Os puristas dizem que cerveja, para ser boa, tem de ser feita de malte, lúpulo e água de boa qualidade. Aqueles que não são tão radicais assim admitem a participação de “outros cereais maltados”
nessa mistura e até de ingredientes exóticos como o mel. Mas, independentemente do estilo e do jeito de apreciar a loira, uma coisa é certa: sem a agricultura, a primeira e até hoje uma das mais 
consumidas bebidas do planeta não existiria.

É nesse contexto que deve ser entendida a participação da área agrícola no core business das grandes cervejarias. Tanto isso é verdade que a Ambev, gigante com vendas líquidas de R$ 34,8
bilhões, em 2013, que emprega cerca de 50 mil funcionários, possui uma ambiciosa estratégia para o setor rural. “Se não fizéssemos nada nessa área, teríamos de continuar buscando cevada no exterior,
o que encareceria o custo final de nossos produtos”, afirma Vinícius Guimarães Barbosa, vicepresidente de logística e suprimentos da Ambev, eleita pela segunda vez a Melhor Empresa em Agronegócio Indireto no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2014. A companhia também ficou em primeiro lugar em Gestão Financeira.

O trabalho tocado pela equipe comandada por Barbosa não é dos mais fáceis. Primeiro porque, em razão da pouca tradição do Brasil no cultivo da cevada, a empresa tem de executar um trabalho de
parceria muito forte com os agricultores. “Na prática, precisamos convencer os agricultores a apostarem nessa cultura como uma opção de renda, no período de entressafra da soja”, diz o executivo. O esforço nesse sentido tem sido enorme, uma vez que se tratando de Ambev a escala é sempre gigantesca. Para cumprir a meta de se tornar autosuficiente em insumos agrícolas, a dona das marcas Brahma, Skol e Antarctica se impôs um prazo de dez anos. 

Para cumprir a meta estabelecida em 2007, Barbosa conta com uma aliada importante: a tecnologia. Por meio de parceria com a Embrapa, a Ambev espera desenvolver sementes de cevada cervejeira
(que é diferente da variedade usada como forrageira, utilizada na complementação da alimentação de animais), aptas a serem plantadas no Cerrado e até no Nordeste. Atualmente, existem fazendas experimentais no Cerrado baiano e no Centro-Oeste. “Eu chego a sonhar com o plantio e a colheita da espécie na Bahia”, afirma. “Isso iria facilitar bastante nossa logística.” Mas, enquanto esse dia não chega, o jeito é apostar no fortalecimento das áreas agrícolas tradicionais, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, além de fornecedores externos, como Uruguai e Argentina. A prevalência se deve
às características do clima mais propício para esse cultivar. 

Para dar conta da tarefa, a Ambev dispõe de um batalhão composto de cerca de mil funcionários, incluindo trabalhadores temporários e cerca de 30 técnicos agrícolas e engenheiros agrônomos. Cabe a esse contingente garantir que as 2,2 mil famílias que cultivam lavoura de cevada mantenham-se satisfeitas com o retorno dessa atividade. As ferramentas para isso foram reunidas no projeto Smartbarley, de alcance global, que mapeia as melhores práticas utilizadas na cultura, para replicá-las por aqui. O sistema inclui, ainda, uma parceria com a cooperativa Agrária, do Paraná, que possibilita o uso de um programa de monitoramento do clima, batizado de Radar, que inclui desde as condições de umidade do solo e do ar até a probabilidade de chuva em um período de dez dias subsequente à emissão do relatório. 

A combinação de tecnologia, investimentos e uma política de comercialização que leva em conta o relacionamento de longo prazo com o agricultor já está mostrando resultados. Neste ano, a área plantada deverá atingir 55 mil hectares, 25% superior à de 2013. Para 2015, a expectativa é chegar a 70 mil hectares. Mas a autossuficiência é possível? “Nossa meta é chegar a essa marca em 2017, com uma área plantada de 120 mil hectares”, afirma Barbosa. 

Embora a cevada seja um insumo importante, especialmente para uma empresa que possui uma posição dominante no segmento cervejeiro, a face agrícola da Ambev não se resume a ela. Na divisão de refrigerantes, a estrela maior, o guaraná Antarctica, depende dos frutos gerados pela terra. Nesse caso, porém, a situação é muito mais delicada, pois embute não apenas a capacidade de motivar e atrair parceiros, como também a arte de atuar em uma região sensível como a Amazônia, habitat natural desse fruto. Da totalidade da matéria-prima absorvida pela Ambev, apenas cerca de 10% vêm de sua Fazenda Santa Helena, no município de Maués, no Estado do  Amazonas. Por conta disso, o grande desafio é viabilizar o modelo da cevada: investimentos em tecnologia e no desenvolvimento de pesquisas, a cargo também da Embrapa e da Universidade Federal do Amazonas. 

Uma experiência semelhante é utilizada pela Klabin, que obteve a Melhor Gestão Corporativa do Agronegócio Indireto de AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2014. A companhia, que fabrica papel e celulose desde o início do século XX, instalou caldeiras movidas a biomassa em todas as suas 16 unidades para gerar energia. Com isso, a Klabin obteve um índice de 86,7% de utilização de fontes renováveis na sua produção, em 2013. Aliada a esse programa, a empresa tem como diferencial uma alta produtividade florestal. “Essa estratégia fez com que conseguíssemos nos consolidar cada vez mais
como uma empresa flexível e ágil”, afirma Fabio Schvartsman, diretor-geral da Klabin.