A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) deu um importante passo para diminuir a resistência dos consumidores aos alimentos geneticamente modificados, os chamados transgênicos, com uma tecnologia que promete eliminar a manifestação da transgenia em frutos e sementes. No mês passado, finalmente, essa tecnologia, cujos primeiros estudos foram iniciados em 2005, foi patenteada, e a expectativa é de que até 2020 ela esteja no mercado. As pesquisas que podem revolucionar esse segmento acontecem nos laboratórios da unidade da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), em Brasília, capitaneada pela geneticista Juliana Dantas de Almeida, doutora em genética e melhoramento de plantas e responsável pelos estudos. “A técnica pode melhorar a percepção pública sobre muitas culturas, porque a planta continua sendo transgênica, mas a parte a ser consumida não”, diz Juliana. “Atualmente, a rejeição sofrida pelos transgênicos é uma barreira ao avanço das pesquisas.”

Essa tecnologia transgênica comercializada atualmente no mundo é conhecida como constitutiva. A proteína modificada no gene se espalha por toda a planta – folhas, sementes, frutos, raiz e caule –, independentemente de ela ter sido introduzida para evitar o ataque de pragas ou aumentar a resistência da cultura à falta de água. Já na nova tecnologia desenvolvida pela Embrapa, a proteína transgênica se manifesta apenas na parte da planta que precisa de defesa ou melhoria. No caso de uma variedade de soja modificada geneticamente para resistência a pragas, por exemplo, a atuação da proteína ficaria restrita às folhas, que é a parte atacada por lagartas. “A raiz da planta e os grãos não seriam afetados pela transgenia”, diz Juliana. A pesquisadora da Embrapa cita outras vantagens dos “promotores específicos”, como são conhecidas as sequências de DNA que definem como os genes inseridos no genoma da planta se manifestarão. Uma delas é em relação à produtividade da planta. Segundo Juliana, os promotores constitutivos atualmente utilizados fazem com que a planta gaste muita energia para mantê-los por toda a sua extensão. Já os específicos, que atuarão somente nas folhas, fazem o mesmo trabalho e resguardam suas forças para o aumento da produtividade.

A presença de fungos benéficos que colonizam a raiz das plantas é mais uma vantagem da nova transgenia. No caso da soja, esses pequenos parasitas promovem a fixação de nitrogênio na planta e, depois, o convertem em proteína. “A atual tecnologia destrói tanto as pragas maléficas quanto as benéficas”, diz Juliana. “Assim, o produtor terá que investir ainda mais em adubos para repor essas proteínas perdidas.” Nos próximos anos, até que esteja pronta para seu lançamento no mercado, a nova tecnologia passará por algumas validações em culturas como as de soja, tomate e cana-de-açúcar. “Temos mais três anos de pesquisa”, afirma Juliana. “Acredito que, em dez anos, os transgênicos da Embrapa estarão no mercado.” De 2005 até hoje, a pesquisa consumiu R$ 700 mil.