TRECHO DA OBRA NO TOCANTINS: ao todo, serão 2.380 km de trilhos

Na pequena cidade de Guaraí, 170 quilômetros ao norte de Palmas, a capital do Tocantins, os trilhos da ferrovia Norte-Sul ainda não foram colocados. Dia e noite, os operários trabalham na terraplanagem do terreno, que, no estágio atual das obras, é o ponto mais avançado da estrada de ferro idealizada há duas décadas e que só agora começa a ganhar fôlego. Naquela região, antes mesmo que os trens comecem a rodar, já há um efeito concreto na vida de milhares de produtores agrícolas. O hectare da terra no Tocantins, que em 2001 valia cerca de R$ 1,5 mil, hoje não é comprado por menos de R$ 3,5 mil. “A Norte-Sul vai abrir um mercado de exportação, que hoje nós não temos”, comenta, entusiasmado, o empresário Antônio Machado, que produz soja e cria gado da região. Sua expectativa é que o transporte fique muito mais barato. “Atualmente temos que mandar a produção pelas rodovias até o Maranhão”, diz o produtor, que acredita que a ferrovia possibilitará também a chegada de novas indústrias e usinas de biocombustíveis ao Tocantins.

Assim como ele, milhares de produtores aguardam ansiosos a conclusão das obras da ferrovia. Através dela, os agricultores poderão escoar seus grãos até o porto de Itaqui, no Maranhão, que é o mais próximo de grandes mercados, como Estados Unidos e Europa. “A Norte-Sul abriu uma nova fronteira agrícola no País”, diz Marcelo Miranda, governador do Tocantins. “Os benefícios para a agricultura são muitos, pois os produtores vão ter um frete mais competitivo, o que já se reflete na valorização das terras próximas de onde ela passa”, conta.

Considerada uma das principais obras de infra-estrutura do governo Lula, a Norte-Sul é também um dos destaques do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. Seu traçado inicial previa a construção de 1.550 quilômetros de trilhos, cortando os Estados do Maranhão, Tocantins e Goiás, mas ela pode crescer mais e, quando concluída, deve ligar o Pará a São Paulo, num total de 2.380 km. A ferrovia está orçada em R$ 5 bilhões e deve ser concluída até o final de 2010. O trecho entre as cidades maranhenses de Estreito e Açailândia, que liga a Norte- Sul à Estrada de Ferro Carajás e permite o acesso a Itaqui, já está concluído e em operação desde 1996. Apenas neste trecho, o volume de carga transportado anualmente já chega a 4,9 toneladas, mas quando estiver concluída deve aumentar – e muito.

De acordo com a Valec, estatal responsável pela construção da ferrovia, o escoamento da produção local pode ultrapassar os 12 milhões de toneladas de carga quando a obra estiver pronta, mas desde já vem barateando o frete em até 30%, se comparado ao transporte rodoviário. De olho nisso, muitos produtores rurais já vêm trocando suas terras no Sul e Sudeste por propriedades no Tocantins, o que vem valorizando e desenvolvendo a região. A Norte-Sul deverá escoar a produção de grãos, cimento e biocombustíveis, além de facilitar a chegada e reduzir os custos de fertilizantes, adubos e combustíveis. Além disso, outras culturas também devem se desenvolver na região. “Nossa produção de frutas cresce a cada dia. A venda da carne para o Exterior também. Então, é tudo um conjunto de ações que estão diretamente ligados aos avanços da obra”, complementa o governador Marcelo Miranda.

De olho neste avanço, o governo federal já destinou R$ 458 milhões à obra nos últimos quatro anos, mas os investimentos não devem parar por aí. Para o trecho atualmente em construção, entre Araguaína e Palmas, de 358 quilômetros, será necessário mais R$ 1,2 bilhão, o que levou a Valec a recorrer a um velho modelo de captação de recursos: a subconcessão. Desta forma, os vencedores das licitações ficam responsáveis pela exploração comercial e conservação dos trechos durante trinta anos. Por R$ 1,478 bilhão, a Companhia Vale do Rio Doce ganhou em leilão a subconcessão de 720 quilômetros da estrada de ferro, que ligam a cidade de Açailândia, no Maranhão, a Palmas, no Tocantins. Sinal de que grandes empresas estão de olho neste negócio.