Em 2008, os irmãos Daniel e Marco Guidolin, estudantes de zootecnia e administração, com 21 e 22 anos, respectivamente, viram-se diante de uma das decisões mais importantes de suas vidas. Naquela época, com a morte do pai, Fábio Guidolin, os irmãos assumiram as operações da Premix Nutrição Animal, fabricante de rações, suplementos e proteicos para bovinos, equinos, ovinos e caprinos, baseada em Patrocínio Paulista, no interior de São Paulo. Sua missão era garantir a sobrevivência da empresa, fundada em 1978. Cinco anos depois, pode-se dizer que eles venceram o desafio. Num mercado disputado por concorrentes com o fôlego de gigantes internacionais, como as holandesas DSM e Nutreco, a Premix deve faturar R$ 200 milhões neste ano, 25% a mais que os R$ 160 milhões obtidos em 2012. Agora, Daniel e Marco pretendem dar um passo adiante: transformar a empresa herdada do pai em um negócio mais diversificado, mas sem sair do segmento de pecuária bovina. “Vamos apostar fortemente no gado leiteiro daqui em diante”, diz Marco, diretor comercial da Premix.

As vendas de produtos para nutrição bovina da Premix representam 90% do negócio, mas apenas 10% do total é obtido com gado leiteiro, enquanto 80% correspondem ao consumo do gado de corte. Segundo Daniel, que responde pela diretoria administrativa da Premix, o mercado brasileiro de leite é um grande desafio, por ser um setor da economia altamente pulverizado. A Nova Zelândia, por exemplo, país que mais exporta leite no mundo, possui 13 mil produtores. O Brasil, no entanto, que ainda não consegue nem sequer abastecer seu mercado interno, possui 1,3 milhão de produtores. Desse total, 1,2 milhão ordenha animais que produzem um volume de leite inferior a 200 litros por dia, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É justamente na baixa produtividade do rebanho brasileiro que reside a grande oportunidade para a expansão dos negócios. “Podemos crescer buscando parte desse público que quer tecnologia e gestão afiadas para se destacar na produção”, diz ele.

Para chegar aos produtores dispostos a investir no rebanho, os irmãos Guidolin procuraram a francesa Danone, uma das maiores marcas de lacticínios do País, cuja fábrica está localizada a cerca de 250 quilômetros da unidade da Premix. Foi uma parceria ganhaganha, lembra Marco. A Danone indica aos seus fornecedores de leite os produtos da Premix, que, por sua vez, formula os alimentos para o gado de acordo com as necessidades da Danone, para que o leite tenha quali dade industrial. “Além disso, colocamos técnicos para assessorar os produtores na gestão da alimentação do gado”, diz Daniel.

O produtor Gianfranco Tomazini Boscatti, que possui 210 vacas leiteiras da raça holandesa na fazenda Recanto do Gigica, no município mineiro de Itapeva, conseguiu aumentar a produtividade diária per capita, de 25 litros para uma média de 30 litros de leite. Atualmente, com mais de 90 animais em produção, ele entrega à Danone 2,8 mil litros de leite por dia. Segundo ele, o aumento da produtividade veio com o acerto no manejo do gado monitorado com a ajuda de técnicos da Premix. Com a assistência, o produtor também passou a controlar melhor os custos dos alimentos oferecidos aos animais. De acordo com Boscatti, o concentrado, que representava em torno de 60% do preço do leite, cai para 40%, com um melhor gerenciamento. “Além de aumentar a produtividade por animal, reduzi o gasto com a alimentação”, diz Boscatti.

Para Ariovaldo Zani, vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), apostar na qualificação dos produtores é um caminho sem volta para a indústria do setor. O Brasil, apesar de produzir 33 bilhões de litros de leite por ano, ficando abaixo apenas dos Estados Unidos e da Índia em volume, ainda mostra números muito baixos de produção por animal. A média no País é de 3,8 litros por vacadia, segundo dados da Embraga Gado de Leite. De acordo com Zani, discrepâncias como essa fundamentam a previsão de que são esses bovinos que puxarão a expansão do setor de alimentação animal daqui para a frente. “Aves e suínos já demandam por 80% desse mercado e devem crescer mais devagar”, diz Zani. “Mas no gado leiteiro é diferente, porque a gestão alimentar só se tornou uma preocupação para esse setor recentemente.” As empresas de nutrição animal, que movimentam mais de R$ 10 bilhões no Brasil por ano, devem fechar 2013 com 67 milhões de toneladas de rações vendidas, ante 65 milhões de toneladas no ano passado.