Mulheres na agricultura em todo o mundo, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, dizem que a discriminação de gênero persiste e que é uma barreira no dia a dia de quem está no campo com a tarefa de alimentar o mundo. É o que mostra um estudo realizado em 17 países a pedido da Corteva Agriscience, Divisão Agrícola da DowDuPont.

A divulgação da pesquisa aconteceu na mesma data (15 de outubro) em que se comemora o “Dia Internacional das Mulheres Rurais”, data estabelecida pela ONU (Organização das Nações Unidas) para ressaltar a importância das mulheres na agricultura e identificar as barreiras que as impedem de ter uma participação plena e bem-sucedida no agronegócio. O estudo entrevistou 4.157 produtoras rurais que vivem realidades distintas em cinco continentes diferentes, 433 delas no Brasil.

De acordo com a pesquisa, 90% das brasileiras têm muito orgulho de trabalhar no campo ou na indústria agrícola, número que excede a média global de países incluídos na pesquisa. O levantamento também mostra que elas sentem que suas contribuições são fundamentais para alimentar e apoiar suas famílias, comunidades e sociedade. “As mulheres entrevistadas apontaram os principais desafios de se trabalhar com agricultura hoje. Elas nitidamente têm orgulho do que fazem, mas isso não necessariamente se traduz em felicidade ou satisfação. Em nosso País, por exemplo, a maior parte indicou que a desigualdade de gênero ainda é um problema, sendo que a metade delas afirma que tem salários menores do que os homens que exercem funções semelhantes”, aponta Ana Claudia Cerasoli”, diretora de Marketing da Corteva Agriscience na América Latina.

No Brasil, 78% das mulheres acreditam que existe discriminação de gênero (mais do que a média global, que é de 66%). Além disso, 63% das brasileiras disseram que atualmente existe menos discriminação do que há 10 anos e 44% consideram que o País levará, em média, de uma a três décadas para alcançar equidade entre os gêneros. Um dado que chamou atenção é que quase 50% das brasileiras relatam ganhar menos do que os homens. Importante destacar que no Brasil esta percepção é pior do que nos demais países, cuja média é de 40%.

Outro dado revelado na pesquisa aponta que 89% das mulheres no Brasil gostariam de ter mais acesso a treinamentos. Na América Latina, em países como México e Argentina, os números são semelhantes, 86% e 84%, respectivamente. Ainda sobre educação, 87% das brasileiras e mexicanas gostariam de ampliar seu nível de formação acadêmica. As argentinas aparecem logo depois, com 85%.

“Entrevistamos produtoras de grandes fazendas em economias mais avançadas e também agricultoras de propriedades de subsistência no mundo em desenvolvimento. Tomando por base os resultados dessa pesquisa, conseguiremos acompanhar e medir os avanços de inclusão da mulher no agronegócio daqui para frente”, destaca Krysta Harden, Vice-Presidente de Assuntos Externos e Sustentabilidade da Corteva AgriscienceTM.

Principais barreiras para o crescimento

O estudo aponta que, embora as mulheres se orgulhem de estar na agricultura, elas percebem que existe discriminação de gênero: esse dado varia de 78% na Índia a 52% nos Estados Unidos. No Brasil, este índice também é de 78%. No universo das mulheres entrevistadas, apenas a metade se considera tão bem-sucedida quanto os homens; 42% das entrevistadas dizem ter as mesmas oportunidades que os colegas do sexo masculino, e apenas 38% afirmam poder tomar decisões sobre como a renda é usada na agricultura e no cultivo.

Quase 40% das entrevistadas relataram ter renda menor do que os homens e menos acesso a financiamento. No topo da lista de preocupações, estão a estabilidade financeira, o bem-estar de suas famílias e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

Muitas disseram que precisam de mais treinamento para aproveitar a tecnologia agrícola que se tornou essencial para o sucesso financeiro e a administração ambiental. Esse desejo de treinamento surgiu como a necessidade mais citada entre as entrevistadas para derrubar os obstáculos à equidade de gênero.

Como derrubar essas barreiras e alcançar a equidade?

