Para o consumidor brasileiro, só há pouco tempo a carne premium se transformou em sinônimo de produto de qualidade. Apenas na última década as marcas de carne começaram a ser criadas e se tornaram conhecidas, ainda que para um público restrito. No entanto, pouca gente sabe que para termos um produto superior no prato houve um longo trabalho de seleção genética. Pensar na cadeia da carne bovina, de ponta a ponta, é um mantra na boca do pecuarista Valter José Pötter, da Estância Guatambu, de Dom Pedrito (RS), vencedor do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL na categoria Genética de Raças Taurinas. “Carne de qualidade é uma evolução constante e sem trégua”, diz o criador gaúcho.

Pötter, veterinário que herdou na década de 1970 a criação de gado iniciada pelo pai no final dos anos 1950, sempre defendeu o associativismo entre os criadores e bônus pago pelo frigorífico para animais de qualidade superior. “O bônus para a carne de qualidade incentiva o pecuarista a criar bem”, diz ele. Como exemplo, Pötter cita o adicional de 8% pago pelos frigoríficos, sobre o valor da arroba de boi gordo, aos pecuaristas que integram o programa Carne Hereford. “Quem ganha mais pelo seu trabalho quer sempre produzir melhor”, diz Pötter. A Guatambu tem um rebanho de 1,2 mil matrizes da raça hereford e 1,9 mil da braford, além da criação de ovinos e produção de arroz e de vinhos finos.

O criador sempre esteve ligado a desafios. Pötter é um dos fundadores do grupo de melhoramento animal Conexão Delta G, criado em 1974 por um grupo de pecuaristas gaúchos. Hoje, o programa está presente  em 12 Estados, com um rebanho de 390 mil animais, criados em 85 fazendas. “É preciso união para resultados mais austeros e rápidos”, afirma Pötter. “O mundo tem pressa e por isso precisamos de mais escala na produção, de tecnologia e de padrão para a engorda dos animais cruzados com raças taurinas.” Na Guatambu, sem medo de errar, Pötter aposta nos grupos de manejo, nos quais os animais precisam se homogêneos para a melhoria do gado.

Faz parte da receita da criação o início precoce da vida reprodutiva das fêmeas e o abate dos machos até os 15 meses de idade. Os que não atingem essa marca são descartados. A mais recente aposta do criador na pecuária é identificar quais animais são mais resistentes a carrapato e às doenças provocadas por esse parasita. “Rebanho resistente implica menor uso de medicamentos e menos risco de resíduo na carne”, diz.