Que o café brasileiro já é um item muito bem-vindo nos Estados Unidos, não é novidade. Afinal, o país é o segundo principal destino do produto nacional, respondendo por 20% das vendas externas totais do grão. Só no primeiro semestre deste ano, as vendas para os americanos somaram US$ 2,6 bilhões, segundo dados do Conselho de Exportadores de Café (Cecafé). Esses números podem crescer nos próximos anos, já que os EUA pretendem escancarar suas portas para o produto brasileiro. Isso porque a bolsa de commodities de Nova York, a Ice Futures US, avalia incluir o grão brasileiro no contrato futuro do café arábica. A modalidade, que determina o padrão de qualidade do café negociado, é formada por um limitado grupo de países, entre eles México, Quênia, Nicarágua e Colômbia. O Brasil, maior produtor mundial do grão, está fora da turma. “O volume de produção de cafés despolpados no País era de cerca de 500 mil sacas anuais em 2004; hoje, está em torno de quatro milhões. A expansão é a principal razão pela qual a questão voltou a ser avaliada. Pela primeira vez, por iniciativa da própria ICE”, explica o diretor do Cecafé, Guilherme Braga. De acordo com o especialista, a inclusão do Brasil nesse grupo proporcionaria um amplo marketing positivo para a produção do País, além de valorizar as vendas de grão de maior qualidade, que hoje respondem por pouco mais de 10% da produção total. “É uma grande oportunidade de darmos um salto no mercado internacional e valorizarmos nosso produto”, diz Braga.

A aceitação ou não do produto brasileiro nesse modelo de contrato já passou por consulta pública, e uma decisão final pode sair nos próximos meses, ainda que não haja um prazo determinado.Mas a grande questão que emperra o tema é a resistência dos países concorrentes, que rechaçam a entrada do Brasil no grupo. A Colômbia e o México já se manifestaram contra o grão brasileiro. O mais curioso é o argumento usado: um possível aumento do narcotráfico. “A maioria dos nossos produtores são pequenos e vulneráveis ao mercado externo. A entrada do Brasil tiraria a sua competitividade e se eles não puderem se sustentar com o café irão procurar outras coisas, como o cultivo ilegal de coca, matéria-prima da cocaína”, alertou o presidente da Federação de Cafeeiros Colombianos, Juan Esteban Orduz. O argumento é rechaçado por Braga. “Essa é mais uma forma espúria de tentar deslocar a discussão do tema do plano comercial para o político”, diz o diretor. “Esse argumento já foi usado. Agora usado com mais veemência. Até quando o café brasileiro será refém da droga?”, completa, referindo-se à última tentativa frustrada de colocar o Brasil nesse bloco, feita em 2004.

Nem a proposta de estipular um desconto de US$ 0,07 a US$ 0,09 centavos em relação ao contrato referencial, parece sensibilizar os outros membros do grupo. A Guatemala, que já entrega na ICE e cujos cafés têm reputação internacional, considera que o desconto não é suficiente e teme que o Brasil possa inundar o mercado com sua grande safra, provocando queda nos preços. “Não existe uma estatística sobre a quantidade de café que o Brasil chama de lavados”, explica o presidente da Associação de Produtores de Café da Guatemala (Anacafé), Ricardo Villanueva.

Apesar da chiadeira, as chances de um acordo favorável ao Brasil são boas. Principalmente porque nenhum país-membro do grupo tem poder de veto e a própria bolsa vem se mostrando aberta à inclusão. “O volume de arábica brasileiro tem crescido e é bem-aceito pelos torrefadores. Acreditamos que o momento seja apropriado para rever a questão”, comentou o vice-presidente de desenvolvimento de produto da Ice, Tim Barry.