O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de março mostrou pela primeira vez com clareza os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia sobre a inflação no Brasil. A avaliação é do coordenador do índice na Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Guilherme Moreira.

O IPC acelerou de 0,90% em fevereiro para 1,28% em março, acima da mediana da pesquisa Projeções Broadcast, de 1,23%, e a maior inflação para o mês desde 1995 (1,92%), logo após a implementação do Plano Real.

No resultado, Moreira destaca a aceleração do grupo Alimentação (2,26% em fevereiro para 2,43%), com aceleração dos industrializados (1,42% para 1,78%) e semielaborados (0,07% para 2,51%). “O pão francês subiu 3,07%, efeito do aumento do trigo, e o leite avançou 7,84%, efeito das altas de milho e antibióticos”, afirma.

O aumento dos combustíveis também pressionou o índice, com aceleração da gasolina (2,34% para 4,99%) e etanol (-2,18% para 1,13%). Na ponta, critério que indica a tendência dos preços, os itens sobem 9,63% e 6,0%, respectivamente, e sinalizam pressão para abril.

Difusão

A difusão do IPC arrefeceu levemente entre a terceira quadrissemana e a leitura mensal, de 74,95% para 74,51%, mas Moreira diz que o número ainda sugere um quadro de inflação disseminada.

“Praticamente três quartos dos preços estão subindo e, se você considerar que tem uma boa parte que só sobe uma vez por ano, praticamente tudo que não é administrado está em alta”, resume ele.

Expectativa

O economista espera desaceleração do IPC a 1,0% em abril, puxada principalmente pelo efeito sazonal da melhora climática sobre os preços de alimentos in natura. A projeção para o ano, no entanto, foi revista de 6,0% para 7,0%, com riscos para cima.

“Não me surpreenderia a projeção passar para 7,5% no mês que vem, porque esse aumento de preços que veio de fora começa a se espalhar para os preços internos”, afirma Moreira.