Após bilhões de investimento em maquinários e com a demanda de papel cada vez maior, 2022 deve ser um ano positivo para a fabricante de papel e celulose Klabin na visão do presidente da empresa, Cristiano Teixeira. O executivo pode até estar mais otimista com o futuro, mas não está nada tranquilo.

Segundo ele, a situação econômica global é ruim, e não se enxerga uma melhora tão rápida, ainda mais com a inflação subindo no mundo inteiro. O Brasil, por sua vez, está pior por conta do que ele considera uma má condução da política econômica. “Alguns podem até querer dizer que está melhor, mas não está”, diz Teixeira. “O Brasil deveria estar reduzindo o tamanho do Estado, fazendo a lição de casa.”

O executivo também é muito atuante nas discussões ambientais e enxerga que o País, apesar de carregar um bom histórico, está começando a sofrer os impactos de uma política controversa do governo do presidente Jair Bolsonaro.

Além de arranhar a reputação do País, ele vê riscos para os negócios com essa atitude. “No lado econômico, pode significar embargo e taxação. E já percebemos alguma tentativa disso na Europa”, afirma. Apesar disso, Teixeira acredita que o Brasil tem mais condições de alcançar as metas estipuladas na Conferência da ONU sobre Mudança no Clima (COP26) do que os países ricos. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

A Klabin é uma das empresas mais internacionalizadas do Brasil. Como o senhor analisa a recuperação global?

O mundo está muito instável, e o Brasil também. Eu estive na Suíça falando com um fornecedor que compra em vários países e que está reclamando muito da inflação. Nunca vi isso na minha carreira. Estamos sofrendo com o aumento da liquidez e o custo da logística, que está fazendo o mundo ficar de ponta cabeça. Hoje, o custo do frete é mais alto que o próprio produto. Precisamos ler muito para buscar na literatura uma compreensão do que está acontecendo. E os governos continuam falando em manter esse apoio por um período e não aumentar as taxas de juros. Tudo o que fugimos no passado, especialmente o brasileiro, se tornou uma realidade.

E no caso do Brasil? O ministro da Economia, Paulo Guedes, por exemplo, afirmou recentemente que o Brasil vai crescer em 2022 e que ninguém deveria apostar contra.

Só um maluco pode apostar em recessão e essa fala do governo é sem pé e nem cabeça. O que a gente vê é uma política fiscal absolutamente fora do controle e que não é sustentável para o longo prazo. Nós queremos ver política fiscal a partir da redução dos gastos do governo. Alguns podem até querer dizer que está melhor, mas não está. O Brasil deveria estar reduzindo o tamanho do Estado, fazendo a lição de casa. E isso tem trazido uma desvalorização do real.

O senhor esteve na COP26 e muitos especialistas apontaram que os resultados ficaram abaixo das expectativas. O senhor concorda?

Não encaro dessa forma. A COP é um acordo multilateral e atingiu uma porção de objetivos. E até a primeira impressão do Brasil, quanto ao desmatamento, foi bastante positiva com a meta de acabar com ele até o fim de 2028, sendo que antes era 2030. A criação do mercado de carbono também foi bastante positiva e não vi ninguém criticando isso. Saí satisfeito dentro de uma racionalidade do que foi atingido. É claro que existe uma decepção geral sobre o financiamento para a adaptação climática, pois se esperava mais do G7. Eu tenho um relativo romantismo sobre esse assunto, pois não existe bala de prata para os países emergentes e um fundo para a adaptação de economias mais frágeis se mostra importante. De qualquer maneira, foi plantada uma boa semente. O G7 reconhece que não fez o que deveria, mas o grupo aceitou continuar discutindo a questão de perdas e danos. Não sou pessimista com o que saiu da COP, mas sim com o ritmo da descarbonização.

O ritmo está muito lento?

As metas precisam ser atingidas, mas não consigo achar uma solução pragmática para a matriz energética da maioria dos países do Hemisfério Norte e, principalmente, da Ásia. Por isso, ainda sou cético em acreditar na velocidade da descarbonização tendo em vista a queima dos combustíveis fósseis. Por outro lado, no caso do Brasil, estou otimista em relação às metas. Não pelo comportamento da liderança que estamos vendo, mas porque elas são numericamente possíveis de se atingir. No mundo, não enxergo uma solução. Mas a curva do desmatamento tem que começar a cair imediatamente. Não dá para esperar.

As metas anunciadas, na sua opinião, são suficientes para isso?

Não existe meta suficiente: elas estão dadas. Mas eu digo que o nível de ambição não é o suficiente. Estamos indo para um aquecimento acima de 1,5º C, e as consequências disso são dramáticas. Por isso, eu sempre trago a palavra adaptação. Estamos discutindo como adaptar países frágeis e que não terão recursos para mudar o seu modelo de produção.

Como está a imagem do Brasil no exterior com relação a esse tema?

Saímos daqui com uma queda de 5% no desmatamento em agosto, e todos foram otimistas para a Escócia. Chegamos lá e vimos um bom comportamento do governo, mas voltamos com uma notícia que traiu a confiança de todos (o desmatamento na Amazônia aumentou 71% em setembro). O Brasil tem uma imagem dúbia. Historicamente, se você conversa com pessoas que compreendem melhor o Estado brasileiro, elas enxergam como um país de referência. Por exemplo, a base energética é hídrica, assim como boa parte da frota é a etanol. Eles sabem que o manejo florestal é certificado e o papel do Brasil na agricultura sustentável. Agora, circunstancialmente, enxergam falas inadequadas, que não estão alinhadas com a visão dos empresários. Esse desalinhamento é circunstancial e uma parte consegue relevar, mas sem dúvida atrapalha.

Atrapalha como?

Já atrapalha na questão da imagem e da reputação. No lado econômico, pode significar embargo e taxação e já percebemos alguma tentativa disso na Europa. E uma taxação não pode ser bilateral, tem de ser pelo âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio). O desmatamento no Brasil é local e feito por pessoas fora da lei, mas não pode se transferir isso para o Estado brasileiro como um todo.

E quais são as previsões para a Klabin?

O negócio de papel e celulose é de longo prazo e de capital intensivo. Tem de se preparar uma década antes. Portanto, é uma visão realmente muito mais fundamentalista. Estamos em meio a um grande ciclo de investimentos e que vamos entregar de forma efetiva no segundo trimestre de 2023. Estamos desalavancando o negócio e gerando caixa operacional mais rápido do que o previsto. Isso dá um cenário positivo para estar avaliando novos ciclos de investimento. O ano de 2022 será bom. Repassamos custos e mantivemos a margem, pois não tivemos como segurar o preço e o nosso produto tem uma demanda firme e estrutural. Então, a expectativa é boa para o ano.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.