Em geral, são as crises e não os problemas de longo prazo que obrigam as pessoas e os governos a agir. Atualmente, toda a atenção está concentrada na gestão dos assuntos mais imediatos. Todavia, devemos olhar também para o futuro, pois dentro de pouco ele será o presente. No agronegócio global, poucos países possuem a combinação invejável de terra, clima, água e nível tecnológico que caracteriza o Brasil. Ou seja, os fundamentos não poderiam ser melhores.  Porém, o País tem desafios estruturais críticos que o tornam frágil. E eles vão além da infraestrutura física e institucional. A falta de infraestrutura física é conhecida, mas pode ser resolvida dentro de alguns anos, ainda mais rapidamente com parcerias público-privadas. As infraestruturas institucionais da sociedade, como um todo, estão sendo modernizadas nesse preciso momento. Restam, assim, as deficiências culturais, nomeadamente nos domínios da educação e da formação profissional, e na ausência de uma estrutura de liderança, fatores indispensáveis para alavancar o potencial do País na próxima onda da agropecuária de precisão. Somente com esse esforço o Brasil ocupará um papel de potência global, utilizando o fornecimento de alimentos como arma de paz.

É fato que a economia do conhecimento embarcou definitivamente no agronegócio. Drones ampliam o papel do “olho do dono” e robôs, nas colheitas e nos confinamentos, engordam os bois e a conta bancária de quem se prepara para o novo ambiente de negócio. Nos países concorrentes, o cérebro (humano ou da inteligência artificial) substitui cada vez mais a tradicional força do braço. Gestão de processos e planejamento tornam menos importantes a coragem e a energia empreendedora. No País, por exemplo, o Agrishow, evento em Ribeirão Preto (SP), assim como as demais feiras, evidencia o avanço da tecnologia no campo. A produção rural depende, cada vez mais, da capacidade de seus operadores, sejam eles empresários, gerentes ou trabalhadores.


Tecnologia: drones para mapear as lavouras fazem parte do novo ambiente de negócio no campo

Nesse ponto, é preciso uma séria reflexão. Enquanto nos Estados Unidos há cerca de quatro mil engenheiros agrônomos, no Brasil são 120 mil agrônomos e 150 mil técnicos agrícolas. A pergunta é: como o maior país produtor de alimentos opera com menos de 5% do contingente de agrônomos brasileiros? O fato é que uma produção eficiente precisa de trabalhadores qualificados. No entanto, segundo o Censo Escolar Inep/MEC, ao longo da última década, o número de escolas brasileiras no campo sofreu uma redução de 31,5%. Um estudo da ONU mostra que dos jovens entre 15 e 25 anos de idade que não estão inscritos em faculdades, mais de 50% deles, na Europa, possuem diplomas profissionalizantes. Nos EUA são 40%. No Brasil, no entanto, menos de 10% estão em escolas técnicas. Sem formação adequada, como um jovem poderá pilotar equipamentos cada vez mais sofisticados?

Outra deficiência estrutural do setor é a falta crônica de lideranças. Isto vale para todos os ambientes, níveis e regiões. O líder estuda os cenários, planeja as mudanças e inspira as pessoas para continuamente aprender a aperfeiçoar atitudes e rotinas. A evolução da estrutura hierárquica de comando, em direção a um novo formato de trabalho em equipe, requer um novo tipo de líder. Nesse momento, a Sociedade Rural Brasileira começa a enxergar essa necessidade e passa a envolver jovens em posições chaves da entidade, além de formar redes entre lideranças associativas e regionais. É um passo importante na abertura de novos espaços para o diálogo de resultados. O momento da renovação do perfil político e econômico do Brasil oferece oportunidades para os jovens líderes, seja nas empresas, nos sindicatos ou nos partidos políticos. É essa geração que precisa plantar a semente do progresso para que a nação possa colher os frutos civilizatórios que a terra fértil oferece.