No momento em que o presidente da República, Jair Bolsonaro, decide se vai se filiar ao PL, de Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão, o vice-presidente Hamilton Mourão mandou um recado em vídeo da campanha de filiação do PRTB. “Nosso partido é um partido de direita, que não tem nenhum passado daqueles, tenebroso. Muito pelo contrário”, disse o vice em vídeo divulgado nas redes sociais.

A fala do vice ocorre em meio a contestações na base bolsonarista à filiação de Bolsonaro ao PL. Até a campanha eleitoral de 2018, o presidente era crítico de Costa Neto e do Centrão e chegou a se referir ao cacique do PL como “corrupto e condenado”.

O vídeo no qual Mourão convoca eleitores a se filiarem ao PRTB foi publicado nove dias depois de a presidente nacional do partido, Aldinea Fidelix, gravar uma mensagem convidando o presidente Jair Bolsonaro a integrar a sigla. Até o primeiro trimestre deste ano, o PRTB era comandado por Levy Fidelix, que morreu em abril.

Nas imagens, de cerca de 1 minuto, com o Hino Nacional ao fundo, Aldinea estende o convite a três filhos do presidente, Flávio, Eduardo e Carlos, a “grupos políticos e militância”. “Partido genuinamente da direita conservadora”, diz. “O PRTB está de braços abertos para recebê-los. Já estivemos juntos em 2018 e parece ser destino do PRTB estar à disposição para lutarmos pelo bem do nosso povo.”

A desconfiança da militância bolsonarista com a filiação de Bolsonaro ao PL levou o entorno do presidente a afinar o discurso. Para justificar a pretensão de Bolsonaro pelo partido de Costa Neto, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), primogênito do presidente, deu o tom do discurso.

“Isso é cicatriz, ele já pagou o que tinha que pagar. Está quite, zerado”, disse o senador, que participou das tratativas e endossou a preferência pelo PL. “Qualquer partido vai ter problemas. Eu não passei o que passei? Sou bandido por causa disso? Não dá para comparar com o que o Valdemar teve, mas ele cumpriu a pena dele. Vamos julgar novamente o cara?”

Na quarta-feira, 17, Costa Neto informou ter recebido “carta branca” dos diretórios estaduais para mexer em alianças regionais e facilitar a filiação de Bolsonaro ao partido. Um dos entraves era à entrada do presidente no PL era o apoio do partido já negociado com PT e PSDB nos Estados.

Um dos principais pontos de divergência entre a cúpula do PL e Bolsonaro é São Paulo, o maior colégio eleitoral do País. Foi por causa da aliança do PL com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e também pela disposição do partido em apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Estados do Nordeste que Bolsonaro decidiu adiar a filiação à sigla comandada por Costa Neto.

O PL compõe a base aliada que dá sustentação a Doria na Assembleia Legislativa e tem cargos importantes na área de infraestrutura. Integrante do Centrão, o partido tem o compromisso de apoiar o vice-governador Rodrigo Garcia, pré-candidato do PSDB ao Palácio dos Bandeirantes, mas Bolsonaro quer lançar para essa cadeira, em 2022, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.