Apesar dos flagrantes desacertos na condução da política econômica brasileira, nos últimos anos, o agronegócio do País avançou e vem se destacando como um dos principais fornecedores de alimentos do mundo, com papel fundamental na equação global da segurança alimentar. À exceção do setor sucroalcooleiro, que vem sendo duramente penalizado pela equivocada política energética atual, o governo tem proporcionado à agropecuária, de uma forma geral, uma política de incentivos que pode ser considerada satisfatória. 

Nos últimos dez anos, por exemplo, os recursos para o crédito rural foram ampliados em cerca de 120%. Os agricultores, respondendo aos estímulos, fizeram grandes progressos. Enquanto a área plantada cresceu 18%, a produção de grãos aumentou 74%, evidenciando significativo aumento da produtividade. Nesse período, o saldo da balança comercial do agronegócio evoluiu extraordinários 400%. São indicadores inquestionáveis. 

No entanto, não é razoável supor que o setor possa manter uma evolução positiva, em bases sólidas, enquanto a economia do País vai se deteriorando Independentemente de quem seja eleito presidente do País no mandato que se inicia em 1º de janeiro de 2015, é inevitável que promova ajustes. Eles são necessários para a economia retomar o seu crescimento, para os indicadores macroeconômicos se apresentarem mais saudáveis e, assim, aumentar a confiança dos investidores. 

O Brasil possui uma das mais robustas e avançadas agriculturas do planeta, mas isso não significa que o homem do campo não tenha seus problemas e uma pauta de reivindicações específicas. A questão indígena, as ameaças da legislação trabalhista e os encargos do novo Código Florestal são alguns dos problemas que mais afligem o produtor. As deficiências nos sistemas de transporte, armazenagem e exportação oneram os custos e prejuprejudicam a rentabilidade dos agricultores. O seguro rural é uma importante reivindicação do setor. Por isso é incompreensível a falta de disposição do governo federal em apoiar e ampliar esse instrumento de importância fundamental para garantir tranquilidade aos produtores. Mas também é preciso investir mais e melhor na educação, no conhecimento científico e na qualificação profissional do homem do campo. Essas são alavancas indispensáveis para o desenvolvimento de qualquer setor econômico. 

Outra questão que precisa ir para a mesa de discussão é a necessidade de se ter um plano de safra plurianual, que permita o planejamento das operações em um horizonte de médio e longo prazo. Além disso, é importante uma desburocratização geral no sistema de concessão de crédito. Sem contar que no campo das instituições, o combalido Ministério da Agricultura precisa ser fortalecido para atuar como coordenador das ações governamentais para o setor. 

No âmbito internacional, o País precisa perseguir o estabelecimento de acordos comerciais internacionais bilaterais, regionais e multilaterais, que reduzam tanto as barreiras tarifárias como as não tarifárias. Também em relação ao mercado internacional, é necessário adotar medidas que promovam uma maior competitividade do setor, visando a ampliar o acesso dos produtos brasileiros aos principais mercados consumidores, sobretudo aqueles com maior valor agregado. 

Cada governo que se inicia é uma esperança de renovação, ainda que seja um novo mandato para o mesmo presidente. Esse é o momento de os produtores rurais se articularem para conquistar um espaço político compatível com sua importância no cenário econômico e social do País. As perspectivas para o agronegócio brasileiro são excepcionais. As oportunidades são claras e é preciso aproveitá-las. O Brasil é uma nação que precisa crescer, proporcionar emprego e boas condições de vida ao seu povo. Mas o mundo tem fome e é aqui, também, que vão se produzir alimentos para abastecer uma população global em crescimento.