Realização: com o acesso ao crédito, a família Escobar melhorou o orçamento, o que possibilitou o ingresso da filha na faculdade

Os gaúchos Roni Machado Escobar e sua mulher, Elonara, estão felizes da vida. Hoje, com o dinheiro do leite, eles conseguem bancar a faculdade da filha Priscila. A sobra no orçamento da família é algo recente. Há seis anos, o dia a dia dos agricultores familiares era muito mais sofrido.

Naquela época, o esforço do casal no sítio era enorme e o rendimento baixo. Mas por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), aos poucos, eles foram modernizando a propriedade. Primeiro, adquiriram um tanque resfriador de leite, depois uma ordenhadeira e por último um trator. O fato é que para os Escobar o Pronaf caiu dos céus. “Antes, tínhamos que ajuntar muito dinheiro para conseguir comprar um maquinário e não sobrava para mais nada. Agora facilitou, porque pagamos o Pronaf ano a ano”, completa a matriarca.

Melhoria de Vida e de Renda: da esq. para a dir., Hélio Voges, família Calonego e Antônio Sales, todos benificiários do Pronaf

O exemplo da família Escobar é um das centenas de frutos do Pronaf, lançado em 1996, no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sob a tutela do então ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann. Inicialmente, o programa teve a finalidade de apaziguar a crise instalada pelos agricultores que não tinham acesso a financiamentos. Mas, no decorrer dos anos, o programa evoluiu muito. A prova fica evidente nos números. O crédito para a agricultura familiar saltou de R$ 2,3 bilhões para R$ 15 bilhões este ano, um incremento de 552% na oferta. As modalidades também cresceram. De início, havia só as linhas de custeio e investimentos. Hoje há mais de dez, entre elas Pronaf Agroindústria, Pronaf Mulher, Pronaf Jovem e Pronaf Floresta. “É o reconhecimento da pluralidade da agricultura familiar expresso na política pública. O crédito que uma seringueira no Pará precisa não é o mesmo que um jovem no Rio Grande do Sul necessita”, diz Guilherme Cassel, ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), em entrevista à DINHEIRO RURAL.

Não mais assalariado: o Pronaf permitiu a Durvalino Nogueira realizar um grande sonho, ser seu próprio chefe. Ele hoje cria frangos para a Perdigão

A ampliação das linhas beneficiou os irmãos Voges. Produtores de hortifrutigranjeiros em Santa Catarina, eles resolveram abandonar o sistema tradicional de cultivo depois que um deles, Amilton, foi internado por contaminação por agroquímicos. O ocorrido despertou a atenção de outros agricultores, que se juntaram aos Voges no projeto de migrar a lavoura para um manejo sustentável. Mas a transição de agricultura convencional para orgânica só foi possível devido ao Pronaf Agroecologia. “Graças aos recursos do Pronaf, pudemos ficar um ano sem plantar. Com isso, preparamos o terreno para o modelo agroecológico e organizamos a produção”, diz Hélio Voges. A mudança valeu a pena e não demorou para eles conseguirem escoar a produção. Os irmãos logo foram encontrados por uma rede de supermercados de Florianópolis que procurava fornecedores de orgânicos. A renda da família aumentou, já que os produtos agroecológicos têm um valor agregado bem maior.

O negócio deu tão certo que hoje os Voges estão à frente da Associação Ecológica Recanto da Natureza, que tem dezenas de pequenos agricultores como associados. Com a demanda crescente, eles acessaram novamente o Pronaf. Primeiro para comprar uma câmara frigorífica, depois para a aquisição de um caminhão frigorífico.

O Pronaf também foi responsável pela melhoria de vida da família de Durvalino Nogueira, produtor de Mato Grosso. Com o Pronaf Investimento, o ex-vaqueiro, proprietário de cinco hectares de terra, construiu um galpão para a produção de frangos. O empreendimento deu tão certo que a renda mensal saltou de R$ 300 para R$ 1,3 mil.

“Eu já ampliei o meu galpão uma vez e a Perdigão me fez uma proposta para ampliar mais”, comemora Nogueira. Já para Pedro Calonego, agricultor em Joia, no Rio Grande do Sul, o mérito do Pronaf é permitir uma vida digna. “Antes eu trabalhava como meeiro, ganhava R$ 150 por mês. Agora eu consigo tirar dois salários e tenho produtos para o autossustento da minha família”, diz. Calonego planta de tudo um pouco: soja, milho, feijão, mandioca, mas a principal fonte de renda vem das 20 vacas holandesas compradas com o dinheiro do Pronaf.

Um incentivo aos pequenos agricultores

A assistência técnica é o segredo do bom andamento do Pronaf, segundo o ministro Guilherme Cassel, à frente do MDA . Tanto é que de 2003 para cá os recursos destinados a esta finalidade saltaram de R$ 3 milhões para R$ 250 milhões. No ano seguinte, o Pronaf ganhou a modalidade de seguro agrícola para catástrofes climáticas. Em 2005, a boanova foi o programa de Garantia de Preço, uma espécie de âncora ao crédito. O Mais Alimentos, programa de modernização acelerada da agricultura que deu a possibilidade a muitos produtores de comprar seu primeiro trator, veio em 2008 como resposta à inflação dos alimentos. A última novidade foi a lei da alimentação escolar, que determina que 30% dos alimentos da merenda escolar sejam comprados direto do produtor.

O Pronaf Floresta é outro que tem dado bons resultados. A modalidade visa a implantação de sistemas agroflorestais, o que abrange o extrativismo florestal e o manejo sustentável. O agricultor cearense Antônio de Lima Sales é um dos beneficiários. “Não foi tão simples acessar o Pronaf, porque precisava regularizar a área e fazer um projeto, mas com apoio do técnico consegui”, diz. Hoje ele tem um viveiro de mudas nativas e consorcia árvores madeireiras e frutíferas com plantas herbáceas e leguminosas. Independentemente do personagem, o fato é que o Pronaf tem promovido três frentes: aumento da produção, aumento da renda e melhoria da qualidade de vida. E tudo isso com uma inadimplência mínima. “É de gloriosos 3%, enquanto a outra agricultura tem uma dívida de bilhões”, diz Cassel. Constatações à parte, o fato é que, em tempos de inflação de alimentos, o aumento da produtividade da agricultura familiar não poderia vir em melhor hora. Afinal, o setor responde por 70% dos alimentos da mesa do brasileiro.