Às vésperas das eleições que vão definir os próximos governos estaduais e federal, o setor agrícola, que vem desempenhando papel de destaque na economia nacional, se mostra preocupado. Suas aflições foram externadas em um recente encontro da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com os presidenciáveis, no qual foi apresentado um documento com diversas solicitações e expectativas do segmento.

Fazem parte da pauta de solicitações da CNA pontos como prioridades de investimentos na infraestrutura, principalmente para escoar a produção pelas regiões Norte, Nordeste e Centro-  Oeste, através de hidrovias nos rios Amazonas, Madeira, Tapajós e Tocantins; aceleração de financiamento e concessão de rodovias e ferrovias para a iniciativa privada; autonomia do Brasil para negociar diretamente com outros países sem o aval do Mercosul; revisão da legislação da política agrícola, com diferenciação entre as regiões brasileiras; e ampliação dos programas de apoio à inovação tecnológica, industrial e agrícola.

De qualquer forma, independentemente dos resultados das eleições de outubro, os empresários do setor devem planejar seus próximos passos. Um levantamento realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE ) aponta que, para atender a população global de forma satisfatória, a oferta mundial de alimentos, obrigatoriamente, deve crescer 20% até 2020. No Brasil, esse aumento deve ser de 40%. Para avançar no tempo e vencer o desafio é necessário o planejamento estratégico dos setores produtivos, inclusive dentro das propriedades e das empresas ligadas diretamente a esses segmentos.

Na lista de entraves à obtenção de planejamento satisfatório, uma das falhas mais comuns é a falta de visão de longo prazo. O mercado de commodities agrícolas, pela sua própria natureza, apresenta ciclos de crescimento e de depressão, ao longo do tempo. Nesse contexto, é necessário aproveitar os períodos de crescimento para fazer reservas destinadas aos momentos menos favoráveis. Há setores, entre eles os da cana-de-açúcar, do café e da laranja, em que estabelecer uma visão de longo prazo é questão de sobrevivência, pois as decisões de hoje impactam os resultados dos próximos cinco ou dez anos.

Embora o cenário econômico atual exija das empresas o exercício de planejar o futuro, nos dias  de hoje ainda são poucas as que têm uma visão estratégica. Evidentemente, acidentes no percurso são naturais e desvios são necessários. É aí que um planejamento bem feito fará diferença, pois prever diversos cenários será determinante para definir em quais condições a empresa chegará – se vai chegar – ao final do caminho previsto. Não podemos deixar de dizer que o agronegócio tem se tornado cada vez mais competitivo, o que exige uma nova postura para que uma companhia permaneça no mercado. É preciso fazer mais com menos.

É impossível negar que a importância do agronegócio para o País é clara. A participação do setor na balança comercial brasileira no primeiro semestre deste ano foi de 44,4%, contra 41,3% no mesmo período de 2013, e 39,5% no de 2012. No entanto, os desafios dos dias atuais não são pequenos. Impactadas pelas incertezas do mercado, pela inovação tecnológica, por novos paradigmas de gestão e por mudanças velozes no campo da educação e do conhecimento, resta às empresas do agronegócio apostar em modelos mais eficientes de gestão, nos quais elementos como a governança corporativa, a boa gestão operacional e o pensamento estratégico façam parte de um planejamento consistente, visando um futuro saudável e sustentável, em um ambiente globalizado e cada vez mais competitivo.