Todos os dias, às cinco horas da manhã, o agricultor Natalino Blaschi já está de pé. Aos 71 anos, e ainda com muita vitalidade, Blaschi tira leite das vacas, cuida da criação de frangos, do cultivo de
hortaliças e legumes e organiza a rotina de sua propriedade de seis hectares, a metade deles arrendadas, localizada em São José do Rio Pardo, no interior paulista. Uma das maiores habilidades
de Blaschi é catar com a mão as ervas daninhas de sua lavoura de salsa, deixando a plantação impecável. O cuidado tem um sentido. Juntamente com o cultivo de cenoura e batata, há 27
anos esses produtos tem um destino certo: alimentar bebês e crianças de seis meses até três anos de idade. Toda a produção de Blaschi segue para a fábrica de papinhas infantis da subsidiária brasileira da suíça Nestlé, a maior produtora mundial de farinha láctea, localizada no município. É desse cultivo diferenciado que Blaschi tira o sustento de sua família, um negócio que já está nas mãos do filho, Augusto, 47 anos, e que segue a caminho para a terceira geração com o neto Dimas, 20 anos. “Juntos, fazemos de tudo na nossa terra. Espero trabalhar até os 100 anos, se Deus quiser”, diz o patriarca. “Ver filho e neto seguindo os meus passos, e gostando do que fazem, é muito bom.”

A duradoura parceria com a Nestlé tem favorecido a família Blaschi, que recebe apoio técnico e treinamentos constantes há quase três décadas. Mas essa relação aproximada se tornou oficial em 2006, quando a Nestlé criou Programa de Excelência Contínua (PEC) para produtores de vegetais e legumes. Além da batata, salsa e cenoura, fazem parte do programa culturas como as de feijão, mandioquinha, cebola, alho-poró e espinafre para atender  às linhas baby food e Maggi, de temperos, sopas e caldos. Com o projeto, nos últimos oito anos, os agricultores dessa região passaram gradativamente a incrementar o manejo de suas lavouras, elevando a produção. Em contrapartida, a Nestlé passou a controlar o fornecimento de suas matérias-primas, garantindo o padrão de qualidade às papinhas, que  precisam de cultivos livres de resíduos. A Nestlé opera 31 fábricas no Brasil, mas a de São José do Rio Pardo é a única que produz esse tipo de alimento. Em outras regiões, a multinacional apoia a cafeicultura, como o projeto Nescafé Plan, e também a pecuária leiteira, com o projeto Boas Práticas na Fazenda.  

O projeto de campo tem ajudado a Nestlé a alavancar seus negócios. No primeiro ano do programa de qualidade foram colhidos na região 1,3 mil toneladas de matériasprimas. Já no ano passado, a fábrica absorveu 7,4 mil toneladas e a demanda segue firme. Segundo Marino, a fábrica deve fechar 2014 com um processamento de oito mil toneladas desses produtos. Além disso, houve uma
redução de perdas na unidade causada pelo desvio de qualidade, de 44% do volume recebido, em 2006, para apenas 3% neste ano. “A essência desse projeto é conhecer bem toda a cadeia e eliminar as fases que não agregam valor”, afirma Marino. 

Para a família Blaschi, a mudança mais expressiva ocorrida recentemente foi a migração da colheita manual da salsa para a mecânica. Isso foi possível porque a Nestlé fez uma parceria com a
fabricante de equipamentos paranaense Vegedry para desenvolver um maquinário adaptado à cultura. A colhedora projetada foi comprada em 2011 por Natalino, em parceria com outros dois produtores integrados ao programa. Segundo seu filho, Augusto, o que demandava o trabalho de 15 pessoas, por três dias, para colher um hectare de salsa, passou a ser feito pela família em dois dias com o novo maquinário. “Tudo evoluiu bastante”, diz o filho. Os Blaschi adquiriram também uma nova plantadeira de salsa, que reduziu o tempo de plantio de três dias por hectare para apenas três horas.
“O que a Nestlé indica para a nossa terra, a gente aplica”, diz. “Bons conselhos e ajuda técnica fazem tudo dar certo.”

Outro agricultor satisfeito com o sistema de parceria é Lourival Fernandes da Cruz, 30 anos, que também cultiva batata, cenoura e salsa para a Nestlé. Ele ingressou na agricultura em 2010, com apenas dois hectares arrendados. No ano passado, já eram 40 hectares cultivados, com a entrega de 600 toneladas de produtos para a multinacional. “Eu não tinha experiência no campo, foi a Nestlé que me ensinou a ser agricultor e me ajudou a crescer.” Segundo Fernandes da Cruz, o apoio da Nestlé resultará numa ampliação ainda maior de sua produção, graças às vantagens do programa,
como o fornecimento de sementes selecionadas, que são financiadas pela Nestlé e pagas pelo produtor somente após a colheita. “Além disso, tenho bons preços garantidos por contrato”, diz ele.

Atualmente, um dos desafios da Nestlé é facilitar aos agricultores parceiros a colheita de cenoura, que ainda é manual. “Na Europa essa cultura é mecanizada há muitos anos”, afirma Olivier Marchand, gerente agrícola de cereais e hortifrútis da empresa. Para iniciar o processo de transferência de tecnologia, em outubro, a Nestlé importou uma colhedora que está em período de testes.
Caso a máquina se mostre adequada para o solo local, e seja aprovada pelos agricultores do projeto, a empresa vai intermediar a sua importação. “Esperamos que a máquina seja viável”, diz Marchand. “Ela será um grande avanço na região.” 

Outro tema que vem despertando a atenção de produtores, como Natalino Blaschi e Lourival Fernandes da Cruz , é a irrigação. A Nestlé está incentivando a economia de água a
partir de novas tecnologias, como a adoção de bicos de irrigação capazes de liberar gotas menores, por exemplo. “Com novas tecnologias, reduzimos o consumo de 138 mil litros de água por hectare- hora para 55 mil litros por hectare-hora”, conta Roque Junior, técnico de agricultura da Nestlé. Além disso, a empresa desenvolve pesquisas em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), de Piracicaba, para aumentar a eficiência da adubação e elevar a produtividade das culturas, em especial a salsa, que ainda carece de pesquisas. Atualmente, a colheita do tempero ocorre após 60 dias do plantio, sendo comum fazer até dois cortes adicionais 30 dias após a primeira colheita. “Experimentos já mostraram que é possível fazer seis cortes de salsa”, diz Roque Junior.