A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) iniciou nesta semana uma “avaliação externa” da estratégia de combate à pandemia do novo coronavírus em Minas Gerais, a convite do governo estadual. Apontado em estudos e pela própria Agência Brasileira de Inteligência (Abin) como local com alta subnotificação, Minas tem visto os casos da doença aumentarem.

Dados da prefeitura de Belo Horizonte, do último dia 15, indicam que a ocupação de leitos exclusivos da covid-19 está em 82% na capital. Em 22 de maio, a taxa era de 40%.

A análise é a primeira feita pela Opas nas Américas durante a pandemia. A entidade é um braço da Organização Mundial da Saúde (OMS). A ideia não é constatar a subnotificação, mas avaliar a estratégia de combate de Minas e apontar melhores saídas, segundo autoridades que acompanham a discussão. A organização e o governo estadual não responderam aos questionamentos da reportagem.

Um grupo de 15 profissionais de saúde levados pela Opas a Minas deverá visitar unidades de saúde e fazer reuniões com gestores locais. Na última quarta-feira, 17, o Estado bateu recorde de mortes registradas em 24 horas, atingindo 537 óbitos, 35 a mais do que o acumulado até o dia anterior.

O governador Romeu Zema disse, na quinta-feira, 18, que, neste ritmo, haverá o “estrangulamento total” do sistema de saúde em um mês. Ele pediu aos prefeitos que “façam tudo o que possa ser feito”, além de anunciar que, caso a situação de alta nos registros da doença não melhore, poderá adotar medidas drásticas em pelo menos parte do Estado.

Dois dos maiores municípios mineiros, Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e Betim, na Grande Belo Horizonte, recuaram e determinaram o fechamento de pelo menos parte da atividade econômica local depois de adotarem o caminho da liberação. A capital Belo Horizonte não chegou a recuar, mas, desde 25 de maio, quando iniciou a reabertura, anunciou duas liberações, de um total de quatro possíveis.

Como revelou o Estadão, em alertas ao governo Bolsonaro, a Abin aponta Minas Gerais como exemplo de local com subnotificação de casos da covid-19. No fim de abril, a agência observou que os dados daquele Estado eram “pouco confiáveis”, pois o número de suspeitos acabava sendo 30 vezes maior do que o de casos confirmados.

Estudo feito pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) reforça elevada subnotificação da doença no Estado. De janeiro a abril, Minas registrou cerca de 200 mortos pela covid-19. No mesmo período, no entanto, houve 539 óbitos por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), uma elevação de 648%, segundo o estudo. Para os pesquisadores, é forte a hipótese de que mortes por coronavírus não tenham sido identificadas por falta de testes.