A maioria das mulheres relatou progresso em direção à equidade de gênero, mas 72% das entrevistadas disseram que levará de uma a três décadas para atingir a igualdade plena. Cinco ações-chave, de acordo com as produtoras rurais, foram identificadas para remover os obstáculos à equidade:

− Mais treinamento em tecnologia (citado por 80%)

− Mais educação acadêmica (citado por 79%)

− Mais apoio – jurídico e de outras formas – para ajudar as mulheres na agricultura que sofrem discriminação de gênero (citado por 76%)

− Comunicar mais amplamente (ao público em geral) os sucessos e contribuições das mulheres na agricultura (citado por 75%)

− Sensibilizar o público para a discriminação de gênero na agricultura (citado por 74%)

“Embora saibamos que as mulheres representam quase metade dos agricultores do mundo, este estudo confirma que os desafios persistem, impedindo não apenas as mulheres na agricultura, mas também as pessoas que dependem delas: suas famílias, suas comunidades e as sociedades. Identificar a existência desses desafios é o primeiro passo para remover os obstáculos para as agricultoras rurais atingirem todo o seu potencial”, disse Harden.

Formação e apoio para vencer as barreiras da equidade no Brasil

A Corteva Agriscience™, Divisão de Agricultura da DowDuPont, está comprometida em envolver e apoiar as mulheres na agricultura em todo o mundo – desde aquelas que trabalham nas maiores fazendas e nas economias mais avançadas até as que atuam em propriedades menores voltadas à agricultura familiar e de subsistência. Diante de tudo o que foi revelado no estudo, a companhia resolveu investir, no Brasil, em uma parceria com a Fundação Dom Cabral e a ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio) para capacitar produtoras rurais para a liderança do agro no Brasil. A Academia de Liderança das Mulheres do Agronegócio, nome do programa, será lançada em mais detalhes no 3º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, no dia 23 de outubro.

Dados gerais da pesquisa

● Realizada entre agosto e setembro de 2018.

● Entrevistou 4.157 mulheres em 17 países distribuídas entre Ásia-Pacífico (24%), América do Norte (21%), América Latina (21%), Europa (19%) e África (15%).

● A maioria das mulheres entrevistadas trabalha com agricultura ou está envolvida em outras atividades relacionadas ao agronegócio.

● Dentre as entrevistadas estão: mulheres que comandam pequenas propriedades familiares até aquelas que têm empresas com mais de 300 funcionários.

● Os cargos das entrevistadas variam de proprietárias e gerentes, a funcionárias e trabalhadoras.

● A média da faixa etária das entrevistadas é de 34 anos.

● Países pesquisados: Ásia e Oceania – China, Índia, Indonésia, Austrália; América do Norte – EUA, Canadá; LATAM – Brasil, México, Argentina; EUROPA – França, Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido; ÁFRICA – Quênia, Nigéria, África do Sul.

● 58% das entrevistadas se diz feliz com seu trabalho, mas 51% diz que não é reconhecida, 41% não considera que tem voz ativa no negócio e 43% sente que pode tomar decisões sozinha.

Pesquisa – recorte Brasil

● 78% acreditam que existe discriminação de gênero no Brasil (mais do que a média global, que é de 66%).

● 80% das mulheres que responderam à pesquisa estão na faixa etária entre 20 e 39 anos.

● Maior parte das entrevistadas é dona ou sócia-proprietária (44%), 24% são funcionárias, 18% gerentes e 12% supervisoras.

● 55% são pequenas produtoras (de 01 a 19 funcionários).

● 90% têm muito orgulho do ofício no Brasil (mais do que a média global de 70%).

● 63% das brasileiras acreditam que atualmente existe menos discriminação do que há 10 anos (dentro da média global).

● 44% das brasileiras consideram que o País levará em média de uma a três décadas para alcançar equidade entre os gêneros.

● 49% dizem que ganham menos que os homens.

● 42% dizem que têm menos acesso a financiamento do que os homens.

● Para as produtoras brasileiras, família e estabilidade financeira estão no topo das preocupações. Por mais que tenham orgulho do que fazem, o trabalho aparece como uma das últimas prioridades.