A gigante estatal verde-e-amarelo, que reina absoluta nos campos de petróleo, está ficando cada vez mais verde e sustentável. Empenhada em entrar no ramo alcooleiro, a Petrobras está “comendo pelas beiradas” e de forma bem discreta, mas sua fome é insaciável. Tamanha gula só deve se abrandar quando conseguir o que quer: a fatia de 15% do mercado de etanol. Pelas projeções da estatal, isso deve acontecer em 2013. Até lá serão investidos R$ 2,9 bilhões em participações acionárias em grupos já consolidados no mercado, logística e comercialização de etanol, no Brasil e no Exterior. No dia 15 de julho, a Petrobras Biocombutíveis, braço da estatal criado para investimentos em biodiesel e etanol, completou dois anos. Miguel Rosseto, presidente da subsidiária, comemorou o bom momento com nada mais, nada menos que 900 milhões de litros de etanol. Essa é a capacidade anual de produção que a empresa conquistou em apenas três meses, desde quando colocou o primeiro litro da marca BR no mercado. A meta é fincar a sigla defitivamente nos canaviais mundo afora e chegar em 2014 produzindo quatro bilhões de litros.

Plano audacioso: o presidente da subsidiária, Rosseto, quer 15% do mercado

Até o final de 2009, os investimentos da subsidiária eram, em sua maioria, voltados para o biodiesel, numa demanda de R$ 2,1 bilhões. Em dezembro, a Petrobras anunciou que daria um passo rumo ao etanol: a aquisição de 40,4% das ações da Usina Bambuí, em Minas Gerais, que pertence à Total Agroindústria Canavieira. O investimento de R$ 150 milhões projetou para cima os números da empresa e ampliou a capacidade de produção de 100 milhões para 204 milhões de litros ao ano. Em maio, chegou ao mercado o primeiro litro de etanol BR produzido lá. Rosseto disse que a subsidiária daria mais passos no mesmo rumo. “Futuramente, vamos investir em unidades de produção já em operação.” Não deu tempo nem da poeira baixar. No mesmo mês, o executivo anunciou a participação estratégica na Usina Guarani, do Grupo Tereos Internacional. O investimento foi de R$ 1,6 bilhão, em duas etapas, para obter 45,7% das ações. Segundo Rosseto, houve um processo de negociação com outros grupos antes do negócio ser fechado. “Foi uma parceria importantíssima para a consolidação da Petrobras como empresa de energia.” Para Jacyr Costa Filho, CEO da Guarani, a parceria abriu uma nova era de crescimento. “Teremos recursos e know-how para ser um player gobal, líder no mercado, em rápido crescimento”, disse. Com a Usina Guarani, a Petrobras atua também em países como Moçambique.

 

 

“A parceria com a Petrobras permitirá que a Usina Boa Vista alcance sua meta em quatro anos” Fábio Venturelli, CEO do Grupo São Martinho

Dois meses após selar a bilionária parceria, foi a vez de outro grupo entrar para o rol de parceiros: o tradicional Grupo São Martinho. Com aporte de R$ 480 milhões, a estatal passou a deter o controle de 49% das ações do grupo no greenfield Boa Vista, em Quirinópolis (GO), formando a Nova Fronteira Bioenergia. A ideia é ainda erguer outro greenfield também em Goiás, o SMBJ Agroindustrial.

Fábio Venturelli, CEO da São Martinho, acredita que a força da estatal dará fôlego para a empresa expandir em Goiás. “A parceria permitirá à Boa Vista alcançar sete milhões de toneladas de cana processadas em quatro anos”, disse o executivo. Miguel Rosseto indica que a escolha geográfica da Boa Vista e a construção da SMBJ podem ser o elo para outros sistemas da empresa, como os projetos de logística que incluem comboios próprios para o transporte de etanol pela Hidrovia Tietê-Paraná e a construção de novos dutos, que ligam as principais regiões produtoras, como Goiás, aos centros de distribuição.

Especialistas do mercado sucroenergético debitam à Petrobras um papel fundamental no desenvolvimento do etanol no Brasil. “Não é de hoje que a Petrobras é uma das principais parceiras do setor. Seu papel é fundamental desde o Proalcool, quando a distribuição do produto, tanto o hidratado quando o anidro, foi viabilizada para todo o território nacional. Naquela época, sem a participação da estatal, o Proalcool não teria saído do papel”, analisa Plínio Nastari, da Datagro Consultoria. “Hoje temos um cenário consolidado do etanol graças a essa participação da Petrobras no passado.” Segundo Nastari, a verticalização da estatal no setor é uma resposta ao mercado. “A empresa está seguindo a tendência de mercado, assim como a Shell, a BP. É muito positivo para o etanol brasileiro, dá mais credibilidade ao produto e pode abrir novos mercados.”

A BR NOS CANAVIAIS

Como a Petrobras está entrando no mercado de etanol

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