Outubro de 2009 deverá ser lembrado como o mês em que tudo mudou no mercado de etanol. Novidades não faltaram, a começar pela aposentadoria de Rubens Ometto, que deixou a presidência da Cosan para liderar o conselho de administração. Marcos Marinho Lutz, que ocupava a vice-presidência, assume a casa. Enquanto Ometto planeja suas merecidas férias, após consolidar um império que esmaga 60 milhões de toneladas de cana em 23 usinas, outros players também mexeram as suas peças. Num lance espetacular, a ETH Bioenergia, braço energético da Odebrechet, incorporou a Brenco, empresa fundada pelo ex-presidente da Petrobrás Philippe Reichstul. Juntas, elas se tornam uma das líderes de mercado com a incrível moagem de 37 milhões de toneladas. Incrível, porque ambas as empresas completaram recentemente três anos e praticamente só têm trabalhado com projetos greenfield, ou seja, construídos do zero.

Os detalhes do negócio não haviam sido informados até o fechamento desta edição. Contudo, segundo o que apurou DINHEIRO RURAL, a ETH se manterá com uma participação relevante nas operações, sendo a provável controladora do negócio. Todos os outros acionistas continuam, o que garante a presença de empresas como Ashmore Internacional, Tarpon Investimentos e a BNDESPar – do lado da Brenco. “Nossos parceiros também continuam, a exemplo da Sojitz Corporation e da Odebrecht, que é a nossa controladora”, afirma José Carlos Grubisich, presidente da ETH.

Essa negociação pode antecipar um provável IPO, talvez já em 2011. “Ganhamos musculatura”, disse. Dos R$ 5 bilhões iniciais para investimentos, ainda há praticamente metade do dinheiro disponível. Esse dinheiro continuará sendo investido nos próximos anos, cumprindo o plano de crescimento, e não entra na transação. Com isso, de uma só vez, a empresa ganhou três novas plantas absolutamente novas, projetadas única e exclusivamente para a produção de etanol e energia elétrica.

“O açúcar não faz parte dos nossos planos”, completa Reichstul.Com o acordo, segundo dados das companhias, a nova empresa será responsável pela produção de três bilhões de litros de etanol para a safra 2013/2014.

Serão gerados 2.500 GWh/ano de energia elétrica a partir da biomassa. Os planos de crescimento da ETH continuam acelerados. No dia 14 de outubro, a empresa inaugurou a Usina Santa Luzia, em Nova Alvorada, em Mato Grosso do Sul. A unidade tem capacidade para moer três milhões de toneladas. Até 2015, segundo Grubisich, a empresa deve investir mais R$ 6 bilhões no desenvolvimento de três polos de energia renovável, em Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo. “Essas plantas nascem focadas nos pilares de sustentabilidade econômica, social e ambiental porque, se o Brasil pretende ser um grande exportador de etanol, tem de ser exemplo em seu modo de produzir”, define.

Mas, enquanto os acionistas da Brenco e ETH Bioenergia comemoravam a criação de uma empresa líder no setor, o mesmo clima não era observado por parte das famílias Biagi e Junqueira Franco – controladoras da Santelisa Vale. Segundo balanço divulgado no início de outubro, a empresa acumula dívidas de R$ 2,6 bilhões, um valor seis vezes superior à sua capacidade de gerar caixa. Segundo auditores da PricewaterhouseCoopers, há dúvidas sobre a capacidade de a empresa continuar operando.

O controle da empresa passou no último mês para as mãos do grupo Louis Dreyfus Commodities. O novo presidente da empresa é Bruno Melcher, atual diretor-executivo da LCD. Com a incorporação, a empresa passará a produzir 40 milhões de toneladas de cana, modificando, mais uma vez, a relação de forças no mercado. Um dos principais acionistas da Santelisa Vale, Eduardo Biagi, não quis comentar as transações. Maurílio, um dos irmãos que saiu da sociedade anos atrás e construiu o seu próprio grupo de usinas, declarou que a Santelisa Vale errou ao tentar crescer mais.