Por Bruno Fonseca*

O agronegócio brasileiro tem enfrentado cenários desafiadores desde o ano passado. Agora, no início de 2022, o conflito no leste europeu, com a invasão da Rússia na Ucrânia trouxe, no primeiro momento, um impacto em relação aos preços dos fertilizantes. Com os custos de produção mais altos, os produtores já estão em busca de alternativas para atender os consumidores, que já começam a sentir nas refeições diárias.

Para se ter uma ideia de volume, apenas em 2021, o Brasil importou 9,3 milhões de toneladas de fertilizantes da Rússia para a produção agrícola nacional, sendo o nosso maior fornecedor do insumo com 23% do total das 41 milhões de toneladas. A agricultura nacional possui uma grande dependência da importação de fertilizantes, cerca de 80% dos fertilizantes utilizados em nosso país são de origem estrangeira.

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O principal fator que explica o país  ter uma alta taxa de importação e, na situação atual obriga as entidades agrícolas a buscarem alternativas, é a carência em nutrientes dos solos brasileiros, elementos essenciais para o cultivo dos fertilizantes, como o potássio, que o volume importado representa 98% do consumo nacional, além do nitrato de amônio, que é um nutriente igualmente essencial e fornecido em sua quase totalidade apenas pela Rússia.

O real impacto deve ser sentido no segundo semestre deste ano pelos produtores, que estarão em fase de compras para a próxima safra. Esse grupo terá que lidar com um maior custo de produção, caso as cotações se estendam para o mercado físico e dependendo do tempo de duração da guerra, sentindo diretamente os riscos de abastecimento e efeitos negativos nos preços.

Commodities como soja e milho dependem em grande parte do fornecimento de matérias-primas para fertilizantes utilizados nas lavouras. Em 2022, a soja deve render US$ 47,5 bilhões em exportações, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais. ​​Com isso, espera-se  que a guerra impacte ainda mais no valor dos alimentos ao redor do mundo.

Alternativas para os produtores

O cenário de crise oferece também oportunidades para o produtor brasileiro buscar alternativas aos fertilizantes tradicionais. Há, hoje, algumas opções disponíveis que podem substituir parcialmente os fertilizantes utilizados como:

  • Inoculantes, com microrganismos capazes de desempenhar atividades benéficas para o desenvolvimento das safras. No Brasil, já é bastante comum na cultura da soja e a aplicação pode suprir as necessidades de nitrogênio das culturas.
  • Organominerais, que apresentam maior concentração de nutrientes por se tratar de um produto mais estável e uniforme.
  • O pó de rocha pode trazer benefícios como aumento da fertilidade, tornando o solo mais produtivo e reduzindo custos de produção.
  • Por um período mais curto, também é possível analisar o solo e utilizar somente os nutrientes necessários, colocando menos fertilizantes para as próximas safras.

O contexto atual é extremamente desafiador e, por isso, o planejamento é ainda mais importante para que os produtores possam encontrar as melhores soluções para suas culturas.  Ao mesmo tempo, o momento abre novas possibilidades e olhares para o setor de fertilizantes brasileiro e para os formatos atuais, que tendem a sofrer uma transformação nos próximos meses.

*Bruno Fonseca é analista Sênior de Pesquisa e Análise Setorial para o mercado de insumos do Rabobank Brasil