O desempenho do consumo das famílias no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, com queda de 0,1% ante os três últimos meses de 2020 e recuo de 1,7% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, foi impactado negativamente pela inflação mais elevada dos alimentos, pelo aumento do desemprego no mercado de trabalho e pela ausência do auxílio emergencial pago pelo governo às famílias mais pobres, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“A inflação acelerou no primeiro trimestre e isso afeta negativamente o consumo”, afirmou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

No agregado, o PIB avançou 1,2% em relação ao quarto trimestre de 2020 e 1,0% sobre o primeiro trimestre do ano passado. Com o avanço, atividade econômica recuperou todas as perdas registradas no primeiro semestre do ano passado, por causa da pandemia de covid-19.

Embora as restrições ao contato social não tenham sido, no primeiro trimestre, tão severas quanto foram no início da pandemia, houve mais isolamento social do que no fim de 2020, destacou Palis. A pesquisadora disse que “não dá pra saber exatamente o que pesou mais” na dinâmica do consumo das famílias, se o impacto positivo do isolamento social menor do que o esperado, ou o impacto negativo da renda em queda e da inflação mais pressionada.

De qualquer forma, segundo a pesquisadora, foi a queda no consumo dos serviços que puxou para baixo a principal componente do PIB pela ótica da demanda.

“Tivemos aumento do crédito e isso ajuda o consumo”, acrescentou Rebeca Palis.

A pesquisadora do IBGE destacou ainda os efeitos da pandemia sobre a estrutura do consumo das famílias, com impactos diferentes conforme a renda. Com o isolamento social, houve um direcionamento geral dos orçamentos domésticos para o consumo de bens, em detrimento do consumo de serviços, que dependem mais de contato pessoal.

Só que as famílias mais pobres, que já consumiam mais bens do que serviços, são mais afetadas pela inflação de alimentos e pela ausência do auxilio emergencial. Por sua vez, as famílias mais ricas, que já consumiam mais serviços, foram impedidas de gastar, levando a um aumento da poupança. A taxa de poupança, com 20,6% do PIB, registrou o maior nível da série histórica do IBGE, iniciada em 2000.

Além de impactar o consumo das famílias, a inflação de alimentos afetou também o desempenho do PIB da indústria, segundo Palis. A indústria alimentícia, que vinha bem na retomada da economia ao longo do segundo semestre de 2020, foi a principal responsável por puxar a queda de 0,5% na indústria da transformação, na passagem do quarto trimestre do ano passado para os três primeiros meses de 2021.