om exportações que deverão superar os US$ 23 bilhões neste ano, a soja é a grande estrela do comércio exterior brasileiro, ocupando a primeira posição da balança comercial. O Brasil é o segundo maior produtor mundial do grão. Apesar dos números superlativos, o País enfrenta o desafio de se posicionar melhor dentro do chamado complexo soja, composto também por farelo e óleo vegetal, para conseguir processar um volume maior internamente e agregar valor, em vez de vender apenas grãos aos compradores internacionais. Assim como em várias outras atividades no Brasil, o avanço dos produtos mais elaborados na cadeia esbarra em problemas de competitividade. Ou melhor, da falta dela. Desarranjos tributários acabam estimulando as vendas da soja em grãos em detrimento dos seus derivados, de maior valor agregado. E o resultado é a exportação de parte de empregos e de riqueza, em especial para a China. 

Enquanto a produção de soja deve alcançar um crescimento de 25% entre 2010 e 2014, considerando as projeções para este ano, a de óleo terá avançado 2% no mesmo período. Nas exportações, a diferença da evolução entre os dois é ainda mais notável: avanço de 57% em grãos e estabilidade no óleo nos últimos quatro anos. A situação só não é mais crítica porque o consumo doméstico continua crescendo, puxado pela expansão do biodiesel, que tem o óleo como matéria-prima, e pelo aumento da renda dos brasileiros nos últimos anos. O volume de óleo vegetal destinado ao mercado interno deve ultrapassar seis milhões de toneladas neste ano, com avanço próximo a 12% em relação aos  níveis de 2010. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), as empresas têm desviado parte da produção para o mercado interno. “Para ter mais óleo para usar no mercado doméstico e exportar, precisa aumentar o esmagamento. Como não tem crescido tanto, o aumento do consumo doméstico vem da redução da exportação”, afirma o gerente de economia da entidade, Daniel Furlan Amaral. Além da China, o País vem exportando, nos últimos anos, sua capacidade de processamento de grãos para a Argentina, que tem concentrado boa parte dos investimentos voltados para essa fase da cadeia, enquanto no Brasil há ociosidade nas unidades de transformação do grão. 

Mesmo diante das adversidades do setor, grupos tradicionais ainda encontram espaço para colher resultados positivos. Dados do segmento de óleo da Bunge mostram que a empresa conseguiu melhorar as margens no Brasil em 2013. Com a contribuição do País, um dos principais polos do negócio de óleo dentro da multinacional americana, o lucro operacional da divisão avançou 21%, para US$ 540 milhões. Por seus resultados no ano, a empresa foi a campeã do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2014 no setor Óleos Vegetais. Nesse segmento, as principais marcas da Bunge são Soya e Primor. Apenas com a primeira, a companhia estima, com base em dados da Nielsen, ter alcançado 28% de participação de mercado em 2013. 

Não é a alimentação, porém, a grande expectativa do setor para os próximos anos. O biodiesel deve ser o maior responsável por elevar a demanda de processamento de soja. O governo autorizou, em maio, a ampliação de 5% para 7% o percentual obrigatório de biodiesel a ser adicionado no diesel. O volume pode servir de alento para produtores como a Bunge, que tem os dois negócios (óleo e biodiesel), mas não deve ser suficiente para reconduzir o capital de volta ao setor. “As perspectivas para o ano que vem são de crescimento muito baixo de investimento no setor”, afirma Amaral.