Renovação. Essa é a palavra de ordem nos cerca de 15 mil hectares cultivados com pêssego no Rio Grande do Sul. Com o fim da colheita estimada em 160 mil toneladas, no mês passado, as 4,5 mil famílias produtoras da fruta no Sul do País se preparam para dar início à poda de renovação dos pessegueiros nos próximos meses. Trata-se de uma medida para eliminar todos os ramos que já produziram na safra atual e não irão produzir mais na próxima temporada, cuja colheita deve acontecer a partir de novembro de 2014. Nos cinco hectares com pêssego, dos 39 hectares que compreendem a propriedade do agricultor familiar Sérgio Bottin, na região de Bento Gonçalves, a tarefa diária daqui para a frente será essa. Ele, a esposa e os dois filhos vão percorrer o pomar para eliminar os ramos fracos, doentes ou mal posicionados. “Tudo isso para garantir também uma boa produtividade no fim deste ano”, diz Bottin, cuja colheita atingiu 200 toneladas.

De acordo com a Embrapa Uva e Vinho, nas regiões de Pinto Bandeira e Bento Gonçalves a produtividade média foi de 14 toneladas da fruta por hectare, ante oito toneladas por hectare na safra anterior. Os gaúchos, que lideram a produção nacional de pêssego, com 55% das estimadas 320 mil toneladas colhidas, devem faturar R$ 44 milhões com a produção deste ano. “Para garantir a comercialização, participo de um grupo de venda”, diz Bottin. “A maior parte do pêssego de mesa que produzo segue para São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.” Segundo o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), o abastecimento nacional de pêssego provém de cinco polos de produção: Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Paraná. O período de oferta da fruta começa em setembro, com a produção paulista, e termina em fevereiro, com a colheita gaúcha. A produção nacional, que ocupa mais de 21 mil hectares, movimenta R$ 400 milhões e gera mais de 2,5 milhões de empregos diretos e indiretos anualmente, de acordo com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS).

Nos pomares do Estado de São Paulo, o segundo maior produtor do País, com 40% da safra, a empreitada não será diferente. Nas principais regiões dedicadas ao pêssego, como Itapeva, Avaré, Campinas e Bragança Paulista, a ordem é igual à vigente no Sul do País: preparar o pomar para o próximo ciclo, por conta, digase, dos preços atuais, que estão 40% acima dos praticados em 2013. Isso porque houve uma quebra na produção devido a variações climáticas na fase de desenvolvimento da planta e com o fruto no pé. “São Paulo teve uma quebra de 25% na safra”, diz Waldir Parise, presidente da Associação de Hortifrutiflores de Jarinu, a 76 quilômetros da capital paulista. Os produtores paulistas de pêssego chegaram a conseguir pelo quilo da fruta de qualidade R$ 5. “Os pomares estão em fase de recuperação”, diz Parise. “A poda de renovação prepara os ramos para a próxima safra.” Ainda de acordo com o presidente da associação, os produtores de pêssego, enquadrados em 99% na agricultura familiar, utilizam sistemas de irrigação. “Isso garante a formação da gema e de galhos novos”, diz Parise. “Estamos otimistas para a próxima safra.”

O pêssego é muito apreciado no mundo e ocupa a oitava posição no grande pomar global de frutas, com 15,4 milhões de toneladas, cultivados em 1,4 milhão de hectares. A China é o maior produtor mundial, com cerca de 37% de participação na oferta mundial, seguida de Itália, Estados Unidos e Espanha. Esses países são os principais produtores internacionais, com uma participação superior a 65% da produção mundial. Na América do Sul, o destaque é o Chile, responsável por 2% da produção, seguido da Argentina e do Brasil, que contribuem, respectivamente, com 1,8% e 1,4%. “O consumo de pêssego vem aumentando no mundo. No Brasil, novas variedades, como a regalo, estão atraindo os consumidores”, diz Parise. “São variedades mais crocantes, saborosas, com coloração mais intensa e maiores.”