz Tomczyk.

Significativo no curto prazo, o volume de dinheiro alocado para estimular a lavoura brasileira – do total, R$ 116 bilhões são destinados às despesas de custeio – cresce de importância quando avaliado num
horizonte mais amplo. A curva de crescimento dos recursos é uma reta ascendente, que começa com R$ 8,5 bilhões na safra 1999/2000 e vem aumentando praticamente sem interrupção desde então. Nesse período, a produção, que chegara a 97 milhões de toneladas, cultivadas numa área de 40 milhões de hectares, praticamente dobrou, ocupando 56,4 milhões de hectares, evidenciando um enorme
ganho de eficiência agrícola. “Tamanho crescimento da produtividade só é possível com muita pesquisa e muito trabalho qualificado”, afirmou a presidenta Dilma. 

Esses recursos, destinados à financiar os grandes produtores e a chamada classe média rural, foram complementados pelos R$ 24,1 bilhões reservados à agricultura familiar, totalizando inéditos R$
180 bilhões. Trata-se de um volume 14% superior ao destinado aos pequenos produtores na safra passada e um crescimento de dez vezes nos últimos dez anos. Ao garantir as mesmas taxas de juros da safra anterior ( entre 0,5% e 3,5% ao ano), apesar da elevação dos juros no mercado, o governo ampliou o subsídio ao crédito. “Mais uma vez repito o que falo em todos os planos: se forem gastos os R$ 24,1 bilhões, garantiremos o acesso aos demais recursos”, disse a presidenta. No ano passado, dos R$ 21 bilhões anunciados, foram tomados R$ 18,7 bilhões pelos produtores. 

Com dinheiro assegurado para custeio e investimento em melhorias da produção e em equipamentos, os agricultores e pecuaristas brasileiros de todos os portes certamente estão mais bem preparados
para enfrentar as oscilações naturais do mercado, às quais se soma neste ano o calendário eleitoral. “Este vai ser um ano atípico e de maior volatilidade”, diz o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Antonio Alvarenga, preocupado sobretudo com as eventuais flutuações no câmbio. Segundo Alvarenga, se, na hora de vender, a produção o dólar mais alto turbina as receitas das exportações, ele é prejudicial na compra dos fertilizantes importados, que atendem 70% da demanda nacional. Para evitar ou reduzir os efeitos das variações, os produtores estão antecipando a compra desses insumos. Entre janeiro e abril, a venda de adubos aumentou 8,1%, alcançando 7,77 milhões de toneladas.