Duas autoridades do Fundo Monetário Internacional (FMI) avaliam, em texto para o blog da instituição, que o ambiente de juros baixos continua a apoiar os preços dos ativos nos mercados, mas advertem que aumentam os riscos nessa frente. Segundo a dupla, um avanço “grande a abrupto” dos juros poderia “potencialmente levar a uma onda de vendas de ações”.

O artigo sobre o tema é assinado por Tobias Adrian, diretor do Departamento Monetário e do Mercado de Capitais do FMI, e por Nassira Abbas, vice-chefe na Divisão de Monitoramento dos Mercados Globais e Análise.

Eles lembram que, para conter pressões inflacionárias, muitas economias começam a apertar a política monetária, mas notam que os investidores estão mais atentos aos juros reais, ajustados para a inflação. “Baixos juros reais induzem investidores a tomar mais riscos”, apontam.

Deve ser preciso apertar mais as políticas monetárias para conter a trajetória dos preços, afirmam eles, o que pode pressionar os preços de ativos. Adrian e Abbas veem uma “clara diferença” entre as expectativas formuladores de políticas sobre quanto os juros subirão e as dos investidores.

No caso dos EUA isso é mais óbvio, segundo eles, com os dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) prevendo que a taxa de juro atinja 2,5%, mais de 0,5 ponto porcentual a mais do que o retorno do juro da T-note de 10 anos indica.

Para eles, essa diferença é algo “significativo”, já que investidores podem ter de ajustar posições à frente. Além disso, o aperto pode ser maior do que o hoje projetado pelos bancos centrais com a persistência da inflação, advertem.

Caso todos os outros fatores se mantenham, o aperto na política monetária deve provocar um ajuste nas taxas de juros reais, levando a uma maior taxa de desconto e a preços mais baixos de ações, acreditam os economistas do FMI. Segundo eles, as atuais valorizações dos ativos globais “permanecem esticadas”.

Nesse contexto, Adrian e Abbas afirmam que há o risco de que uma forte alta nos juros provoque “uma queda significativa nas ações dos EUA”, particularmente em setores mais valorizados, como tecnologia.