A batata-inglesa, o tomate e o feijão-carioca, os maiores vilões da inflação em março, perderam força no mês passado. Esses hortifrútis tiveram alta nos preços de 35,05%, 32,85% e 11,81%, respectivamente, em março. A boa notícia é que segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a inflação da capital paulista, os alimentos deixarão de pressionar nos próximos meses. “Tivemos sazonalidade”, diz Samy Dana, economista da Fundação Getulio Vargas, de São Paulo. “Por isso, os preços dos alimentos tendem a cair.” Ainda assim, de acordo com o economista, isso não significa que dê para relaxar. Para ele, a inflação será fechada dentro do limite máximo da meta: em 6,5%. “O governo federal não tem motivo para celebrar”, afirma Dana. Na sua opinião, o baixo crescimento previsto para a economia do País, que deve ficar na casa dos 2%, e a inflação em alta indicam falta de planejamento no médio e longo prazos.

Segundo Dana, não é de hoje que o Brasil vem amargando inflações perto da meta, e os preços no geral estão crescendo, inclusive os dos alimentos, que, embora continuem em patamares elevados, reduziram seu ritmo de expansão a 1,63%, ante 1,79% em abril. Enquanto isso, os preços do grupo saúde e cuidados pessoais aceleraram de 0,75% para 1,02%, e  os de vestuário passaram de 0,78% para 1,03%. Em outras palavras: a desaceleração dos preços dos alimentos garantiu a queda da inflação, que passou de 0,86% para 0,78%, entre a segunda e a terceira quadrissemanas de abril.

Mas há quem acredite num cenário oposto. De acordo com Geraldo Barros, professor da Esalq/USP, a pressão inflacionária dos alimentos não desaparecerá tão cedo, já que o comportamento dos preços dos alimentos está relacionado, além de fatores macroeconômicos, a oferta, clima e demanda. “É difícil achar um período em que não haja alguma alta importante no preço de algum alimento”, diz Barros. Ainda de acordo com ele, nos últimos anos os fenômenos climáticos extremos causaram fortes quedas na oferta, e isso tem se tornado mais frequente. “É arriscado, portanto, apostar no bom comportamento dos preços dos alimentos daqui para a frente”, diz Barros. 

No caso da carne bovina, segundo o professor, os efeitos da seca do início do ano ainda não terminaram. Isso vai restringir a oferta de animais para abate. “Os preços da carne devem se manter em alta, pois, embora o consumo esteja um tanto desaquecido em virtude dos valores atuais, as exportações estão com bom ritmo”, diz Barros. “E vem aí a Copa do Mundo, que deve alavancar o consumo, principalmente de hortifrutícolas, que com a seca também terão a oferta comprometida.”