A pesquisa “Alfabetização em Rede: Uma investigação sobre o ensino remoto na pandemia de Covid-19”, que reúne 29 universidades do Brasil e atingiu 14.730 docentes da educação básica em 18 Estados do País, detalha o cenário de exclusão de alunos e dificuldades no ensino remoto durante a pandemia.

As informações qualitativas da segunda fase da pesquisa, ainda em andamento, apontam que, para 71,58% das professoras entrevistadas (90% da amostra da pesquisa são mulheres), a sala de aula na pandemia se reduz à tela de um celular com formação de turmas no WhatsApp.

A medida foi adotada pelas escolas para que não se perdesse o vínculo com as famílias, já que a plataforma Google Classroom (Google Sala de Aula), instituída pelas secretarias de educação como padrão para o envio de atividades, não teve ampla adesão dos alunos por diferentes dificuldades.

Para a coordenadora nacional da pesquisa, Maria Socorro Nunes, o uso do WhatsApp é um indício da precariedade de condições de conectividade, tanto dos estudantes quanto das próprias professoras. “Quando falamos de celular, nos referimos a todas as possibilidades, desde aquele que é dividido com vários filhos até um mais potente. Mas a maioria das famílias já indicou a dificuldade de ter um equipamento que possa ser utilizado pelas crianças”, afirma.

Na turma de 2020 da professora Rosilene Cunha da Trindade, de 43 anos, só 3 dos 28 alunos conseguiram ser alfabetizados. A falta de contato com as crianças é um dos motivos apontados pela docente, que atende crianças das séries primárias no sul de Minas Gerais. “A interação acontece mais com a mãe, passando a atividade para ela. Contato direto com a criança eu não tenho mais”, diz.

Com o ensino remoto, a interação aluno-professor deixou de existir em tempo real e ficou por conta da mediação da família, cenário que a pesquisa sobre alfabetização confirma. Segundo a psicóloga Maria Alice Junqueira, coordenadora do Letra Viva Alfabetiza, programa do Cenpec Educação, é preciso reinventar a alfabetização.

“Há que trabalhar no ensino remoto de uma forma diferente da que trabalhamos no meio presencial. Vai haver perdas, mas dá para contornar. Com a videochamada, é possível criar vínculos e conduzir práticas a partir de uma série de ferramentas lúdicas”, avalia Junqueira.

O estudo Alfabetização em Rede ainda demonstrou que as professoras consideram que a educação remota não atinge os objetivos escolares (17%), que não é adequada para a etapa de ensino com a qual trabalham (15%) e que gerou sobrecarga para os docentes e para as famílias (22%). Apesar disso, reconhecem que foi a opção possível para a educação na pandemia pela qual passamos atualmente (44%) e avaliam que tem sido importante para manter o vínculo das crianças com a escola (55%). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.