Uma espécie exótica de lagarta, a Helicoverpa armigera, que foi identificada pela primeira vez no Brasil em março, está protagonizando um pesadelo para os agricultores. A vilã já provocou prejuízos estimados em mais de R$ 1 bilhão nas lavouras de algodão, soja e milho nesta safra, com forte incidência na Bahia, além de Mato Grosso e do Paraná. O Ministério da Agricultura lançou, no fim de abril, uma Instrução Normativa que indica uma série de recomendações para controlar o problema. Mas, como não adianta chorar esse prejuízo consumado, a saída agora é formar uma força-tarefa composta pelas principais instituições de pesquisa do País para estudar a lagarta e impedir que ela volte com tudo na safra 2013/2014.

Uma rede de pesquisas deverá ser criada pelo ministério, com a liderança da Embrapa e a participação de universidades, cooperativas e da indústria de defensivos. “Precisaremos de uma grande mobilização para controlar essa lagarta”, diz Jefferson Costa, assessor da diretoria de pesquisa e da Embrapa. Segundo Costa, a Embrapa está convicta de que a única solução é investir no Manejo Integrado de Pragas (MIP). “Nós temos o domínio tecnológico do MIP, mas, na prática, ele ainda não existe no Brasil”, diz.

Diante da situação de emergência fitossanitária, instituições já se adiantaram nos estudos. Em abril, quatro pesquisadores do Instituto Matogrossense do Algodão, de Cuiabá, passaram dez dias na Austrália. Segundo o entomologista Miguel Soria, por conviver com a Helicoverpa armigera há mais de 30 anos e ser muito organizada no quesito manejo, a Austrália é um exemplo a ser seguido. “Para o manejo de resistência da praga, os australianos fazem um eficiente uso de área de refúgio, destinando 5% da lavoura ao cultivo de feijão guandu”, diz Soria. Várias informações técnico-científicas coletadas durante a missão serão divulgadas pelo instituto neste mês.

A Fundação MT, de Rondonópolis, também enviou pesquisadores para a Austrália, em março, e está realizando experimentos em laboratório. Segundo a pesquisadora Lúcia Viván, pelos estragos que a lagarta fez, num período de tempo muito curto, é uma praga preocupante. Ainda que o Estado não tenha registrado um alto índice de infestação, como o ocorrido na Bahia, os agricultores precisam se prevenir para a próxima safra. “Não sabemos como a praga vai se desenvolver no Brasil”, diz Lúcia. “Estamos monitorando o problema, mas o que temos ainda são estudos iniciais.”