A cidade de São Paulo chegou anteontem a 102% da população adulta vacinada com ao menos uma dose contra a covid-19, aponta o Vacinômetro. O índice ultrapassa 114% na faixa de 75 a 79 anos e 118% no grupo de 85 a 89 anos. Ainda assim, a vacinação não para: a cidade continua aplicando a 1ª dose em grande escala. Mas como isso é possível?

As respostas são principalmente duas: pessoas que recebem vacinas fora das cidades em que residem – o ‘turismo da vacina’ – e na defasagem dos dados, já que o último Censo Demográfico do IBGE foi em 2010.

Em levantamento de junho, a Fiocruz apontou que 15% dos vacinados haviam sido imunizados fora de seus municípios de origem. Os motivos vão desde a dificuldade em conseguir vacina na cidade onde se mora, por causa da falta de padronização dos calendários, até casos em que pessoas residem em determinado local, mas viajam a trabalho ou para visitar parentes.

Na época em que o estudo foi conduzido, a capital paulista havia destinado 257.159 doses para moradores de municípios vizinhos, como Guarulhos, Osasco, Santo André, entre outros. Também imunizou egressos de outras capitais, como Rio, Salvador e Belo Horizonte.

Um dos envolvidos no estudo, o sanitarista Christovam Barcellos conta que a percepção é de que a taxa deve ter superado 15%. Mesmo com o avanço da vacinação, não houve unidade nas campanhas pelo País, o que motiva o trânsito em busca de imunizantes. “A boa notícia é que as pessoas estão procurando vacinas”, reconhece.

Ele lembra ainda que mesmo em outras campanhas era comum que o número de imunizados ultrapassasse os 100% em alguns locais. Isso se deve ao fato de o SUS ter sido montado para ser universal e descentralizado, o que permite se vacinar fora do local de residência.

Além disso, Barcellos destaca a imprecisão diante da defasagem do Censo, cuja última edição ocorreu há 11 anos. Após sucessivos cortes de verba do governo federal, o Censo de 2020 foi adiado e posteriormente remarcado para 2022.

Sem comprovante. Para o secretário municipal de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, esses são fatores que dificultam acompanhamento mais preciso não só na capital, mas em todo País. Segundo ele, o fato de a própria divisão de doses pelo Programa Nacional de Imunizações ser feita com base no Censo 2010 faz as cidades seguirem também esse parâmetro.

Ainda assim, o secretário reforça que não é porque a cidade ultrapassou 100% de vacinados que a Prefeitura vai parar de aplicar a 1ª dose. “O que a gente faz? Vacina e registra o CPF e o comprovante de endereço. Tenho a impressão que a gente vai ter mais uma semana vacinando D1 (1ª dose) e aí cai bastante. E aí a gente chega a números mais reais das faixas etárias”, diz Aparecido, que destaca como primordiais a adesão da população e a capacidade da cidade de imunizar os moradores.

Como um motivo adicional para a cidade ter superado a marca de 100%, o secretário explica que até chegar à faixa de 50 anos a Prefeitura não pedia comprovante de residência. Para ele, esse pode ser um dos fatores que fez com que as faixas de 75 a 79 anos e de 85 a 89 anos tenham sido infladas por moradores de fora e extrapolado os 115%. Em populações mais jovens, as porcentagens não chegam a esses patamares. Os dados usados como base pela Prefeitura apontam que a capital tem 9.230.227 habitantes acima de 18 anos.

O coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt destaca a necessidade de avançar com a vacinação em todos os cantos do País. “Não adianta um Estado ou um município super vacinado e outros ao redor, não”, destaca. “É a mesma mensagem que a OMS (Organização Mundial da Saúde) tenta passar para o mundo: de que não adianta os países ricos se encherem de vacina enquanto tem países com menos de 1% da população vacinada, gerando casos e mais casos, e possíveis novas variantes”, diz.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.