Após quase dois anos de pandemia do novo coronavírus, personagens que tiveram destaque na crise sanitária vão tentar usar o tema como vitrine para conquistar votos. Tanto nomes que se notabilizaram pela defesa do distanciamento social e da vacinação quanto aliados do presidente Jair Bolsonaro, que criticam as mesmas medidas, já se lançaram na corrida eleitoral deste ano.

Um dos exemplos é a enfermeira Mônica Calazans, a primeira pessoa vacinada no Brasil, que nesta semana se filiou ao MDB para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados. “É uma excelente profissional e um exemplo de quem esteve na linha de frente da pandemia. Uma aposta do MDB para termos mais equidade e renovação na Câmara”, afirmou o presidente nacional do partido, Baleia Rossi (SP).

Sem nunca ter disputado uma eleição, o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, é outro que pretende estrear nas urnas após se tornar o porta-voz dos Estados nas discussões com o governo Bolsonaro. O advogado, que é secretário do governo do Maranhão, se notabilizou por contrariar o Ministério da Saúde, como na questão da exigência de prescrição médica para a vacinação de crianças. A pasta acabou recuando depois.

“Recebi o convite do governador (Flávio Dino, do Maranhão) e me filiei ao PSB. Devo ser candidato a deputado estadual”, disse o secretário ao Estadão. Em julho, ao se filiar, Carlos Lula declarou nas redes que “estreia na vida político-partidária para defender os avanços conquistados na saúde”.

Apoiadores de Bolsonaro que têm se posicionado na contramão de autoridades da saúde também querem usar a notoriedade adquirida na crise sanitária para se eleger. A médica Nise Yamaguchi, que no ano passado foi ouvida na CPI da Covid por pregar o tratamento da doença com substâncias ineficazes, anunciou em dezembro a intenção de ser candidata ao Senado.

“Não sei qual partido vou acolher, mas sei que serei uma pessoa independente. Vou ter uma candidatura independente. Qual vai ser o partido? O mais ético que encontrar, o mais correto que encontrar”, afirmou ela em vídeo divulgado nas redes sociais.

Também convocada pela CPI, a secretária do Ministério da Saúde Mayra Pinheiro, a “capitã cloroquina”, sinalizou que deve concorrer. Em julho do ano passado, ela publicou uma enquete nas redes sociais para testar o apoio de seguidores a uma eventual candidatura ao Senado. Hoje sem partido, Mayra foi filiada ao PSDB e tentou uma vaga na Câmara, em 2014, e no Senado, em 2018, mas não foi eleita.

‘POPULARIDADE’. Para o cientista político Bruno Carazza, professor do Ibmec e da Fundação Dom Cabral, o movimento é natural, a exemplo da enxurrada de policiais, juízes e procuradores que disputaram as eleições de 2018 na esteira da Lava Jato. “Como todo tema que domina as atenções da sociedade por um tempo, sempre surgem personagens que buscam surfar na onda de popularidade e se lançam candidatos. Com a pandemia não vai ser diferente.”

MINISTROS. Dos quatro ministros da Saúde que o Brasil teve durante a pandemia, apenas o médico Nelson Teich não teve o nome especulado como candidato neste ano. Seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, tem usado a experiência na pasta como forma de buscar relevância nacional.

Mandetta saiu do Ministério da Saúde em abril de 2020, no início da pandemia, por divergências com Bolsonaro. Ex-deputado pelo DEM de Mato Grosso do Sul, ele ainda não definiu seu destino eleitoral, mas ainda é considerado uma espécie de porta-voz dentro do mundo político quando o assunto é covid-19.

Ele chegou a ser apontado como pré-candidato do DEM à Presidência, mas, após a legenda se fundir com o PSL para formar o União Brasil, abriu a possibilidade de apoiar a candidatura de Sérgio Moro (Podemos). Se a aliança de Moro com o União Brasil se concretizar, Mandetta pode se tornar uma opção de vice na chapa do ex-juiz.

Atual titular do Ministério da Saúde, Marcelo Queiroga tem a candidatura defendida por Bolsonaro. A ideia é que o ministro, que é médico cardiologista, se filie ao PL para disputar o governo da Paraíba ou uma vaga ao Senado.

Já o general Eduardo Pazuello, o mais longevo ministro da Saúde da pandemia, foi cotado para disputar o governo do Rio, mas o movimento perdeu força após ele ser alvo da CPI da Covid e de denúncia na Justiça por sua atuação na pasta.

VACINA. O combate à covid-19 influencia ainda discursos de nomes já consolidados na política. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tem batido nessa tecla como forma de ganhar atenção para a disputa ao Planalto. Doria deu início à imunização contra a covid no País, em janeiro de 2021.

“Para o Doria a vacina será o que foi Plano Real para o FHC. A vacina está na casa de todos. Não tem como esquecer um tema desse na campanha”, afirmou o coordenador da pré-campanha do tucano e secretário particular do governador, Wilson Pedroso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.