O valor de um boi verde
As lições deixadas pelo maior circuito de avaliação de animais nelore, realizado há 18 anos pela ACNB

Lote de machos nelore no curral de espera para abate na unidade da JBS, em Naviraí (MS) (Crédito: Guilherme Alves)

Todos os anos, no mês de agosto, bovinos criados em propriedades do Espírito Santo são reunidos na fazenda Paraíso, no município de Vila Velha. A propriedade pertence à família de Dalton Dias Heringer, fundador de um dos maiores grupos de fertilizantes do País, o Heringer, que, no ano passado, faturou R$ 4,8 bilhões. Daí, depois de engordados em confinamento, em vez de seguirem para um frigorífico escolhido por eles, o gado é abatido em uma unidade determinada pela Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), entidade que representa cerca de mil pecuaristas da raça que se dedicam à criação de animais de genética superior. Isso acontece há 17 anos na Heringer. Os animais abatidos são comerciais, filhos ou netos de gado superior. É justamente nesses rebanhos comerciais que a ACNB vem acompanhando o quanto de genética nelore tem sido transferida. E também quais os impactos no negócio, percebidos pelos pecuaristas que participam do chamado Circuito Boi Verde de Julgamento de Carcaça. No ano passado, o projeto completou 18 anos. “Nosso gado não tinha projeção, mas hoje a bezerrada da marca Nelore Heringer é muito procurada”, diz Victor Paulo Miranda, 46 anos, diretor de pecuária e sobrinho de Heringer. “A participação no circuito tem feito a diferença, porque a ACNB divulga os resultados.” O grupo Heringer, além de criar gado puro, tem um rebanho de 20 mil animais para abate, distribuídos também por fazendas em Minas Gerais e no Tocantins.

Desde que foi criado, em 1999, o Circuito Boi Verde já avaliou a produção de cerca de 500 fazendas. Nesse tempo, tornou-se uma referência para o gado criado de forma sustentável, a pasto ou terminado em confinamento. O circuito, que é uma agenda de abates programados pela ACNB, serve para avaliar as qualidades mínimas de um animal atrativo para a indústria frigorífica. Entre elas estão, por exemplo, o peso da carcaça, característica que mede a produção de carne. Outro item é a idade, para medir a precocidade do gado, e também o acabamento de gordura da carcaça, uma exigência da indústria para que a carne não endureça além da conta no processo de resfriamento. Desde 2001, os técnicos treinados pela ACBN já avaliaram 112,4 mil animais. É quase nada, se comparado à capacidade de abate da Marfrig Global Foods, controlada pelo empresário Marcos Molina. O grupo, que no ano passado faturou R$ 19 bilhões, abate 170 mil animais por dia. Mas, para a empresa, a conta é outra. Não por acaso, a Marfrig está no projeto há 15 anos, viabilizando as avaliações dos técnicos. “A demanda por critérios relativos à qualidade do produto final tem sido uma tendência constante e isso nos interessa”, diz Mauricio Manduca, gerente corporativo de compra de gado da Marfrig. Além dela, participam dos abates monitorados a JBS e o Frisa, com sede em Colatina (ES). Para os frigoríficos, o Circuito Boi Verde funciona como um mapeamento que indica em quais regiões do País pode ser comprado gado de qualidade, em geral para abastecer a demanda de suas marcas de carne e para exportação. E pagam mais por isso. Na Marfrig, as bonificações vão de R$ 2 por arroba, até R$ 5. Isso significa que uma fêmea nelore, criada no Sul do Pará, por exemplo, com peso acima de 16 arrobas e comde gordura uniforme, valia no fim do mês passado R$ 80 a mais do que uma não bonificada. Está aí o potencial. Só para registro, o Produto Interno Bruto da pecuária foi de R$ 433 bilhões no ano passado, de acordo com o Cepea/USP.
Para o zootecnista André Locateli, 42 anos, gerente executivo da ACNB, que acompanha o projeto Boi Verde desde a sua criação, o circuito tem cumprido um papel didático na pecuária. “O pecuarista tende a medir o status de sua produção, onde está acertando ou errando para entregar um animal ao abate”, afirma Locateli. “Parece um discurso velho, mas a valorização pela qualidade é uma busca que vai permanecer no radar do setor.” A qualidade do gado levado ao abate é uma fronteira ainda a ser vencida, embora se tenha avançado muito nas duas últimas décadas. O resultado das avaliações do circuito é um exemplo. Os animais com gordura mediana na carcaça, que vai de três milímetros a seis milímetros, passaram de 54% em 1999, para 65,4% no ano passado. Enquanto aqueles com pouca gordura caíram de 39% para 25%. O fato é que melhorar o nelore significa elevar a qualidade do gado brasileiro, já que em 80% do rebanho de 212 milhões de animais há algum grau de sangue da raça. “Cada vez mais a indústria frigorífica tende a pagar por qualidade”, diz Locateli. “Isso significa produzir com eficiência e rentabilidade.” No caso da Heringer, em busca de acertos, desde 2001, a empresa já mandou para serem avaliados no circuito Boi Verde 17 mil animais nelore.
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