As duas empresas investigadas no inquérito que tem o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), como alvo, também são suspeitas de lavar dinheiro para o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que controla o tráfico de drogas no Estado. A WMR Construções e a Distribuidora Águia, de material escolar, são listadas numa apuração paralela à do prefeito, a da chamada “Máfia das Creches”, que tem como foco saber se entidades responsáveis por administrar creches desviaram recursos da Prefeitura.

Como revelou ontem o Estadão, a Polícia Civil investiga movimentações financeiras suspeitas nas contas de uma dedetizadora de Nunes e de duas dessas entidades, que são controladas por ex-funcionários do prefeito – a Associação de Moradores Jacinto Paz e a Associação Amigos da Criança e do Adolescente (Acria). Tanto a WMR quanto a Águia fizeram depósitos para contas ligadas aos ex-auxiliares de Nunes.

No outro inquérito, que não tem o prefeito como alvo nem as duas entidades, a WMR e a Águia aparecem em uma relação de 14 empresas de fachada atribuídas à empresária Rosângela Crepaldi dos Santos. Segundo os investigadores, elas atuariam como intermediárias para dar caráter legal ao dinheiro com origem ilícita. Esta investigação é conduzida por policiais do 10.º Distrito Policial (Penha), na zona leste da capital, enquanto o inquérito envolvendo Nunes está sob os cuidados de uma equipe especial, do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania.

No esquema da “Máfia das Creches” identificado pela polícia, o PCC pagava, com dinheiro em espécie, notas fiscais emitidas pelas empresas ou impostos devidos por entidades que controlam creches. Em troca, recebia de volta parte do valor pago, por meio de transações bancárias.

A investigação teve como origem denúncia de que creches estavam sendo usadas para gerar guias de recolhimento de impostos relacionadas ao pagamento de previdência social à Prefeitura. Segundo os policiais, o imposto era pago em nome da entidade, que depois devolvia 60% do valor para os traficantes. No jargão policial, esta é uma das estratégias usadas pelo PCC para lavar o dinheiro do tráfico de drogas.

Ao longo das investigações, os agentes chegaram a um escritório de contabilidade usado por diversas entidades que controlam creches, o Fênix, que tem Rosângela como proprietária. No mesmo endereço da WMR funcionava outra empresa de Rosângela, o escritório de contabilidade Santos Costa. Segundo a polícia, seria uma funcionária dessa empresa a responsável pelo serviço de lavagem de dinheiro para o PCC.

O inquérito da “Máfia das Creches” não cita o prefeito em nenhuma das suas 2.599 páginas. Da mesma forma, a investigação contra Nunes não traz nenhuma referência à ligação entre as empresas citadas e o PCC.

Defesa

Questionado sobre a investigação, Nunes afirmou à reportagem, por meio de nota, que não tem ligação com as pessoas citadas no inquérito e que não responde por atos de terceiros. Informou ainda que a Associação de Moradores Jacinto Paz, um dos alvos do inquérito, foi descredenciada da Prefeitura em janeiro, mas não justificou a medida.

O Estadão procurou Rosângela Crepaldi dos Santos nos telefones que constam no processo judicial e ligou para o escritório de advocacia que a representa, mas ninguém atendeu às ligações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.